Nesta semana, em que boa parte da população brasileira se surpreendeu com o alerta vermelho do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sobre o calor excessivo, uma pesquisa evidencia o tímido investimento em ações climáticas por grandes empresas. Mais da metade das 206 multinacionais ouvidas no levantamento da consultoria OliverWyman direcionam menos de 5% dos investimentos operacionais (Capex) a iniciativas para mitigar os efeitos da atual crise climática.
O dado contrasta com o fato de as corporações brasileiras, europeias e americanas entrevistadas demonstrarem preocupação com o assunto. Para 58% das empresas, o tema da descarbonização é relevante e um desafio “altamente preocupante” e uma “ameaça existente” para os negócios até 2030 - ou seja, dentro de seis anos.
Alguns motivos foram apontados pelo levantamento “Climate Action - Aligning Corporate And Climate Interests” para esse descasamento entre o discurso e a prática. A ausência de metas claras e/ou políticas públicas foi indicada por 56% dos entrevistados como a maior barreira para definir investimentos e financiamentos robustos para descarbonização.
Mercado é trava ao aumento de investimento
“O movimento voluntário das empresas existe, mas tem um limite. Porque, a partir de um certo ponto, fica inviável economicamente [aumentar o aporte em ações climáticas]”, afirma Guilherme Xavier, sócio da Oliver Wyman e líder da plataforma de clima e sustentabilidade da consultoria. Xavier pontua que se uma empresa está investindo em alguma ação climática, como por exemplo descarbonização, mas o concorrente não, surge um desequilíbrio econômico - e com reflexos comercias que impede o aumento desses investimentos.
“O próprio mercado não deixa essa empresa avançar porque o padrão de consumo não mudou e o investidor continua cobrando um retorno que deixou de ser possível dar”, afirma Xavier. O especialista diz que os números da pesquisa refletem o comportamento médio das empresas abordadas e que há setores e companhias com investimentos maiores, como, por exemplo, em fontes de energia renovável, como a solar.
Outros 55% responderam que ainda não integram a ação climática nos negócios por não haver um “argumento comercial para os processos estratégicos, financeiros e operacionais do negócio”. A falta de um marco regulatório é uma das maiores barreiras para o tema avançar nas companhias.
Políticas públicas e regulação são necessárias
Em entrevista à Coluna de Nova York, onde participou da Climate Week e do Brazil Climate Summit, Xavier comentou que a iniciativa do governo federal desta quinta-feira (21/09) de iniciar a formulação de uma taxonomia sobre investimentos sustentáveis é muito bem-vinda. “Quando criou o Green Deal , a Europa também criou uma série de ferramentas, inclusive essa”, disse, acrescentando que o Brasil precisa discutir a sua própria taxonomia para o empresário, o investidor e o agente financiador no País terem certeza que o investimento que está sendo feito está alinhado com a estratégia local.
Iniciativas como essa, além de regras e políticas claras, são ferramentas importantes para o aumento do investimento na área climática. “A política pública e regulação vão nivelar, direcionar e permitir que as empresas que lideram esse movimento [ainda voluntário no Brasil] continuem investindo e que aqueles que ainda não [o fazem] comecem”, disse.
No levantamento, os acionistas foram citados pela maior parte (60%) dos entrevistados como os interlocutores que mais a pressionam a diretoria das empresas por alguma ação climática. Em seguida, vêm os clientes corporativos (54%), a alta direção e o conselho de administração (43%). Os consumidores são pouco vocais, sendo indicados por apenas 21% dos entrevistados como pessoas que pedem mudanças por causa da crise climática.
A OliverWyman realizou a pesquisa em julho deste ano. A pesquisa foi feita com empresas associadas ao Climate Group, parceiro da consultoria e organizador da Climate Week em Nova York. Mais da metade das empresas participantes atua globalmente e os setores mais representativos são indústria manufatureira (26%), varejo e indústria de bens de consumo (19%), tecnologia e mídia (11%) e serviços financeiros (10%).
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 21/09/23, às 18h44.
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