Apesar de o governo ter o objetivo de conquistar o apoio da iniciativa privada à reforma tributária, no jantar que juntou na quarta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o PIB brasileiro, os empresários preferiram falar dos entraves causados pelos juros altos nos negócios - em linha com as críticas que o governo vem fazendo à condução da política monetária feita pelo Banco Central. Organizado pelo Grupo Esfera, o encontro contou com 50 comandantes de grandes empresas e bancos. Entre eles, Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Jean Jereissati (Ambev), Eduardo Bartolomeo (Vale), Rubens Menin (MRV), Rafael Sales (Aliansce BrMalls) e Isaac Sidney (Febraban).
Do lado do governo, Gabriel Galípolo, secretário-executivo do ministério da Fazenda, também esteve presente. Haddad abriu o encontro defendendo o diálogo. Como exemplo, citou o acordo em relação à Medida Provisória do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que, caso efetivado, deve isentar o contribuinte de multas e juros.
João Camargo, fundador do Esfera, apoiou a intenção de maior abertura e diálogo e reiterou a importância da reforma tributária. Porém, disse que a questão dos juros era a mais importante da pauta atual. “Muitos gestores de asset afirmaram no evento do BTG que são favoráveis ao aumento da meta de inflação, porque a inflação vai perdurar no mundo todo. Todo mundo está se preparando para viver um período inflacionário. O Brasil tentou a vida inteira exportar inflação e ninguém comprou. Agora, a gente está importando dos países ricos”, disse.
“Juros elevados travam negócios e inibem investimentos”
Os empresários juntaram-se ao coro, com depoimentos sobre a situação que vivem: juros altos têm travado os negócios e inibido investimentos. “A maior parte de nós paga juros e não recebe juros”, disse o comandante de um grande grupo ligado, entre outros setores, ao varejo. De acordo com ele, as corporações estão sendo obrigadas a revisar investimento porque o juro hoje é muito maior por causa de um problema estrutural.
Rubens Menin também falou no jantar sobre o impacto dos juros no investimento: “nas empresas os budgets (orçamentos) são plurianuais. Em 2020 e 2021, as empresas tinham feito planos de investimento de dois, três ou quatro anos e alguns deles, não conseguimos parar. Fica muito caro para parar e o remédio fica muito pesado. O remédio no Brasil está muito mais amargo do que se pode imaginar. Não dá. Se durar mais dois anos o remédio vai corrigir um pequeno defeito, mas vai ser mais nocivo”.
Empresários questionaram tom considerado beligerante de Lula
No encontro, empresários também questionaram Haddad sobre o tom considerado beligerante de Lula. Na visão dos empresários, o presidente parece muito ansioso para mostrar serviço e tem elevado desnecessariamente o tom dos discursos.
“Por que tanta briga após uma eleição já encerrada? Por que promover ambiente de novo um ambiente de ‘nós contra eles’? É preciso voltar o ‘Lulinha paz e amor’ para ajudar a desfazer esse tensionamento”, citou um dos presentes
Avaliação é de que encontro foi positivo
A avaliação final foi de que o encontro foi positivo e selou uma espécie “consenso” entre as prioridades defendidas pelo governo e o setor privado.
Esta coluna foi publicada no Broadcast no dia 16/02/2023, às 11h01
O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.
Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.