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Bastidores do mundo dos negócios

Com planta em Pirenópolis, Minerva dividiria com JBS 77% do mercado de GO

Órgão antitruste determinou a venda de fábrica que pertencia à Marfrig

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Umas das unidades da Marfrig em Goiás, em Mineiros  Foto: Sergio Neves/AE - 15/12/2010

Condição imposta pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a Minerva seguir com a compra de ativos da Marfrig no Brasil, a venda de uma fábrica em Goiás vai impedir que, se reativada, a unidade em Pirenópolis (GO) colocasse duas empresas dominando perto de 80% do mercado de compra de gado para abate e desossa no Estado. Esse nível de concentração se daria entre a Minerva e a JBS, já que a operação deixará a Marfrig sem planta de abate num dos principais centros pecuaristas do País, isolando as duas concorrentes na liderança de mercado no Estado.

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Os apontamentos são feitos pelo conselheiro Carlos Jacques, responsável por relatar a operação bilionária no órgão antitruste. Em entrevista ao Broadcast, a primeira desde que assumiu uma cadeira no conselho em janeiro, Jacques explicou que esse risco levou o Cade a impor o desinvestimento para evitar que as duas empresas detivessem um poder de mercado tão grande a ponto de potencialmente poderem formar o preço de compra do gado no Estado a valores mais baixos, achatando a margem do pecuarista. Embora as líderes ainda precisem conviver com concorrentes que detêm 33% do mercado goiano de abate, essa fatia é pulverizada entre 13 empresas, em que a maior tem apenas 4% de fatia.

“Nós entendemos que a capacidade de rivalidade dessa franja existe. Ela é boa. Mas não era plena”, contou o conselheiro, que precisou imergir no universo da pecuária em 44 dias - tempo que transcorreu entre a chegada do processo em seu gabinete e o julgamento no dia 25 de setembro.

Minerva terá duas unidades no Estado

O “remédio” determinado pelo tribunal, que foi além do que recomendou a Superintendência-Geral, vai levar a Minerva a deter dois frigoríficos em Goiás, e não três, como previsto no acordo entre as empresas. Hoje, a Marfrig tem duas plantas de abate no Estado: em Mineiros e em Pirenópolis, que está desativada. Já a Minerva é dona de uma unidade em Palmeiras de Goiás.

O Cade estimou que, a partir do novo desenho, a compradora terá 28% de participação no mercado estadual. Junto aos 39% da JBS, as duas companhias terão 67%, número que poderia ir a 77% se a Minerva decidisse reativar o frigorífico de Pirenópolis, explicou Jacques. O cálculo sobre o efeito da planta tem margem de erro de 4 pontos porcentuais. “O tribunal entendeu que era interessante vender Pirenópolis para estancar o crescimento da Minerva em Goiás. E de alguma forma facilitar a entrada de alguém no mercado”, disse.

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A Minerva terá dois anos para se desfazer do ativo, com uma série de regras para a venda. Se não conseguir alienar, a companhia poderá reativar o frigorífico. Questionado se o órgão poderá adotar uma nova providência se isso acontecer, o conselheiro descartou. “Eu não creio que o Cade vai revisitar a operação. Se não conseguir vender, não terá violado a decisão do tribunal. A lei diz que, quando uma empresa cresce sozinha sem abusar, ela pode crescer”, ponderou.

Resistências em caso de Mato Grosso

Com a restrição, o tribunal considerou o problema de concentração em Goiás endereçado, inclusive com a concordância das empresas. O que gerou maior resistência das companhias durante as conversas prévias, por sua vez, foi o outro remédio imposto pelo Cade, neste caso para o mercado de Mato Grosso, onde a Marfrig irá manter uma unidade. Essa reação inclusive impediu o fechamento de um acordo entre o órgão e as companhias antes do caso ir ao plenário. “Lamentei que não houve o acordo, mas comprovei que não foi por culpa do tribunal. Eles não quiseram mexer na cláusula de Várzea Grande e não topamos fazer o acordo sem mexer nisto”, lembrou o relator.

O contrato entre as duas previa uma cláusula de não expansão da unidade da Marfrig em Várzea Grande (MT), regra considerada nula pelo Cade. Jacques classificou a proibição como uma cláusula de não competição “anômala” que, se autorizada pelo órgão, criaria um precedente arriscado no direito concorrencial. “E se a gente autoriza uma cláusula dessa e começa a virar moda os concorrentes combinarem suas produções?”, questionou.

No geral, o negócio entre a Marfrig e a Minerva prevê que a primeira não poderá abrir ou comprar frigoríficos de terceiros por cinco anos nos Estados afetados pela operação, cláusula de não competição mantida pelo Cade. Já limitar uma produção existente - como seria o caso de Várzea Grande - esbarraria num problema menos de mercado e mais conceitual. A previsão poderia abrir caminho para uma “invasividade” da Minerva sobre a produção de sua concorrente. “Foi um dever de cuidado de que acordos entre concorrentes sobre o volume de produção não devem ser estimulados”, explicou Jacques.

O conselheiro contou ainda que, embora tenha se debruçado sobre a verticalização no setor - quando uma empresa domina vários segmentos da cadeia, da criação do boi à indústria -, seu gabinete não identificou problemas que poderiam ser gerados pela operação nesse sentido. “Quando você olha para as verticalizações no setor, elas são muito discretas e estão em mercados ainda muito ‘nichados’, por exemplo, na carne ‘premium’”, disse.

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Este texto foi publicado no Broadcast no dia 01/10/2024, às 15h51.

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