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Bastidores do mundo dos negócios

Credores da Americanas aguardam balanços revisados para avançar com acordo

Varejista tem trato com credores para divulgar dados financeiros de cinco anos atrás

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O esforço para colocar os números alinhados até o fim de setembro foi um compromisso assumido entre a companhia, os principais credores e trio de acionistas de referência - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Dificilmente, o acordo e o plano de recuperação judicial de Americanas se torne público antes da divulgação das demonstrações financeiras auditadas da companhia, disse à Coluna uma fonte com conhecimento próximo do assunto. A companhia comunicou que até o fim deste mês vai publicar os balanços auditados de 2021 e 2022, mas não é deles que a fonte se refere. Existe uma tramitação para que sejam divulgadas os demonstrativos retroativos a cinco anos no fim de setembro. “Um plano divulgado antes disso pode perder validade. Será um balanço superdelicado”, acrescentou.

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O esforço para colocar os números alinhados até o fim de setembro foi um compromisso assumido entre a companhia, os principais credores e trio de acionistas de referência - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles.

Enquanto os balanços não vêm, a reestruturação financeira da Americanas está sendo desenhada em cima de um plano de negócio, que será uma referência do valor da companhia. Com essa visão, começa a ser dividido “o bolo”, dando a cada um dos credores uma “fatia”. O grande risco aqui é de inviabilização do atual plano se as demonstrações financeiras trouxerem premissas muito diferentes das que dão base ao seu atual desenho, diz a fonte.

Para fonte ligada à varejista, plano de recuperação contempla distorções

Por outro lado, fontes próximas à varejista argumentam que o plano apresentado contempla, sim, distorções entre os balanços divulgados anteriormente e a realidade da empresa, uma vez que, caso os números antes conhecidos fossem reais, a empresa não teria de passar por uma recuperação judicial. As maiores dúvidas em relação aos números que virão estão no comércio eletrônico da empresa que, se por um lado é essencial para o futuro de qualquer grande varejista nos dias de hoje, por outro, na Americanas, ao que tudo indica, é a raiz das fraudes que levaram ao rombo bilionário. O próprio Sergio Rial, ex-CEO da varejista que trouxe o rombo bilionário à tona, disse - em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados que investiga a história - que o digital parece ter levado a companhia à situação atual.

As investigações internas e as revelações da CPI também preocupam a empresa no mesmo sentido. A depender do conteúdo, podem deixar o auditor dos balanços de Americanas, a BDO, em uma situação de desconforto em relação aos pareceres que terá de dar aos números. A maior preocupação dos acionistas é se algum momento essas informações - da investigação do comitê independente e do auditor - vão se cruzar.

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Revelações podem comprometer inclusive o plano mais gravemente porque pressupõem a conversão de dívida em capital. Se ficar comprovado e dito que os acionistas de referência tinham conhecimento da fraude, os bancos podem ter dificuldade de se tornarem sócios do trio por meio dessa conversão. Até o momento, porém, evidências do tipo ainda não apareceram.

Por isso uma urgência cerca a divulgação dos balanços, já que quanto mais o tempo passa, maior é o risco de novos esqueletos serem tirados do armário. Especialmente porque as casas de investimento, que compraram debêntures de Americanas para colocar em seus fundos, pela responsabilidade com o recurso de terceiros, têm de justificar o investimento.

Lembrando que a própria operação de Americanas está ameaçada pela ausência de capital no negócio. Tanto que, o plano de recuperação estipula que alguns fornecedores serão irrigados antes dos maiores bancos credores pelo aporte de R$ 10 bilhões - que podem chegar a R$ 12 bilhões - a ser feito pelos acionistas. Por ora, a rede varejista tem conseguido sobreviver com o empréstimo DIP (“debtor in possession”, na sigla em inglês - específico para financiar empresas em recuperação judicial), bancado pelo trio de acionistas. Caso a briga se estenda para além de setembro, a Americanas terá de acessar mais R$ 500 milhões desse montante disponibilizado pelos sócios.

O DIP acordado é de R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1 bilhão já foi desembolsado. Na última atualização feita ao mercado, a empresa comunicou que encerrou o mês de julho com caixa disponível final de R$ 1,405 bilhão, 3,4% menor que o registrado no mês anterior, de R$ 1,464 bilhão. As informações constam do relatório de atividades mensais da companhia divulgado pelos administradores judiciais.

Americanas diz que plano de recuperação aponta ‘viabilidade total’ dos negócios

Em nota, a Americanas informou que “que seu plano de recuperação judicial foi atestado pelo laudo econômico-financeiro exigido por lei, que aponta a viabilidade da totalidade de seus negócios”. A companhia afirma ainda que, “de acordo com Fato Relevante emitido em 28 de junho, a BDO RCS Auditores Independentes foi contratada para executar a auditoria das demonstrações financeiras do exercício de 2022 e o refazimento de demonstrações financeiras do ano de 2021″. A Americanas diz ainda que “o foco da nova gestão é a saúde financeira da companhia, a geração de valor para os negócios físico e digital e o plano de transformação em andamento, que já tem ganhos no curto prazo, incluindo a rentabilidade”.

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Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 23/08/23, às 17h21.

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