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Bastidores do mundo dos negócios

Família Mitre vende ações da incorporadora para socorrer negócio de agro

Operação movimentou cerca de R$ 50 milhões

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Foto do author Circe Bonatelli
Maquete de prédio da Mitre. Com a venda das ações, família buscou blindar incorporadora Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

A Star Mitre, holding controladora da incorporadora paulistana Mitre Realty, se desfez de 9,9 milhões de ações ordinárias, o equivalente 9,42% do capital social da companhia. A venda, que movimentou algo em torno de R$ 50 milhões, serviu para a holding captar recursos e reestruturar passivos no mercado financeiro relacionados a outras empresas do grupo, de acordo com comunicado.

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A família Mitre investe no setor agropecuário por meio da Elisa Agro (antigamente chamada Mitre Agro), voltada para feijão, soja, milho e algodão. A empresa atravessa dificuldades financeiras e foi colocada à venda. Antes disso, acertou com bancos a postergação de pagamento de um certificado de recebível do agronegócio (CRA) de R$ 300 milhões. O título foi emitido em 2022 e tinha como garantia as ações da família na incorporadora, conforme apurou o Broadcast.

A Star Mitre informou que não possui outros valores mobiliários de emissão da Mitre Realty ou instrumentos financeiros derivativos referenciados a tais ações. Ao decidir vender as ações da Mitre Realty para ganhar liquidez e socorrer a Elisa Agro, a família buscou acabar com as relações cruzadas entre as duas empresas, a fim de evitar que a crise da empresa de grãos contaminasse a incorporadora, que é listada na Bolsa.

Participação acionária diminuiu

A venda de ações foi pulverizada entre vários investidores. Ela diminuiu a participação da família na Mitre Realty, mas não chegou a mudar o comando. O bloco de controle detém agora 40,75% de participação. Antes eram 50%. A família – Fabricio e Jorge Mitre – tem diretamente 26,5% da incorporadora, a holding familiar Star Mitre possui 10,5% e a gestora de recursos Mitre Partners conta com 3,8%.

“Nunca quisemos vender ações da companhia, mas foi um arranjo necessário para a desvinculação entre os dois negócios”, afirmou o acionista e presidente da incorporadora, Fabrício Mitre, em conferência de 15 minutos com investidores e analistas na terça-feira, 30. “Também foi necessário para buscar a melhor solução para a Elisa Agro, que está em processo de venda. Agora focaremos mais na Mitre Realty, que é o negócio central e coração do grupo”, disse.

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O executivo afirmou que não há intenção de vendas adicionais de ações da incorporadora por parte dos controladores. Pelo contrário: há interesse em recomprar a posição no futuro.

Pausa no pagamento da dívida

Segundo ele, a negociação com os credores da Elisa Agro envolveu uma pausa (stand still, no jargão) de 12 meses na dívida da empresa agrícola, seguido de um prazo de até 48 meses para quitar os valores em aberto, o que será pago por meios dos dividendos a serem gerados pelas empresas do grupo.

O empresário disse que ainda existem ações da Mitre Realty dadas em garantia, mas ponderou que elas “estão completamente blindadas e apartadas de eventuais riscos de estresse” oriundos de outras empresas e seus controladores. “Não tem chance de cross default. Tiramos o risco de contaminação”, afirmou.

Bradesco BBI vê movimento com cautela

Os analistas de construção civil do Bradesco BBI receberam o movimento com cautela. “O estresse na Mitre Agro já era conhecido e vinha sendo visto como um risco pelo mercado”, descreveram os analistas Bruno Mendonça, Pedro Lobato e Herman Lee, em relatório do banco.

Na visão dos analistas, a venda de ações da Mitre Realty pelos controladores é algo que deve ser percebido como negativo. O único ponto positivo é que a família está fazendo um esforço significativo para isolar a incorporadora do problema, ponderaram.

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Os analistas do Bradesco BBI alertaram ainda que a família pode ser forçada a fazer novos movimentos para socorrer a empresa de agro. “Entendemos que a venda de hoje não é suficiente para resolver totalmente o problema familiar. A venda é apenas uma fração do passivo total da empresa agro. Por isso, acreditamos que novas ações precisarão ser tomadas nesta frente”, apontaram.

*Colaboração de Cynthia Decloedt


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 30/01/24, às 13h10

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