De um lado, as favelas do Jardim Panorama. Do outro, as mansões, os prédios de escritórios e o shopping de luxo Cidade Jardim. Bem nesse local que simboliza o abismo social da maior cidade da América Latina será erguido um residencial com 369 apartamentos para a população de baixa renda atendida pelo Minha Casa Minha Vida (MCMV). O projeto é da Sindona, incorporadora de Osasco e que está lançando seu primeiro empreendimento em São Paulo.
A Sindona foi fundada em 2002 e se especializou em projetos dentro do programa habitacional com itens de condomínio típicos de condomínios para pessoas de renda média, como academia, terraço, piscina com borda infinita e até quadra de beach tênis. Desta vez, a companhia buscou inovar na localização e achou um terreno dentro de uma zona famosa pelos vários imóveis de gente rica.
A poucos metros dali, a JHSF tem um projeto em que os apartamentos de 450 m2 saem a partir de R$ 20 milhões. Por sua vez, o preço médio dos apartamentos da Sindona é de R$ 287 mil, considerando plantas que vão de 28 m2 a 54 m2. A venda de todas as 369 unidades deve movimentar R$ 106 milhões.
Plano Diretor de Haddad viabilizou área ao projeto de habitação popular
O dono da companhia, Bruno Sindona, diz à Coluna do Broadcast que o mérito de viabilizar um condomínio de moradias populares em uma área nobre vem do Plano Diretor de 2014, obra do entao prefeito, o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Foi esse plano que balizou o caminho para que aquele espaço fosse classificado como uma área para a habitação de interesse social (HIS), portanto, com possibilidade de um maior adensamento.
Até então, o terreno estava nas mãos de um outra empresa, que pretendia construir ali dez casas de alto padrão, parecidas com as demais que já existem na vizinhança. Mas a mudança advinda do Plano Diretor obrigou os antigos empreendedores a buscarem uma outra solução para o projeto, conta Sindona. Foi aí que ele entrou no negócio e comprou o terreno por cerca de R$ 14 milhões.
“Serão 369 apartamentos no lugar onde antes teriam 10 casas. Conseguimos adensar o espaço, construir mais e diluir o valor do terreno entre várias famílias que vão morar ali”, conta. “Essas pessoas de baixa renda vão ter acesso ao IDH da região do Cidade Jardim, com rede hospitalar, boas escolas e transporte. É uma transformação porque essas coisas as pessoas da periferia não costumam ter acesso”, diz Sindona, que foi convidado pelo Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a integrar o Conselhão do Lula, com mais de 200 empresários.
Só famílias com renda de até três salários mínimos podem comprar
Lançado no início de maio, o residencial a 400 metros do Shopping Cidade Jardim já teve 35% das suas unidades vendidas. Por se tratar de um projeto em área de habitação de interesse social, ele é destinado exclusivamente para as famílias com renda de até três salários mínimos.
Esse enquadramento dificulta as vendas, avalia o empresário. Para dar conta de pagar pelo apartamento, as famílias têm que dar uma entrada de R$ 80 mil, que costuma ser dividida em R$ 15 mil no ato e os R$ 65 mil restantes em até 36 meses, durante a obra. O restante é com a Caixa Econômica Federal em até 35 anos.
“Pelo interesse, poderíamos ter vendido em um mês, mas existe esse limitador legal de só vender para quem ganha até três salários. Mas se não for assim, desvirtuaria a lei, porque ela autoriza o adensamento da área para esse fim”, pondera.
Sindona planeja triplicar lançamentos neste ano
O próximo projeto da Sindona ficará no Morumbi, perto da Avenida Giovanni Gronchi. Para 2023, o plano da incorporadora é triplicar os lançamentos e chegar a um VGV de R$ 300 milhões. Já em 2024, prevê R$ 500 milhões. É um crescimento importante, embora ainda se trate de números tímidos perto dos grandes nomes do setor, como MRV, Direcional, Cury e Tenda, por exemplo, com lançamentos na faixa dos bilhões de reais.
“Queríamos acelerar até mais, mas a questão dos juros altos nos atrasou. O Brasil levou mais tempo que o previsto para reagir neste ano”, diz Sindona, acrescentando que percebeu uma recuperação a partir de junho, melhor mês em vendas desde 2021. A incorporadora tem um banco de terrenos com potencial de lançar um total de R$ 1,3 bilhão em empreendimentos residenciais dentro do MCMV.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 07/08/23, às 18h00.
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