A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos vem trazendo preocupações de alta na taxa de juros norte-americana, o que normalmente desestimula investimentos em empresas de países emergentes e pressiona as taxas de retorno (yields) dos títulos de dívida (bonds), elevando o custo de financiamento. Mas o tema não deverá prejudicar o acesso das empresas brasileiras ao mercado internacional no início do próximo ano, até porque muitas delas precisam refinanciar dívidas ou captar para bancar projetos e outros gastos.
Os grupos brasileiros já se preparam para acessar esse mercado na principal janela para ofertas, que acontece nos meses de janeiro e fevereiro, e têm procurado o Tesouro Nacional para buscar uma leitura melhor sobre o apetite dos investidores por papéis de empresas do País em meio às incertezas da gestão Trump, segundo fontes próximas ao governo.
O Tesouro costuma abrir a fila de emissões externas, sinalizando para empresas como está o apetite pelos papéis do Brasil. Foi assim neste ano, quando captou US$ 4,5 bilhões no dia 22 de janeiro, com forte demanda. Em seguida, vieram nomes como a Cosan, que captou US$ 600 milhões, e a Ambipar, que fez sua primeira emissão externa.
Bancos já estão sendo sondados
Bancos que costumam assessorar companhias nas emissões externas já enxergam uma fila para ofertas na janela inicial do ano que vem. Segundo uma fonte, há entre “sete a nove companhias” sondando os bancos para emitir no começo de 2025, algumas com a intenção de lançar bônus sustentáveis.
O responsável pelo mercado de dívida no Citi Brasil, Alexandre Castanheira, diz que o mercado já precificou a vitória de Trump e que novas movimentações no câmbio e nas taxas futuras do juro norte-americano devem acontecer quando ficarem mais claras as políticas do novo presidente. Na opinião do executivo do Citi, Trump não deve demorar para apontar a direção de tais políticas, mas isso só deve ocorrer após a janela de ofertas de janeiro e fevereiro.
O executivo diz que não faltará dinheiro para as empresas brasileiras, uma vez que há muitos papéis vencendo em janeiro, exigindo que os investidores reciclem os recursos. Ele também chama a atenção ao fato de que as empresas brasileiras tiveram amplo acesso ao exterior este ano, apesar de os fluxos para os fundos que investem em mercados emergentes estarem negativo há dois anos.
Número de 2024 superou o de 2023
Até agora, em 2024, foram emitidos US$ 20 bilhões em títulos de dívida no exterior pelo Brasil, tanto públicos como privados, num patamar próximo às médias históricas. O número supera em 25,9% o valor contabilizado em todo o ano de 2023, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A última emissão externa foi em outubro, do BTG Pactual, que captou US$ 500 milhões.
O apetite dos estrangeiros não se concentrou somente naquelas companhias conhecidas do investidor e oito novos emissores desembarcaram lá fora. Também houve janela para empresas com classificação de risco abaixo do grau de investimento, além de operações com prazo de 30 anos. “Isso dá uma visão de que há apetite dos investidores para estratégias diferentes”, diz Castanheira.
Esta notícia foi publicada no Broadcast+ no dia 27/11/2024, às 18:36.
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