Os juros elevados nos Estados Unidos devem nutrir por mais tempo o difícil ambiente enfrentado por startups e fintechs. As taxas longas americanas bateram ontem o maior nível em 16 anos e devem afetar o interesse em investir nessas companhias e a captação dos fundos. Pesquisa da ACE Ventures com 25 fundos, feita em conjunto com o Softbank e a Emerging VC Fellows, mostra que as startups brasileiras não escaparam do processo de correção de preços que teve início nos Estados Unidos e que tem levado a sucessivas revisões para baixo nos valores dessas companhias, o chamado “down round”.
Na avaliação de 87% das gestoras de capital de risco (ou venture capital) brasileiras, como são chamados os fundos que compram participação em empresas nascentes, houve essa correção. Dos gestores ouvidos, 21% citaram que “down rounds” passaram a ser uma prática comum após 2021, quando os juros começaram a subir lá fora e aqui.
Mesmo com a forte correção recente no valor das startups, o cenário para o investimento dos fundos de venture capital ainda é desafiador, avalia o diretor de investimentos na ACE Ventures, Pedro Carneiro. “Ainda estamos vivendo o reflexo das mudanças que começaram em 2021, quando a curva de juros começou a subir.” Agora, a sinalização de juros mais altos por mais tempo pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que tem feito a taxa dos títulos do Tesouro dos EUA subirem, é um dos fatores que contribui para a manutenção da cautela dos investidores, ressalta Carneiro.
Nos EUA, Instacart estreou na Nasdaq com avaliação menor
Uma das evidências do momento desafiador foi a recente abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) nos Estados Unidos da Instacart, especializada em entregas de produtos de supermercados. A empresa já foi avaliada em US$ 39 bilhões, mas ao chegar na Nasdaq, valia US$ 10 bilhões e viu suas ações recuarem ainda mais nos dias seguintes à estreia. Foi a primeira startup bancada por fundos de venture capital a estrear na bolsa americana desde dezembro de 2021.
Para o empreendedor brasileiro que quer levar sua empresa para a bolsa, o juro americano é muito mais importante que o juro brasileiro, até porque boa parte dos recursos que serão investidos em sua empresa são de fora, ressalta o gestor. E o investidor internacional está mais ligado ao Fed. Mesmo que o fundo seja baseado no Brasil, os gestores sabem que vão depender do capital internacional pela frente. Assim, se existe cautela lá fora, Carneiro ressalta que o investidor aqui também acompanha o movimento.
As startups brasileiras atraíram investimentos nos últimos anos, mas ainda estão muito distantes dos pares nos Estados Unidos. Para chegar perto desse patamar, precisariam de ao menos 15 vezes mais investimento, mostra a pesquisa que avaliou os 25 principais fundos de venture capital do Brasil. Segundo o levantamento, o País recebeu US$ 4 bilhões em investimentos nesse segmento no último ano, enquanto os EUA receberam US$ 245 bilhões.
Em tempo de dinheiro mais caro, a pesquisa mostra que os investidores não querem saber de aventureiros. Os fundos afirmam que a avaliação do perfil dos fundadores é o ponto de partida para qualquer investimento. Para 70% dos entrevistados, a experiência no mercado dos fundadores de startups é um dos fatores primordiais observados para se decidir um novo investimento. Na ACE, Carneiro conta que a cada mil startups avaliadas anualmente, o investimento é feito em apenas “quatro ou cinco”.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 05/10/23, às 11h23.
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