A pandemia da covid-19, que levou a mudanças em vários setores da economia e no dia a dia da população, alterou também a pauta das reuniões dos conselhos de administração. A segunda edição do estudo "Conselheiros: dedicação de tempo dentro e fora das salas de conselho", realizado pela Better Governance e pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), mostrou que, no último ano, os membros de conselhos de administração dedicaram mais tempo para discutir o futuro das organizações. Segundo a pesquisa, em 2021, 49% indicaram usar a maior parte do tempo das reuniões ou o mesmo todo o encontro para falar de temas relacionados ao futuro da empresa. Antes, eram 39%.
Com mais olhos para o futuro, diminuiu o porcentual dos conselhos que dedicam mais tempo ou mesmo reuniões inteiras para tratar do passado. Foram 34% este ano, ante 46% em 2020, conforme o estudo. A pesquisa ouviu 194 conselheiros brasileiros, que atuam em 430 conselhos de diversos segmentos da economia, entre fevereiro e março de 2021. Dos entrevistados, 60% atuam em empresas de capital fechado.
No caso dos conselhos consultivos, houve um aumento do tempo dedicado a discutir o passado, conforme a pesquisa. Eram 39% na primeira edição do estudo e 43% na mais recente. O tempo dedicado a assuntos relacionados ao futuro caiu de 46% para 41% na nova pesquisa.
Planejamento estratégico
A sócia-fundadora da Better Governance, Sandra Guerra, diz que as mudanças geradas pela pandemia no ambiente de negócios exigiram uma capacidade de adaptação estratégica muito maior das organizações, o que pode explicar a inflexão em relação ao estudo anterior. Entre 2020 e 2021, o número de conselhos com reuniões dedicadas ao planejamento estratégico aumentou de 78% para 89%, nos conselhos de administração, e de 68% para 81%, nos conselhos consultivos.
A pandemia também influenciou o tempo dedicado pelos conselhos de administração para tratar de questões operacionais, ou seja, fora de sua alçada. O índice dos que investem mais do que 30% de seu tempo de reunião em temas pertinentes ao âmbito da gestão recuou para 17%. Em 2020, eram 37%. A queda é ainda mais expressiva no caso dos conselhos consultivos: neste ano, foram 25%, ante 60% no levantamento de 2020.
Na avaliação do gerente de Pesquisa e Conteúdo do IBGC, Luiz Martha, a principal hipótese para essa queda é a pandemia. Ele lembra que a discussão estratégica é inerente ao dever do conselho e uma exigência frente às mudanças do ambiente trazidas pelas instabilidades do momento. "Ao se abordar mais a questão estratégica, há menos tempo para temas fora da alçada do conselho", afirma.
Para além da pandemia, o amadurecimento dos conselhos em relação à gestão e às responsabilidades de cada instância também influenciou esse resultado, segundo Martha.
O levantamento mostrou ainda que o número de reuniões ordinárias na maioria dos conselhos de administração se manteve entre 2020 e 2021, em 10 a 12 encontros por ano. Afora isso, o estudo mostrou que 90% dos conselheiros de conselhos de administração não tiveram impacto em sua remuneração em decorrência da pandemia. No caso dos conselhos consultivos, foram 75%.
Esta nota foi publicada no Broadcast+ no dia 16/11/21, às 18h01.
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