O First Citizens Bank está sondando startups brasileiras para tentar reconquistá-las após comprar a parte boa do Silicon Valley Bank (SVB), que colapsou e era focado nesse público. Um trabalho de reaproximação tem sido feito junto à comunidade de novatas nas últimas semanas. O desafio é recuperar a confiança desses clientes e também os recursos perdidos com a crise do SVB, que desencadeou uma turbulência no sistema bancário americano e fez reviver os fantasmas da crise financeira internacional de 2008.
Depósitos brasileiros somavam US$ 3 bilhões
Startups brasileiras tinham ao menos US$ 3 bilhões em depósitos no Silicon Valley Bank, conforme levantamento feito pela Trace Finance, que opera com remessas internacionais. Muitas delas sacaram os seus recursos e esvaziaram suas contas diante da grande crise de confiança que se formou em decorrência das dificuldades financeiras do banco, impactado principalmente pela subida das taxas de juros nos Estados Unidos, o que levou o SVB à bancarrota em questão de dias.
“O banco está trabalhando com muitas empresas brasileiras e nada mudou nesse aspecto”, diz uma fonte próxima ao First Citizens, que pediu para falar na condição de anonimato, uma vez que a estratégia não é pública. A declaração foi dada durante o Brazil at Silicon Valley, conferência de startups que acontece em Santa Clara, na Califórnia (EUA). A fonte não revela, porém, o tamanho do portfólio que sobrou de ativos brasileiros após os saques feitos durante a crise do SVB.
Recuperação da confiança deve levar tempo
Especializado no público de startups, o Silicon Valley Bank atuava junto a novatas brasileiras havia mais de uma década. Ao adquiri-lo, o First Citizens Bank quer recuperar esses clientes e crescer na vertente de tecnologia, que antes não era foco do seu escopo de atuação. O trabalho ainda está no início, passado apenas um mês da compra do falido SVB - e deve levar algum tempo até que comece a dar frutos.
“Banco é sinônimo de segurança, mas o SVB estava com problemas”, diz a fonte. “Levará algum tempo para recuperar a confiança na marca e no banco, mas todos os problemas financeiros não estão mais no novo banco”, admite.
O First Citizens Bank adquiriu somente a parcela saudável dos negócios do SVB. Isso incluiu US$ 110 bilhões em ativos, sendo US$ 56 bilhões em depósitos e US$ 72 bilhões em empréstimos, e 17 agências que mantiveram a marca Silicon Valley Bank, mas passaram a atuar como uma divisão do novo banco. Dívidas, ações ou quaisquer outras obrigações permaneceram com o Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), uma espécie de Fundo Garantidor de Créditos (FGC) dos EUA.
First Citizens já comprou outros bancos falidos
No esforço para recuperar os clientes brasileiros, executivos têm tentado mostrar às startups que o First Citizens é mais seguro, com uma liquidez muito maior que o SVB. Outro ponto a favor seria a sua expertise em comprar bancos falidos, com algumas dezenas de aquisições desde a crise financeira internacional de 2008.
“Estamos comprometidos em construir e preservar a forte relação e o legado do SVB com empresas de private equity e venture capital”, disse o chairman e CEO do First Citizens, Frank B. Holding, no anúncio de compra do banco, mencionando ainda a oportunidade de expansão na Califórnia, sede do antigo SVB.
Com mais de US$ 219 bilhões em ativos, o First Citizens integra o grupo dos 20 maiores bancos dos EUA. Baseado em Raleigh, na Carolina do Norte, o conglomerado tem mais de 125 anos de história e detém uma rede de mais de 550 agências e escritórios em 23 estados americanos.
A jornalista viajou a convite da organização do evento de startups nos EUA.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 25/04/2023, às 15h53
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