CSN Cimentos, Votorantim Cimentos e a chinesa Sinoma International Engineering fizeram ofertas pelos ativos da InterCement. Segundo fontes próximas às empresas, a CSN teria oferecido R$ 6 bilhões, a Votorantim teria chegado a R$ 6,5 bilhões (apenas por fábricas, sem ficar com as contingências) e a Sinoma teria apresentado uma proposta de R$ 4,5 bilhões.
É uma corrida contra o tempo. Uma proposta pela InterCement evitaria a cobrança antecipada de dívidas de, ao menos, R$ 8 bilhões ainda em maio. Apesar do curto espaço de tempo e da ausência de acordo de exclusividade com interessados até o momento, fontes ouvidas pela Coluna e envolvidas na transação afirmam que os esforços são para conclusão nesse prazo.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), segunda maior do setor, e a Votorantim Cimentos, líder no segmento, estão na disputa efetiva pelos ativos no Brasil. A CSN também estaria interessada nas operações da InterCement na Argentina.
Cimenteira da CSN é vista como favorita
Conforme fontes, a cimenteira do empresário Benjamin Steinbruch (CSN), é vista como favorita na transação. A oferta de R$ 6 bilhões, porém, está sendo negociado e precisaria ser elevada para atender aos interesses da companhia e de sua controladora, a Mover (ex-Camargo Corrêa).
A Votorantim Cimentos corre por fora para não perder a liderança de mercado. Alinhados aos objetivos estratégicos da companhia, executivos da Votorantim estariam circulando em Brasília para entender quais ativos teriam eventualmente de se desfazer para obter aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A Votorantim não estaria sozinha na oferta. Teria se juntado à Polimix (fabricante de concreto) e à italiana Buzzi (co-controladora da Brennand Cimentos) para apresentar a proposta de R$ 6,5 bilhões exclusivamente pelas fábricas da InterCement no Brasil. Elas dividiriam entre si os ativos, conforme seus interesses e restrições concorrenciais. A InterCement permaneceria com suas contingências - que seriam elevadas - e não seriam adquiridas pelo grupo.
Procurada, a Votorantim reiterou informações de comunicado ao mercado divulgado em 22 de fevereiro. A companhia informou na ocasião que não faz parte e não lidera nenhum consórcio para disputar a aquisição pela InterCement. “A companhia apresentou uma oferta individual e independente para a aquisição de parte dos ativos”, comentou a cimenteira na época.
Valor oferecido pela Sinoma é considerado irrisório
Segundo informações de pessoas a par das negociações, a chinesa Sinoma International Engineering também teria apresentado, este mês, uma oferta de R$ 4,5 bilhões pelos ativos da InterCement no Brasil. O valor foi considerado irrisório pela Mover, pois estaria bem abaixo do valor justo da cimenteira no País.
A Sinoma Overseas é o braço internacional da China National Building Material Group (CNBM), maior fabricante de cimento da China. O grupo Sinoma, que vem crescendo fortemente na África, também fabrica e vende equipamentos para a indústria cimenteira.
O favoritismo da CSN, por outro lado, diria respeito à possibilidade de o negócio ter chance de ser mais rapidamente aprovado pelo Cade, por conta da menor sobreposição de ativos. Além disso, a própria companhia vem se preparando para crescer no segmento e ao mesmo tempo cumprir a promessa feita ao mercado de não alavancar mais o balanço do grupo.
Para isso, a CSN deve eventualmente buscar sócios para as operações de energia ou mineração, que entrariam com participações menores. Para o futuro, está nos planos ainda uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) na divisão de cimentos, como um projeto voltado para o longo prazo.
Dívida antecipada
Segundo fontes, todas as partes estão trabalhando para tornar a venda possível. Em 8 de maio, vencem obrigações financeiras com Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, resultantes de três rolagens de empréstimos tomados no ano passado. Os três bancos têm US$ 584 milhões em debêntures com vencimentos de 2025 a 2027, que podem ser antecipados para maio.
Na última rolagem da dívida, no fim de 2023, com os três bancos, foi inserida uma cláusula que determina que o vencimento seria antecipado para maio, caso a companhia não conseguisse renegociar US$ 549 milhões em bonds (títulos de dívida em dólar) que vencem em 17 de julho. A empresa não conseguiu renegociar.
Um executivo de banco afirma que mesmo com o prazo apertado, fechar a venda da InterCement até maio é possível. “Se não sair a venda, pelo menos haverá um acordo, o que permite prosseguir”, diz ele, sob anonimato.
As negociações em torno das propostas giram na distribuição dos recursos entre as diferentes partes. Um pedaço do dinheiro vai para a Mover, controladora da companhia; outro, para o pagamento das dívidas; e uma terceira parte, para a operação.
Empresa é a terceira maior do Brasil
A InterCement é a terceira maior em operações no Brasil, com participação de mercado em torno de 14% em 2023. O posto de vice-líder foi tirado dela pela CSN Cimentos, após as aquisições da Cimento Elizabeth (2021) e da LafargeHolcim (2022). Com isso, a companhia de Steinbruch elevou sua fatia a 21% das vendas no mercado brasileiro. A Votorantim Cimentos permanece na liderança, com cerca de um terço de participação das vendas totais no País.
Eventualmente, o órgão antitruste poderá exigir alguns remédios anticoncorrenciais, inclusive para a CSN Cimentos, uma vez que passaria a ter uma forte concentração de mercado em Minas Gerais. Uma das possibilidades é que o grupo tenha de vender ativos ou encerrar operações na região para seguir em conformidade com o Cade. Superado esse problema, uma eventual transação levaria a cimenteira de Steinbruch a liderança do mercado brasileiro de cimento, com cerca de 35%, tirando da Votorantim Cimentos décadas de liderança.
A Sinoma, por meio de aquisições de ativos, entrou nos últimos anos na fabricação de cimento na China e busca se internacionalizar.
São 15 fábricas no País
A unidade brasileira da InterCement opera 15 fábricas, que têm capacidade de produção de 17,2 milhões de toneladas ao ano e estão em quatro regiões do País. Cinco dessas fábricas estão hibernadas, sem produzir.
O mercado cimenteiro no Brasil é controlado por 22 grupos empresariais, dos quais 11 são responsáveis por 95% das vendas, que somaram 62 milhões de toneladas no ano passado. O setor tem enfrentado dificuldades por conta da política monetária ainda restritiva no País, que tem prejudicado o nível de lançamentos imobiliários. Outro fator são os baixos investimentos em infraestrutura, um segmento que em outros países é grande consumidor de cimento. A indústria registrou retração no mercado nacional em 2022 e 2023. Para este ano espera melhora de 2%.
Procurados, CSN, Itaú, Bradesco, BB, InterCement e Mover não comentaram.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 18/04/24, às 12h39
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