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Bastidores do mundo dos negócios

‘Máquina de negócios’, La Liga vê Eurocopa como trunfo e avança no Brasil

País é um dos principais mercados da organização esportiva espanhola no exterior

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Foto do author Cristiane Barbieri
O craque francês Kylian Mbappé foi apresentado à torcida do Real Madrid na última terça-feira Foto: Andrea Comas/AP

O fato de a Espanha ter ganhado a Eurocopa na mesma semana em que Kylian Mbappé, um dos maiores jogadores da atualidade, chegou ao Real Madrid é mais do que uma coincidência de fim de temporada, diz a La Liga. O movimento é resultado de quase uma década de trabalho da liga de clubes de futebol espanhola, que faturou quase 5 bilhões de euros (cerca de R$ 27 bilhões) no ano passado, com alta de 15% sobre 2022, de acordo com Daniel Alonso, delegado da La Liga no Brasil. Sim, como qualquer multinacional, a entidade tem 44 representantes e 11 escritórios espalhados ao redor do mundo atrás de negócios - e eles foram responsáveis por boa parte da alta de 28,6% nas receitas comerciais no ano passado. O Brasil é um de seus principais mercados.

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“O sucesso esportivo tem muitas nuances, mas para chegar a esse ponto de competitividade é preciso ter um ecossistema muito saudável”, diz Alonso, que está há cinco representando a La Liga no País, depois de ter passado três em Portugal no mesmo papel. “O Real Sociedad tinha cinco jogadores na seleção espanhola, inclusive o que fez o gol na final da Eurocopa; o Athletic de Bilbao outros tantos, incluindo o goleiro: isso significa protagonismo de times menores, que têm qualidade e acabam resultando num produto altamente competitivo.”

E com apelo para venda, apesar da paralisia nos novos contratos causada pelos episódios de racismo que envolveram o brasileiro Vinícius Jr. Mesmo assim, a operação internacional é a frente de maior crescimento, já que os direitos de transmissão, principal fonte de receita, têm um teto de valor já praticamente alcançado, em torno de 3 bilhões de euros.

Multinacional

Se há poucos anos, 80% da receita com direitos de transmissão era proveniente da Espanha e 20% de outros países, hoje o porcentual está em 60% (mercado espanhol) a 40% (internacional). Assim, como os pares internacionais, o escritório brasileiro tem diversas frentes de negócios. Uma delas é aumentar o valor da marca, com relação aos direitos de transmissão audiovisual.

No caso, a missão da equipe brasileira é entregar mais engajamento e conteúdo voltado à estratégia de negócios da parceira exclusiva no Brasil, a ESPN. “Se eles quiserem aumentar o número de assinantes no Disney Plus, por exemplo, trabalhamos juntos para atingir esse público, principalmente o mais jovem, que consome produtos audiovisuais de um outro jeito”, diz Alonso. “Esse é um desafio para qualquer produtor de conteúdo esportivo e trabalhamos inclusive com outros influenciadores que essa nova geração ouve.”

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A La Liga também tem uma escola de negócios, criada para alimentar o mercado espanhol de futebol profissional e que tem ganhado espaço no Brasil, após a criação da lei das SAFs (Sociedade Anônima de Futebol). Entre outros programas, há imersões na Espanha nas quais grupos (ligados ao campo ou à gestão) visitam times de vários portes. “Nem todos os clubes globais podem ter a estrutura do Real Madrid ou do Barcelona”, afirma. “É importante que o dirigente ou o diretor de futebol consiga se espelhar em realidades parecidas com a sua para poder se inspirar.”

Golzinho

Outra frente de negócios é a Liga School, rede de escolinhas de futebol com 23 unidades em sete Estados, com uma empresa local. Os planos são abrir de 10 a 12 novos pontos por ano. Segundo Alonso, um diretor técnico espanhol dá suporte e acompanha o trabalho nas escolas.

Outra área importante são patrocínios de marcas que queiram se associar ao campeonato espanhol - e que enfrentou uma crise com os episódios de racismo nos estádios daquele país. “É natural que as marcas tenham resistência, mas a gente é muito assertivo com o racismo”, diz ele. “Erramos na comunicação, mas o próprio Vinícius agradeceu nossa luta com ele.”

As empresas patrocinam o grupo de times em troca de pacotes, como ingressos VIPs a serem distribuídos a clientes ou funcionários, ou apenas pela visibilidade. Apenas no Instagram, a La Liga tem 2,7 milhões de seguidores. “Cada cliente tem uma demanda e desenhamos soluções para cada um”, diz ele. “A Iberia, por exemplo, quer falar com o jovem e a Chubb Seguros quer crescer na América Latina.”

Pirataria

Há ainda um amplo esforço de combate às transmissões piratas de futebol. “É uma verdadeira hidra global, que se corta uma cabeça e aparecem mais quatro”, diz. Apenas na Espanha, há uma equipe de mais de 50 pessoas dedicadas a esse tema, inclusive com o desenvolvimento e distribuição de softwares de combate à pirataria, bem como de influência entre os legisladores globais.

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Para Alonso, o resultado do trabalho, que fez com que a La Liga fosse de 50 para 700 funcionários em dez anos, envolveu um longo processo de amadurecimento. Além de os direitos de transmissão passarem a ser vendidos coletivamente, os times tornaram-se os produtores do próprio conteúdo, o que deu maior poder de barganha nas negociações.

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Também as regras de fair play financeiro - aprovadas por todos os clubes - fazem a diferença. Os times têm limites de gastos com elenco, por exemplo, submetidos à La Liga a cada temporada. “Pelo tamanho, o Real Madrid poderia ter contratado o Mbappé e o [Erling] Halland (do Manchester City) na mesma temporada”, diz ele. “Mas é exatamente por ter uma boa gestão financeira que esses movimentos não são feitos.”

Talentos

Em vez disso, diz ele, acontecem apostas altas em jovens talentos, como em Endrick, que acaba de chegar do Palmeiras, ou o Reinier, que saiu do Flamengo e está no “purgatório”. “O Barcelona tem uma camisa tão pesada quanto a do Real Madrid, mas está em situação econômica delicada”, diz ele. “Tem a ver com boa gestão, que é o que a gente prega.”

Nos próximos passos, está a aceleração da receita dos times, com o programa Impulso CVC, de construção de estádios, centros de treinamento e pessoal para diversificação nas entradas de recursos. A liga vendeu 9% de seus direitos de transmissão ao CVC Capital Partners por 2 bilhões de euros e os clubes estão avançando em diferentes projetos, como a renovação do estádio Santiago Bernabéu e investimentos no Spotify Camp Nou, entre vários outros.


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Este texto foi publicado no Broadcast no dia 19/07/24, às 18h33.

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