O Grupo Fictor, holding de participação e investimentos com experiência nos segmentos de comercialização commodities agrícolas, alimentício e imobiliário, decidiu criar uma divisão no segmento de energia, focada em iniciativas ligadas à transição energética. A empresa avalia investimentos que podem superar R$ 1 bilhão até o fim do ano que vem.
Os primeiros movimentos do grupo no setor estão relacionados a projetos voltados para a descarbonização da Amazônia, como a substituição de energia gerada por térmicas a diesel por energia solar.
“A Amazônia tem uma matriz com muitas fontes não renováveis porque existem muitas áreas remotas e identificamos nisso uma oportunidade, mas é um caminho longo, de muito convencimento”, disse o diretor-presidente do Grupo Fictor, Rafael Góis. Segundo ele, enquanto a matriz elétrica nacional tem mais de 80% de fontes renováveis; na Amazônia, é praticamente o inverso. “Queremos ter um papel relevante nessa transição, entendemos que teríamos a capacidade técnica para executar boa parte disso.”
Fictor fechou parceria com grupo Enerwatt
Em joint venture com o grupo Enerwatt, o Fictor iniciou um trabalho de negociação com produtores independentes de energia que operam nos sistemas isolados da região para desenvolver projetos de geração limpa que possam substituir ao menos parcialmente a geração térmica. As conversas, disse, envolvem também reguladores e as distribuidoras locais.
Nesse trabalho, a empresa já iniciou negociações para cerca de 80 megawatts (MW) a serem instalados em diversas localidades consideradas sistemas isolados no Estado do Amazonas, sendo cerca de 70% com um mesmo produtor independente. O plano é construir usinas fotovoltaicas ao lado das termelétricas a diesel que hoje atendem os sistemas. O empreendimento seria então locado ao gerador, que, na prática, passa a injetar na rede local a energia solar, complementando com a geração térmica, o que permite a redução do consumo de combustível.
Segundo o executivo, a estrutura desenhada permitiria ao produtor independente ter uma economia da ordem de 30% com a operação. “É um ganha-ganha”, disse Góis, citando que o benefício social de redução do encargo com combustível que está embutido na conta de luz dos consumidores.
Usinas solares estão em construção no Estado do Amazonas
As duas primeiras usinas fotovoltaicas, de 2 MW cada, somando 4 MW, já estão em construção, nos municípios de Autazes (AM), a cerca de uma hora de Manaus, e em São Gabriel da Cachoeira (AM), próximo da fronteira com Venezuela e Colômbia. Essas usinas, desenvolvidas em parceria com o Produtor Independente VPower, devem iniciar operação até dezembro deste ano, substituirão em até 40% a capacidade de geração das termelétricas a diesel presentes nessas localidades.
Além das usinas solares, ainda na região Amazônica, a Fictor desenvolve projeto solar ligado ao programa Luz para Todos, no qual casas a serem atendidas pelo programa são equipadas com placas fotovoltaicas e sistemas de armazenamento. Já foram eletrificadas cerca de 3 mil casas, de um contrato de 7 mil casas já assinado. O objetivo da empresa é chegar a 300 mil unidades consumidoras, a partir de futuras contratações do programa.
A Fictor também analisa a instalação de 30 MW em usina fotovoltaica no Tocantins para atender produtores rurais que hoje utilizam geração a diesel. Avalia, ainda, projetos solares do Rio de Janeiro e em São Paulo.
Empresa avalia projeto de biogás no Pará
Em outras fontes, a empresa estuda instalar uma usina de biogás em lixão no estado do Pará. A ideia é que a energia a ser gerada seja comercializada no mercado livre. “É um projeto que está com viabilidade econômica positiva e estamos em negociação com quem tem a concessão do lixão”, disse.
Adicionalmente, a Fictor também está de olho em leilões de potência e se prepara para uma eventual disputa, por meio de um projeto de termelétrica a gás natural no Nordeste, em parceria com a Agrekko. Neste sentido, a companhia aguarda a publicação do edital para o certame, previsto para o primeiro trimestre de 2024.
A empresa, que se apresenta destacando sua atuação voltada para projetos sustentáveis e que impulsionem a transição energética, justifica o interesse no projeto térmico movido a combustível fóssil pela necessidade de garantir segurança energética. “Infelizmente, com as fontes de energia que temos hoje, não é possível colocar 100% de energia limpa”, disse. O gás natural é considerado por muitos especialistas no setor energético como o combustível da transição, uma vez que tem emissões mais baixas que o óleo diesel, por exemplo.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 01/09/23, às 17h32.
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