Credores de uma dívida de R$ 3 bilhões contraída pela InterCement no exterior via títulos (bonds) não gostaram do que viram e se preparam para contestar na Justiça o plano de recuperação extrajudicial apresentado ontem, 16, pela companhia. A regra de distribuição dos recursos obtidos com a venda da InterCement prevê como primeiro pagamento a transferência de R$ 2,227 bilhões a credor que tem ações preferenciais da companhia como garantia de uma de suas dívidas. Na visão dos detentores dos títulos externos, isso implicaria que o Bradesco BBI poderia receber antes de outros credores da InterCement. Essa dívida é ainda garantida por ações que a Mover, atual controladora da cimenteira, tem da CCR.
A inclusão da dívida da Mover nas negociações de venda da InterCement foi um dos temas fortemente debatidos durante as negociações entre os bancos credores com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), com a qual as discussões de venda da cimenteira tem se arrastado há meses.
À Justiça, a InterCement disse que o plano não engloba a sua controladora (Mover) e que, “embora tenha integrado a mediação e o pedido de tutela cautelar, alcançou uma solução consensual, com o seu único credor financeiro abrangido pela tutela cautelar, o Bradesco BBI”.
Movimento necessário
Fonte próxima à empresa afirma que esse pagamento não está sendo feito de modo privilegiado, uma vez que acontecerá com a entrega de novas ações preferenciais, numa operação de troca, dentro de condições acordadas. A fonte acrescenta ainda que tal movimento foi necessário para viabilizar toda a transação, aceita por outros credores e que tem como espinha dorsal a venda da InterCement.
De acordo com a mesma fonte, a liberação das ações da CCR está sendo tratada de modo desvinculado do plano de recuperação extrajudicial da InterCement e dentro de um pacote de obrigações que a Mover deverá assumir para viabilizar a venda da cimenteira. Nas negociações de venda, a Mover terá de entregar garantias e as únicas que tem são exatamente a fatia de pouco mais de 14% na CCR.
Antes de chegar à extrajudicial, a InterCement entrou com pedido de proteção contra credores, para evitar a aceleração de suas dívidas e partiu para a medição, que durou 60 dias. O plano extrajudicial contou com o apoio do Bradesco e do Itaú Unibanco, que ao lado do Banco do Brasil, formam o maior grupo de credores da InterCement, com mais de R$ 5 bilhões em créditos a receber.
BB ainda não aderiu
O Banco do Brasil ainda não aderiu ao plano. O plano envolve um total de R$ 22 bilhões em dívidas, sendo mais de R$ 12 bilhões entre as empresas do grupo. A CSN vem negociando essa aquisição com Mover há mais de quatro meses e, de acordo com relatos, teria chegado a oferecer R$ 10 bilhões pelo ativo. Procuradas, a InterCement e o Bradesco BBI não comentaram.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 17/09/2024, às 19h55.
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