Uma das mais tradicionais incorporadoras de capital aberto do Brasil, a Even está entrando em uma nova fase, cujo objetivo é mostrar clareza em seu plano de negócios e, principalmente, em seu comando, deixando para trás uma longa sequência de altos e baixos nas operações
A Even passou os últimos anos concentrada em vender o excesso de salas comerciais e estúdios no estoque, e reduzir o endividamento. Mais recentemente, passou a se desfazer das ações da Melnick, empresa imobiliária de Porto Alegre, uma combinação que gerava certa confusão entre os investidores.
Além disso, a Even montou em 2023 uma joint venture com a RFM, incorporadora de projetos de alto padrão de São Paulo, convidando o fundador, Márcio Moraes, para a presidência executiva da companhia. Foi outro movimento visto com desconfiança pelo mercado, já que Moraes é um empreendedor nato, não executivo de carreira.
Em velocidade de cruzeiro
Mas, com esses passos já maduros, a companhia se prepara para navegar em velocidade de cruzeiro. Quem conta essa jornada futura é o presidente do conselho de administração, Rodrigo Arruy, e o presidente executivo, Márcio Moraes, em entrevista conjunta à Coluna do Broadcast.
Segundo eles, o mote da Even será a dedicação exclusiva a projetos residenciais e comerciais em terrenos de grande porte nos bairros nobres das zonas sul e oeste de São Paulo e destinados ao público de alta e altíssima renda. Exemplos disso são os complexos com as grifes Fasano e Faena. Não haverá empreendimentos em outras regiões, nem em outros segmentos, salvo alguma investida pontual e oportunística.
A expectativa é de realizar lançamentos com valor geral de vendas (VGV) na ordem de R$ 2 bilhões a R$ 2,5 bilhões por ano, variando de acordo com a demanda do mercado. “Será uma empresa muito previsível, com lucro relevante e pouca volatilidade no balanço”, afirma Arruy.
Poder de negociação
A estrutura de capital combinará geração de caixa e financiamento à produção, com a alavancagem (medida pela relação entre dívida líquida e patrimônio líquido) na faixa de 30%. No fim do terceiro trimestre, estava em 22,5%. A ideia é manter dinheiro em caixa para ter um bom poder de negociação nas compras de terrenos em bairros nobres.
E por trás desse plano, haverá um comando bem definido, dizem. “A Even passa por uma empresa de dono hoje, representada por dois principais acionistas, que são as famílias Grendene e Zaffari”, aponta Arruy, diretor da gestora Nova Milano, principal veículo de investimentos desses acionistas. A gestora possui 46% das ações da incorporadora.
Há cerca de uma década, a Nova Milano ingressou na Even via compra de ações em Bolsa levando à saída do fundador e presidente, Carlos Terepins, com quem havia divergências sobre a condução dos negócios. Na época, o caso chamou atenção do mercado para a voracidade com que a Even foi tomada pela Nova Milano e com que sofreu uma guinada nas operações.
Momento de satisfação
“Passou muita gente pela Even, teve muito barulho, problema de liquidez nos idos de 2014. Mas estamos em um momento de muita satisfação porque a empresa está no tamanho certo e com as pessoas certas, sem desvio de atenção, nem desfile de ego”, diz Arruy. “Hoje as reuniões duram meia hora e resolvemos tudo”.
Há quase dois anos como CEO, Moraes se considera adaptado à Even. “O mercado não entendia por que eu vim para cá. Na verdade, eu vi a oportunidade de estar dentro de uma companhia de capital aberto, com processos e regras, acionistas de referência e suporte financeiro. Hoje a companhia está mais enxuta e dá resultado”, explica Moraes, que deixou a RFM sob o comando do filho, Marcelo.
Rumo à fusão
Nos próximos dois anos, os sócios de ambos os lados vislumbram uma fusão, por meio da qual a RFM será absorvida pela Even. A transação prevista não envolveria pagamento em dinheiro, mas sim a entrega de uma parte das ações da Even para os sócios da RFM. A empresa pertence 45% a Moraes, 45% ao sócio José Romeu Ferraz Neto e 10% a Joaquim Ferraz (irmão de José Romeu).
Após a fusão, a Even permaneceria nos projetos de grande porte, enquanto a RFM nos empreendimentos menores, assim como já acontece hoje. As duas marcas seriam preservadas, e a gestão, também.
Internamente, o tema é tratado como um desdobramento natural da parceria em andamento e não envolve nenhum documento vinculante. “É nossa vontade e tudo indica que a empresa será uma só, com duas marcas. Aí a joint venture deixa de existir, a Even fica dona de tudo e ganha os sócios da RFM como acionistas”, prevê Arruy.
“Hoje [a fusão] é o que buscamos que aconteça, há interesse dos dois lados”, complementa Moraes. “No passado, pensávamos em abrir capital da RFM, mas isso foi descartado. Já entendemos que o mercado financeiro não suporta mais incorporadoras de pequeno tamanho na Bolsa”.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 10/01/2025, às 10:03.
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