O empréstimo DIP (debtor-in-possession, concedido a empresas em dificuldades) de US$ 950 milhões a que a Gol terá acesso traz alívio para a aérea, que deve ter restrições de crédito após entrar com pedido de reestruturação nos Estados Unidos (Chapter 11), segundo fontes ouvidas pelo Broadcast. A demora nas negociações com os lessores (arrendadores) das aeronaves fez com que o pedido se tornasse fundamental, de acordo com informações de bastidores.
De acordo com fontes, a Gol vinha tentando destravar saídas com os donos das aeronaves, mas parte do grupo estava mais “arredio”, e agora, terá de buscar uma renegociação diante do Chapter 11. Metade dos R$ 20,3 bilhões da dívida da Gol está nas mãos de 25 lessores e, segundo fonte, o Chapter 11 foi pensado principalmente para reestruturar essa dívida. Neste cenário, o DIP demonstra que a companhia terá fôlego para seguir operando durante o processo.
“O Chapter 11 foi o recurso que a Gol encontrou para trazer à mesa os lessores que estavam mais arredios para negociar”, disse uma fonte próxima a esses credores. Ela afirma que alguns dos arrendadores estão considerando a Gol “pouco flexível nas negociações”.
Chapter 11 evita que credores retomem aviões
Existe pressão para ambos os lados. A alta na demanda por voos em todo o mundo e a quebra na cadeia de produção de aeronaves aumentou a procura por aviões, incluindo os antigos. Isso reduz o poder de barganha da Gol, afetada ainda por atrasos na entrega de novos aviões 737 MAX pela Boeing. Por outro lado, o Chapter 11 evita que os lessores retomem as aeronaves da companhia, o que ajuda a explicar o porquê da reestruturação ser pedida nos EUA.
Uma das fontes a par do assunto afirma que os créditos da empresa junto a detentores de bonds (bondholders) e outros credores são vistos como menos problemáticos neste momento. A Gol também tem baixo endividamento junto a bancos, como evidenciou a lista dos maiores credores sem garantias que a empresa entregou ontem, 25, à Justiça americana.
O CEO da Gol, Celso Ferrer, está confiante na celeridade do Chapter 11. Em conversa com jornalistas ontem, ele afirmou que a Gol deve concluir as negociações “substancialmente mais rápido” do que outras aéreas da América Latina. A Latam, por exemplo, que pediu recuperação judicial durante a pandemia, demorou dois anos e meio para sair do Chapter 11.
Financiamento é essencial para a empresa
O DIP é fundamental porque a Gol deve enfrentar escassez de crédito durante o Chapter 11. Esse movimento é normal quando empresas entram em recuperação judicial, mas é bastante sensível para o modelo de capital intensivo das aéreas, segundo fontes. Os US$ 950 milhões foram prometidos por bondholders da Abra, controladora da Gol.
Um dos gargalos é o adiantamento de recebíveis. Embora seja uma operação com baixo risco de crédito, alguns bancos têm restrições para operar com empresas que estão sob proteção judicial, o que pode reduzir a aprovação dessas operações.
Para as aéreas, o adiantamento é quase uma regra, comenta uma fonte: a maior parte das vendas de passagens aéreas é feita via cartões de crédito. Os bancos levam 28 dias para liquidar a operação financeiramente, e se o cliente parcela o pagamento, a liquidação do recebível também é dividida ao longo do tempo. Por isso, as aéreas, assim como varejistas e empresas do setor de serviços, são usuárias contumazes da antecipação.
Preocupação com fornecedores de combustível
Outra preocupação é com os créditos junto às distribuidoras de combustíveis. O gasto com abastecimento de aeronaves corresponde a 41% das despesas operacionais na aviação. Um dos maiores credores sem garantias da companhia é a Vibra Energia, responsável por boa parte do mercado de querosene de aviação do País.
A Gol afirmou em nota, na quinta-feira, que alguns “poucos fornecedores de combustíveis no exterior” revisaram suas políticas de crédito com a companhia, mas sem impacto relevante nas operações.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 26/01/24, às 14h08
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