A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a fabricante de equipamentos Weg firmaram uma parceria de cooperação tecnológica neste ano para inserir o grafeno na cadeia de produção do aço revestido. Os primeiros testes foram realizados em laboratório e alcançaram resultados positivos. Agora, a iniciativa caminha para realizar experimentos em escala industrial, que devem ocorrer até o fim de 2023 e vão determinar se existe ou não viabilidade econômica para o desenvolvimento dos novos produtos siderúrgicos utilizando o nanomaterial.
Se houver sucesso nos testes industriais, as empresas não descartam a possibilidade de criação de uma marca conjunta para fortalecer o posicionamento comercial dos novos produtos, mas a janela ainda está aberta sobre as alternativas de negócios. A CSN e Weg estão em compasso de espera até a finalização dos experimentos, uma vez que o processo está em fase piloto.
Por outro lado, executivos da CSN e Weg já se reúnem de forma periódica para acompanhar os resultados de perto por meio de um comitê conjunto. Eles debatem as possibilidades futuras para a tecnologia e apoiam as equipes operacionais à frente da iniciativa. Por hora, a prioridade está no desenvolvimento em escala comercial da aplicação do grafeno na superfície do aço.
Novo produto tem propriedades únicas
Lideradas pelas equipes da CSN Inova e a área de inovação da Weg Tintas, a colaboração entre as empresas poderá resultar na criação de um produto siderúrgico sem aplicação do cromo, um metal pesado e tóxico, que será substituído pelo grafeno - insumo com potencial sustentável e propriedades únicas, mas considerado caro e com poucas aplicações na indústria.
A substituição se daria durante a etapa de produção da resina, um material responsável por conectar o ferro na camada interna com o revestimento externo (que pode ser feito de diversos materiais, como alumínio ou zinco). Para além do benefício sustentável, o grafeno confere ao aço uma maior resistência física e durabilidade, aumentando o valor agregado do produto, uma vez que a vida útil do material é maior.
De acordo com o head de gestão de inovação e desenvolvimento de tecnologias na CSN Inova, Felipe Spiri, o grafeno aumenta de forma significativa a resistência do metal ao processo de corrosão. O desenvolvimento de um novo produto siderúrgico a partir do nanomaterial poderá favorecer os ganhos de margens (diferença entre os custos de produção e o preço de venda) para a CSN.
Utilização pode abranger setores automotivo, da construção e de linha branca
“Trata-se de um produto feito com tecnologia avançada, então há espaço para aumentar a margem. Um aço novo a partir do grafeno abre uma avenida de novas fontes de receitas e já identificamos uma alta demanda por materiais de maior qualidade. Existem potenciais clientes no setor automotivo, por exemplo”, afirmou Spiri.
Segundo Spiri, os mercados com maior potencial para a aplicação do aço à base de grafeno devem ser os dedicados a produtos de linha branca e os setores automotivo e de construção civil. Em termos geográficos, o Paraná também é o estado com possibilidade mais promissora em termos de demanda, em caso de sucesso nos testes industriais e operacionalização comercial.
O diretor superintendente da WEG Tintas, Rafael Torezan, afirma que o limite para a escala comercial será, no máximo, até o fim do primeiro semestre de 2024. Segundo o executivo, é possível dizer que existe um interesse muito grande na nova tecnologia. A Weg é responsável por desenvolver as formulações específicas para aplicar o grafeno na resina, que liga o aço com o material revestido.
Possibilidade de outras aplicações
“Se for utilizar o aço para a construção civil ou produção industrial, os requisitos podem não ser os mesmos, então em um projeto como esse ocorrem diferentes aplicações, conforme o requisito específico de cada produto”, disse Torezan. “Há um interesse e potencial grande neste projeto. Ele pode abrir oportunidades para aplicações do grafeno que talvez não tenhamos pensado”, diz.
Inicialmente, a oferta do grafeno será realizada por meio de uma startup chamada 2D Materials, baseada em Cingapura, que teve uma parte da empresa comprada pela Inova Ventures, um braço de venture capital da CSN. Segundo Spiri, a empresa consegue produzir o nanoproduto a um preço mais competitivo, o que suaviza o desafio de custos para a aplicação do material em novos produtos siderúrgicos.
O projeto é desenvolvido em dois centros de pesquisa e desenvolvimento que estão atuando juntos no Paraná. Na região, ficam localizadas a fábrica da CSN em Araucária e a unidade da Weg em Jaraguá do Sul. No Estado do Rio de Janeiro, uma parte da equipe da CSN em Volta Redonda também oferece apoio nas etapas de análise.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 28/08/23, às 12h23.
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