EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Empréstimo DIP alivia situação da Gol, que tenta acelerar passo com arrendadores

Empresa entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos

PUBLICIDADE

Foto do author Matheus Piovesana
Por Matheus Piovesana (Broadcast) e Ana Rita Cunha
Atualização:
Aérea tem dívidas de R$ 20,3 bilhões, metade com arrendadores de aeronaves Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

O empréstimo DIP (debtor-in-possession, concedido a empresas em dificuldades) de US$ 950 milhões a que a Gol terá acesso traz alívio para a aérea, que deve ter restrições de crédito após entrar com pedido de reestruturação nos Estados Unidos (Chapter 11), segundo fontes ouvidas pelo Broadcast. A demora nas negociações com os lessores (arrendadores) das aeronaves fez com que o pedido se tornasse fundamental, de acordo com informações de bastidores.

PUBLICIDADE

De acordo com fontes, a Gol vinha tentando destravar saídas com os donos das aeronaves, mas parte do grupo estava mais “arredio”, e agora, terá de buscar uma renegociação diante do Chapter 11. Metade dos R$ 20,3 bilhões da dívida da Gol está nas mãos de 25 lessores e, segundo fonte, o Chapter 11 foi pensado principalmente para reestruturar essa dívida. Neste cenário, o DIP demonstra que a companhia terá fôlego para seguir operando durante o processo.

“O Chapter 11 foi o recurso que a Gol encontrou para trazer à mesa os lessores que estavam mais arredios para negociar”, disse uma fonte próxima a esses credores. Ela afirma que alguns dos arrendadores estão considerando a Gol “pouco flexível nas negociações”.

Chapter 11 evita que credores retomem aviões

Existe pressão para ambos os lados. A alta na demanda por voos em todo o mundo e a quebra na cadeia de produção de aeronaves aumentou a procura por aviões, incluindo os antigos. Isso reduz o poder de barganha da Gol, afetada ainda por atrasos na entrega de novos aviões 737 MAX pela Boeing. Por outro lado, o Chapter 11 evita que os lessores retomem as aeronaves da companhia, o que ajuda a explicar o porquê da reestruturação ser pedida nos EUA.

Uma das fontes a par do assunto afirma que os créditos da empresa junto a detentores de bonds (bondholders) e outros credores são vistos como menos problemáticos neste momento. A Gol também tem baixo endividamento junto a bancos, como evidenciou a lista dos maiores credores sem garantias que a empresa entregou ontem, 25, à Justiça americana.

Publicidade

O CEO da Gol, Celso Ferrer, está confiante na celeridade do Chapter 11. Em conversa com jornalistas ontem, ele afirmou que a Gol deve concluir as negociações “substancialmente mais rápido” do que outras aéreas da América Latina. A Latam, por exemplo, que pediu recuperação judicial durante a pandemia, demorou dois anos e meio para sair do Chapter 11.

Financiamento é essencial para a empresa

O DIP é fundamental porque a Gol deve enfrentar escassez de crédito durante o Chapter 11. Esse movimento é normal quando empresas entram em recuperação judicial, mas é bastante sensível para o modelo de capital intensivo das aéreas, segundo fontes. Os US$ 950 milhões foram prometidos por bondholders da Abra, controladora da Gol.

Um dos gargalos é o adiantamento de recebíveis. Embora seja uma operação com baixo risco de crédito, alguns bancos têm restrições para operar com empresas que estão sob proteção judicial, o que pode reduzir a aprovação dessas operações.

Para as aéreas, o adiantamento é quase uma regra, comenta uma fonte: a maior parte das vendas de passagens aéreas é feita via cartões de crédito. Os bancos levam 28 dias para liquidar a operação financeiramente, e se o cliente parcela o pagamento, a liquidação do recebível também é dividida ao longo do tempo. Por isso, as aéreas, assim como varejistas e empresas do setor de serviços, são usuárias contumazes da antecipação.

Preocupação com fornecedores de combustível

Outra preocupação é com os créditos junto às distribuidoras de combustíveis. O gasto com abastecimento de aeronaves corresponde a 41% das despesas operacionais na aviação. Um dos maiores credores sem garantias da companhia é a Vibra Energia, responsável por boa parte do mercado de querosene de aviação do País.

Publicidade

A Gol afirmou em nota, na quinta-feira, que alguns “poucos fornecedores de combustíveis no exterior” revisaram suas políticas de crédito com a companhia, mas sem impacto relevante nas operações.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 26/01/24, às 14h08

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.