A gestora de “venture capital” Domo.VC pretende realizar em 2024 captação para seu quinto fundo. Segundo Rodrigo Borges, sócio fundador da empresa e egresso do Buscapé, a ideia é levantar cerca de R$ 250 milhões para investir em até 30 startups em estágio inicial, conhecido como “seed” no jargão do mercado. “É mais para janeiro. O plano é fechar [a captação] em três a quatro meses e fazer o primeiro investimento”, disse ele ao Broadcast.
O fundo batizado de “Seed 4″ terá algumas características novas em relação aos demais, a começar pelo valor e o número de empresas em que se pretende investir. Isso porque, de acordo com Borges, o instrumento vai contemplar “duas teses” de investimento, em empresas B2C (voltadas ao consumidor final) e B2B (que prestam serviços ou fornecem investimentos para outras empresas), que em outros fundos da gestora são tratados separadamente.
Os fundos anteriores da gestora investiram em média em 20 empresas - com exceção de um - e o último levantou cerca de R$ 140 milhões. “E os cheques (montantes dos investimentos por startup) também podem ser um pouco maiores”, observou o executivo. Em média, a empresa aporta de R$ 2 milhões a R$ 6 milhões em cada iniciativa.
Captação envolverá esforços no exterior
Pela primeira vez também, a Domo pretende captar recursos no exterior para um fundo e está sondando interesse nos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio. A expectativa é trazer cerca de 30% dos recursos de fora. Embora nos EUA e na Europa os investidores olhem muito para seus próprios mercados para aportes em startups, de acordo com Borges, há instituições com verbas carimbadas para investimentos em mercados emergentes e, na América Latina, o Brasil costuma ser o destaque.”No Oriente Médio, a liquidez chama a atenção, então seria mesmo um destino natural”, destacou o executivo. “Mas é uma região onde temos relacionamento recente”, acrescentou.
Os segmentos que a gestora tem mais interesse para investimentos são os de “marketplaces”, ou seja, sites e aplicativos que reúnem operações de comércio eletrônico e assemelhadas, fintechs, “insurtechs”, que são startups do ramo de seguros, e negócios que ofereçam soluções para grandes corporações, incluindo de recursos humanos
Empresas de inteligência artificial estão no radar
Desta vez, a empresa pretende prestar atenção especial a companhias que incorporem tecnologias de inteligência artificial e blockchain em seus negócios. Para atração de recursos, os alvos são pessoas físicas de alta renda, family offices e instituições como fundos de pensão, bancos e corporações. Ao todo, a Domo, segundo Borges, têm participações em 107 startups e cerca de R$ 550 milhões sob gestão. São quatro fundos de venture capital, um deles ancorado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no qual os aportes são realizados em conjunto com investidores “anjos” e aceleradoras.
O último tem 60 empresas investidas e o objetivo de chegar a 80. Além do capital, a gestora e seus parceiros auxiliam no desenvolvimento dos negócios e até em rodadas subsequentes de captações. A participação da Domo no capital das startups varia, mas em média vai de 10% a 20%. “Como temos um amplo portfólio, conseguimos ver a floresta”, declarou Borges.
Com o crescimento do negócio e sua chegada a outros patamares, a Domo tende a sair da operação. A Domo tem ainda um veículo de propósito específico (SPV, na sigla em inglês) no valor de R$ 25 milhões voltado à startup Meu Tudo. A empresa, de acordo com Borges, pode recorrer a tal instrumento para fazer uma captação caso acabe o “dry powder” (capital disponível) para a iniciativa, e no caso da Meu Tudo, o volume de recursos necessários era maior do que o tradicionalmente levantado pela gestora para um única startup.
Gestora investiu em startups de aluguel de carro e de gestão de despesas
A Domo já investiu em startups como Turbi, de aluguel de carros, Conta Simples, de gestão de despesas, a já citada Meu Tudo, de crédito, Agenda Boa, de gestão para autônomos, Mission, de serviços diversos para empresas, 88i, seguradora, Delfos, de monitoramento de usinas de energias renováveis, e várias outras.
Borges conta que 2023 não foi um ano favorável para o segmento de venture capital, também conhecido como de “capital de risco” no Brasil. Com o aumento das taxas de juros aqui e lá fora, muito dinheiro foi parar na segurança da renda fixa. “Mas o mercado está voltando a aquecer”, observou. Ele não espera, porém, a retomada dos volumes movimentados em 2022 e 2012, quando o havia muito capital em busca de oportunidades. Os “valuations” das startups também tendem ase manter mais baixos daqui para frente do que foram no passado recente.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.