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Bastidores do mundo dos negócios

Esforço dos bancos para rolar dívidas da Casas Bahia esbarrou na piora do mercado

Em meio a condições mais difíceis e expectativas de juros mais altas, varejista acertou uma nova repactuação com Bradesco e Banco do Brasil

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Acordo com credores envolvendo a recuperação extrajudicial da varejista deve ajudar a melhorar a percepção do mercado. No pregão de hoje, ação da empresa está em alta Foto: Felipe Rau/Estadão

A recuperação extrajudicial apareceu à mesa da Casas Bahia diante da piora nas condições de mercado. A empresa e os bancos credores vinham atuando para estender os vencimentos da dívida e aliviar a pressão sobre o caixa. Em fevereiro, eles acertaram uma rolagem. No entanto, a piora nas expectativas do mercado financeiro para as taxas de juros tornou o ambiente mais difícil, estreitou o espaço para soluções no mercado e obrigou a companhia a fazer a nova repactuação, acertada com Bradesco e Banco do Brasil (BB). O desempenho da operação da varejista também explica o processo: tanto as vendas de final de ano quanto as do primeiro trimestre ficaram abaixo do que se esperava. Os bancos, então, partiram para uma solução mais definitiva, que evitasse que a companhia fosse parar em uma recuperação judicial.

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A Justiça de São Paulo deferiu o pedido de recuperação extrajudicial da empresa nesta segunda-feira, 29. O pedido havia sido protocolado na noite de domingo, 28.

Do ponto de vista da empresa, o acordo envolvendo a recuperação extrajudicial também deve ajudar a melhorar a percepção do mercado, já que, sem a renegociação, a empresa seguiria trabalhando para pagar os juros da dívida, com as contas apertadas e sem espaço para boas negociações com fornecedores. Mesmo com a alta no pregão de hoje na B3, porém, analistas que avaliam os fundamentos do papel já indicaram que a reestruturação da dívida não exclui a necessidade de melhoria operacional.

“Todo mundo olhava e via que tínhamos pagamentos de juros todos os anos. Era R$ 1,5 bilhão este ano e quase R$ 1 bilhão nos próximos anos. Perguntavam: ‘Vocês conseguem gerar caixa para isso tudo?’”, disse o CEO da Casas Bahia, Renato Franklin, ao <b>Broadcast</b>.

Renegociação com bancos em fevereiro foi insuficiente

Em fevereiro, a varejista reperfilou junto aos bancos dívidas equivalentes a R$ 1,5 bilhão, em operação ancorada por Bradesco e BB, como antecipou a Coluna, após outros acertos feitos em 2023. No entanto, com a piora das condições de mercado nos últimos dois meses, essa renegociação não foi suficiente e dificultou novas alternativas de levantar recursos no mercado. Sem a recuperação extrajudicial, a empresa teria de pagar R$ 772 milhões aos debenturistas agora, o que seria “traumático”, de acordo com uma fonte. Havia ainda mais vencimentos pela frente, incluindo outro em setembro, de R$ 462 milhões.

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A repactuação não vai impor desconto - o temido ‘haircut’, comum nas recuperações judiciais - ao valor das dívidas o que deixa os bancos mais confortáveis. Além disso, reduz o risco de a companhia dar um calote. Bradesco e BB já tinham provisões compatíveis com o risco da Casas Bahia, segundo fontes, e com a renegociação, estes patamares devem ser suficientes. “O ciclo financeiro agora está voltado ao operacional, e isso reduz muito o risco da empresa”, diz um executivo de um dos bancos, sob anonimato. Procurados, Bradesco e BB não comentaram.

Analistas seguem com dúvidas

No mercado, porém, as dúvidas ainda não estão sanadas. O Citi calcula que, segundo o plano apresentado, os custos financeiros da empresa (excluindo despesas de arrendamento) podem cair para aproximadamente R$ 1,9 bilhão no ano fiscal de 2024. “Isso ainda está acima do nosso Ebitda estimado (pós IFRS 16) de R$ 1,3 bilhão, com margem de 4,3%”, escreveram os analistas João Pedro Soares e Felipe Reboredo.

Em teleconferência, o próprio CEO reconheceu que ainda há desafios. “Ninguém tem crença de que está fácil. Sabemos das dificuldades. Seguimos em cortes de custos”, afirmou Franklin.

Dentro das instituições e da própria Casas Bahia, considera-se que o processo é melhor e mais organizado que o da Americanas, que revelou uma fraude contábil de R$ 25 bilhões no começo do ano passado, pediu tutela contra a execução de dívidas e entrou em recuperação judicial em menos de duas semanas, sem uma negociação prévia com credores. A Americanas conseguiu aprovar um plano com a participação ativa dos bancos, mas houve descontos de mais de 80% nas dívidas.

Casas Bahia evitou repetir caso de varejista

A maior preocupação da direção da Casas Bahia e do conselho, segundo fontes, era justamente evitar uma situação similar, de uma recuperação judicial sem acordo com os credores. Uma fonte afirma que as conversas vêm desde meados 2023 e conseguiram agora “limitar aos bancos” o reperfilamento da dívida. A dívida foi alongada de 22 meses para 72 meses, com um prazo de carência de 30 meses para o principal.

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Os bancos vão manter as demais linhas de crédito (risco sacado e financiamento do crediário), cruciais para a operação da empresa. Apenas no crediário, a companhia tinha cerca de R$ 5 bilhões em crédito com o Bradesco e o Banco do Brasil. O plano é reduzir aos poucos essa dependência e passar a captar por meio de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) o financiamento desse instrumento de crédito ao consumidor. Tudo isso, na intenção de liberar mais limite com os bancos.

A expectativa é que os negócios da varejista prossigam e voltem a gerar resultados para a empresa voltar aos trilhos, observa uma fonte. O balanço do primeiro trimestre deve ser divulgado no próximo dia 8, e segundo uma fonte, já deve mostrar resultados da reestruturação que a varejista, afetada por juros altas, famílias muito endividadas e comércio mais desafiador, vem fazendo.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 29/04/24, às 16h13.

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