A Gol Linhas Aéreas já começou a renegociar seus contratos de leasing, apurou a Coluna. As conversas com os credores devem se intensificar a partir de janeiro, quando ocorre uma das maiores feiras do setor de aviação em Dublin, na Irlanda. Lá estarão reunidas companhias arrendadoras de aeronaves, também conhecidas como “lessores”, com as quais a Gol tem suas maiores dívidas.
“A Gol já está negociando individualmente com os arrendadores uma reestruturação, mas ainda está caso a caso”, afirmou uma fonte próxima a credores da Gol e que participou da reestruturação da Latam. Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, a companhia aérea já havia renegociado alguns contratos. “O evento de Dublin será um momento importante para selar a renegociação dos contratos de leasing”, disse.
Os contratos de arrendamento de aeronaves são uma das principais fontes das pressões financeiras de curto prazo da Gol. Ao final do terceiro trimestre deste ano, as dívidas e juros com vencimentos de curto prazo da empresa aérea totalizavam R$ 2,9 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão de obrigações de leasing e R$ 1,1 bilhão em dívidas financeiras. A agência de classificação de risco Fitch calcula que a Gol teria apenas R$ 905 milhões em caixa, insuficiente para fazer frente a essas obrigações do próximo ano.
Empresa contratou a assessoria financeira Seabury Capital
A Gol informou no começo de dezembro a contratação da assessoria financeira Seabury Capital para uma ampla revisão de sua estrutura de capital, incluindo a gestão de passivos, transações financeiras e outras medidas para melhorar sua liquidez. O contrato prevê que Seabury em parceria com Skyworks siga negociando com os arrendadores de aviões.
Ao rebaixar na quinta-feira, 07, a nota de crédito da aérea, a agência de risco apontou que diferente de outras companhias da região, a Gol não finalizou a revisão de contratos de leasing afetados pela pandemia. Com isso, os pagamentos mais altos de leasing e as taxas elevadas de juros pressionam a geração de caixa da empresa, mesmo em um momento de melhora no fluxo de passageiros, na avaliação da Fitch.
Uma fonte que participou da reestruturação da Latam comentou que a Gol deverá encontrar mais dificuldades do que enfrentou a concorrente, na pandemia, nas negociações com os arrendadores. “Agora os lessores ficarão mais à vontade para fazer exigências e eventualmente até romper os contratos e tomar as aeronaves, porque, ao contrário da época da pandemia, existe demanda por voos e aeronaves”, afirmou.
Aérea já reestruturou parte de seu endividamento em bonds
Em fevereiro, a Gol já reestruturou parte de sua dívida com detentores de títulos emitidos no exterior (bonds 2024, 2025 e 2026 e US$ 25 milhões dos bonds perpétuos) e recebeu uma injeção de capital nesse processo. Isso foi feito por meio da Abra Group Limited, uma holding criada para controlar as operações da Gol e da Avianca.
A Abra propôs a troca de bonds com vencimentos em 2024, 2025, 2026 e perpétuos por papéis com vencimento em 2028. Detentores de bonds 2024 e 2025 não concordaram com a troca e compõem um grupo dissidente.
Para uma fonte próxima aos credores da Gol, ainda não está claro se a empresa aérea precisará formalizar uma recuperação judicial. Na visão dessa fonte, faria mais sentido a companhia entrar com recuperação judicial nos Estados Unidos, o chamado de Chapter 11, nos moldes como fez a Latam, em 2020. “O Chapter 11 permite que a empresa encerre contratos, o que pode ser essencial para viabilizar renegociar as obrigações de leasing”.
Procurada, a Gol não se pronunciou até a publicação deste texto.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 13/12/23, às 10h31
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