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Bastidores do mundo dos negócios

Março tem inéditos R$ 10 bi em ofertas de debêntures incentivadas

Cenário tem permitido às empresas captar recursos com custos em patamares baixos

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Prio emitiu R$ 2 bilhões em debêntures incentivadas: operação foi oportunística, para aproveitar a demanda pelos papéis Foto: Eduardo Chamon

O mercado de debêntures incentivadas, que concedem isenção fiscal ao investidor, está altamente aquecido. Somente em março, as ofertas somam inéditos R$ 10 bilhões, entre as já liquidadas e aquelas que ainda serão precificadas. São operações de companhias que veem oportunidade de captar a custos em patamares praticamente recordes de baixa, provocados por uma enorme e crescente demanda de investidores que procuram por alternativas aos títulos isentos ligados ao setor imobiliário e do agronegócio, após restrições impostas no inicio de fevereiro pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

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“É um montante totalmente atípico”, diz presidente da Sparta Investimentos, Ulisses Nehmi, lembrando que em todo o ano passado foram colocados no mercado cerca de R$ 50 bilhões desses papéis. Ele acredita que este ano, o total a ser distribuído ao mercado em debêntures incentivadas irá superar o de 2023.

O executivo diz ainda que muitas dessas ofertas são de empresas que tinham captações no radar, mas diante da demanda, que tem impacto direto no custo, estão bastante animadas. Há papéis de primeira linha que chegam a ser negociados com prêmio negativo, fazendo com que as empresas corram para emplacar ofertas nesse momento.

Claro, Vero, Equatorial e Aegea estão na fila

Nessa fila estão a Claro, Vero, Equatorial e Águas do Rio (Aegea), na expectativa de levantar recursos com custo zero. O preço dos títulos de renda fixa é composto pela taxa de juro básica - para as debêntures normalmente a NTN-B (título público indexado à inflação), somado a um prêmio, que representa o quanto o investidor quer de remuneração acima do juro para ficar com o papel. “Existe uma corrida pela ‘B careca’”, diz, mencionando jargão do mercado que se refere à NTN-B sem juros reais.

A petroleira Prio, por exemplo, concluiu uma oferta de R$ 2 bilhões em debêntures incentivadas, admitindo que a operação foi oportunística, para aproveitar a demanda pelos papéis, embora tivesse liquidez suficiente para os investimentos previstos.

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A Claro obteve aprovação do Ministério das Comunicações para emitir até R$ 5,7 bilhões em debêntures de infraestrutura nos próximos cinco anos e já colocou na rua uma captação de R$ 3 bilhões, de olho na “B careca”.

Investidores estão órfãos de papéis com liquidez diária

No pano de fundo estão investidores que ficaram órfãos dos instrumentos de liquidez diária, como as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCAs e LCIs), depois que o CMN esticou o prazo mínimo das aplicações de 90 dias para nove meses e 12 meses. O CMN colocou também restrições no lastro para emissão pelas empresas de Certificados de Recebíveis do Agronegócio e Imobiliário (CRAs e CRIs), exigindo que os emissores tenham relação direta com os respectivos setores.

A forte demanda e a compressão rápida dos prêmios já chama a atenção de vários participantes do mercado. “As taxas estão muitos apertadas e a qualquer momento haverá correção”, diz Samy Podlubny, chefe da área de dívida do UBS BB. Para ele, ainda que a demanda seja elevada o mercado tem de ser racional e remunerar o investidor de acordo com os riscos inerentes do papel.

O fundador e presidente da gestora de recursos Verde Asset, Luis Stuhlberger, também emitiu alerta: “O desafio é não se empolgar demais com isso”. Em evento em São Paulo, o gestor afirmou que, em geral, as emissões de debêntures incentivadas são de boa qualidade. “Mas claramente vão ter problemas. Nem todas são boas”, disse.

O presidente da Sparta, por sua vez, acredita ser necessário cuidado, mas não enxerga anomalias em termos das remunerações que estão sendo praticadas, embora os prêmios estejam perto das mínimas de 2022 e de 2019.

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‘Ponto de indiferença’ está próximo

Segundo Nehmi, há um ponto em que a remuneração cai tanto que deixa de ser atraente para o investidor, apesar da isenção, em relação às debêntures tradicionais. Esse ponto, que ele chama de “ponto de indiferença”, está próximo, sinalizando que as próximas ofertas mostrarão se os prêmios poderão cair ainda mais.

Por isso, o executivo enxerga fluxos de recursos indo para as debêntures não incentivadas como natural, provocando uma queda nos custos para emissão também desses títulos, que já começou.

Nehmi afirma ainda que o fluxo maior está vindo da queda na oferta de LCAs e LCIs, indo para as debêntures incentivadas e para fundos que alocam nesses papéis, alguns deles com liquidez diária ou próximo disso. A Sparta, por exemplo, teve de fechar o seu fundo de debêntures incentivadas após as captações alcançarem R$ 1 bilhão. Nehmi diz que o estoque de LCAs e LCIs tem caído em média R$ 10 bilhões ao mês desde as novas regras do CMN.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 21/03/24, às 15h56

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