A menos de um mês para o fim de todos os prazos possíveis para que a InterCement evite uma recuperação judicial, as negociações da CSN com a empresa e seus credores seguem amarradas. A percepção de interlocutores que acompanham as negociações é de que ainda há vários detalhes em relação aos quais não existe consenso, muitos deles com impacto negativo no porcentual de recuperação dos créditos dos bancos.
Uma das frentes de dúvida é se a CSN avançará no processo de compra, diante de uma briga com os detentores de títulos emitidos no exterior (bonds) travada na Holanda, jurisdição onde esses papéis foram emitidos. Esse grupo questiona potenciais prejuízos causados aos credores pelo desenho do plano de recuperação.
As saídas seriam ou trazê-los para dentro das negociações ou pagar essa dívida. Até agora, esses credores com bonds ficaram de fora das conversas. Se nada se resolver até o dia 16 de dezembro, a InterCement poderá entrar em recuperação judicial.
Uma fonte lembrou que além dos mais de R$ 2 bilhões que serão desembolsados para a liberação de garantias (ações da CCR) que entraram na renovação de dívidas no passado, será preciso descontar o valor de hidrelétricas que também aparecem como garantia, além do impacto tributário da dívida reestruturada.
Negociação vai até ‘último minuto’
Os dois lados “convergem nos detalhes”, disse outra fonte próxima à negociação. Bancos e a CSN negociam desde 1º de maio para destravar a venda e a crença é de que essa “novela” vai prosseguir até o último minuto. O dia 16 de dezembro é o prazo final tanto da extensão do acordo de exclusividade de compra assinado pela InterCement e pela CSN, quanto a data-limite para a apresentação do plano final de reestruturação de suas dívidas com adesão de 50% mais um dos credores. Não há plano se a CSN desistir de ficar com o grupo cimenteiro da Mover, ex-Camargo Correa.
Quando levou o plano à Justiça, a InterCement contava com a adesão de mais de um terço dos créditos, tendo como signatários o Bradesco e o Itaú Unibanco. Para chegar aos 50% mais um exigidos pela lei, terá de contar com o Banco do Brasil, que junto aos outros dois bancos são os principais credores, com R$ 5,9 bilhões em créditos contra o grupo. Até agora, o BB não se manifestou.
Outra fonte ouvida afirmou que a composição do pacote de garantias que a Mover terá de entregar para a CSN está pacificado. Entre elas está o compromisso assumido pela Mover de pagamentos de certas contingências (fiscais, tributárias e outras) da InterCement. Elas são representadas por ações que a Mover têm da CCR e praticamente são o único ativo que a companhia teria para entregar.
Dívida soma R$ 22 bilhões
A Mover tem 14,86% da CCR, sendo 10% no bloco de controle, o qual não quer abrir mão. Portanto, estaria disposta a dar em garantia 4,8%. De acordo com o balanço da InterCement, a empresa tinha uma exposição de R$ 7,1 bilhões em contingências diversas em 31 de dezembro do ano passado.
A dívida que está sendo renegociada dentro do plano extrajudicial soma R$ 22 bilhões, sendo R$ 12 bilhões entre empresas. Além dos R$ 5,9 bilhões dos três bancos, são credores detentores de títulos emitidos pela companhia no exterior (bondholders) com pouco mais de R$ 3 bilhões em créditos contra a empresa.
Procuradas, InterCement, Mover, CSN, Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil não comentaram.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 28/11/2024, às 17:22.
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