Um dos motivos por trás da disparada das ações da Oi neste ano é a compra massiva dos papéis por meio de um novo fundo que foi constituído justamente para esse fim e que caminha para despontar com um acionista relevante dentro da companhia. O veículo, chamado Fundo de Investimento Financeiro em Ações Nova Oi, foi criado em janeiro e tem apenas dois cotistas, mantidos em sigilo. A gestão, administração e custódia estão nas mãos da Trustee DTVM.
Conforme a lâmina encaminhada para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o objetivo do fundo é a valorização das cotas por meio de aplicações em ativos financeiros. No caso, as ações ordinárias da Oi (OIBR3). O público-alvo são os investidores profissionais (com mais de R$ 10 milhões aplicados).
As compras de OIBR3 começaram dia 26 de janeiro e cresceram rapidamente. A carteira do fundo era de apenas R$ 809 mil em 31 de janeiro, quando só havia um cotista. O valor da carteira passou para R$ 2 milhões em 5 de fevereiro, data de chegada do segundo cotista. Depois disso, deu um salto para R$ 16,6 milhões no dia 9, e foi para R$ 26,5 milhões no dia 15, o que representa em torno de 3,5% de participação na companhia. O fundo não fez vendas no período.
Ações da empresa tiveram forte valorização
As ações da Oi fecharam o pregão de sexta-feira, 15, cotadas a R$ 1,05, com alta de 65% em um mês, e seguiam avançando forte nesta segunda-feira, 19, fechando em R$ 1,17. Um mês atrás, estavam em R$ 0,60. A empresa, em recuperação judicial, tem cerca de R$ 750 milhões de valor de mercado.
As instituições financeiras que mais emitiram ordens de compras de ações, oriundas de seus clientes, desde 26 de janeiro (data de abertura do fundo) foram XP, Ágora e BTG, que atendem desde pessoas físicas até grandes investidores.
Chama a atenção o caso do Banco Master, mais focado em investidores profissionais. Foi o sexto que mais comprou, mas não realizou vendas, ao contrário dos pares. Assim, ficou em primeiro em termos de saldo de movimentações (compras menos vendas), um indicativo de que está trabalhando em parceria com quem vem montando posição na Oi.
Rumores no mercado
Nas últimas semanas circula no mercado o rumor de que o empresário Nelson Tanure estaria montando posição na Oi - o que marcaria o seu retorno à tele, onde já foi acionista por meio do veículo de investimento Societé Mondiale.
Procurado pela Coluna, ele negou. “Sem comentários, estou de férias”, respondeu, em curta mensagem de texto, complementando em seguida: “Só boatos”.
Apesar da negativa, fontes de mercado e com conhecimento profundo sobre a empresa acreditam que seria, sim, Tanure ingressando no quadro societário. “Tudo aponta para fundos do Tanure comprando posição”, disse uma fonte.
Modus operandi
Tradicionalmente, Tanure opera por meio de fundos em que o nome do cotista é mantido oculto, sem que ninguém saiba qual a titularidade societária de fato na empresa. É assim que ele atua na Gafisa, Aliança (novo nome da Alliar), Ligga e Light, por exemplo.
Outro ponto é que o Banco Master (bastante ativo na ponta compradora) e a Trustee DTVM (gestora do fundo Nova Oi) são parceiros comerciais muito próximos do empresário, alimentando a desconfiança de que é ele quem está montando posição na tele. Procurados, Banco Master e Trustee não comentaram.
Tanure é um reconhecido investidor de empresas que estão em dificuldades financeiras e têm negociações abertas com credores. O investimento é de alto risco, mas com bom potencial de retorno para o acionista capaz de exercer algum tipo de influência sobre o andamento das negociações.
Recuperação judicial
Esse é exatamente o caso da Oi. A tele está em recuperação judicial e tem assembleia de credores marcada para 5 de março. Se aprovado, o plano de recuperação resultará em um corte de 75% na dívida da tele, o que levará à valorização das ações. Falta, porém, chegar a um acordo com credores sobre o plano. É aí que um acionista de peso poderia ter algum grau de influência e tirar proveito da situação. A Oi não tem um controlador definido há tempos, isto é: suas ações são pulverizadas, e nenhum acionista tem mais de 5% de participação.
Tanure deixou de investir na empresa há cerca de quatro anos. Ele chegou a ter os direitos políticos restritos em 2017, quando os conselheiros e diretores indicados por ele foram impedidos, pela Justiça, de participar das negociações com credores, sob acusação de abuso de poder.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 19/02/24, às 17h13
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