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Bastidores do mundo dos negócios

Mineradora Sigma Lithium avalia emissão de títulos verdes de até US$ 200 milhões

Empresa já chamou a atenção de investidores como Tesla e BYD

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Operação da Sigma Lithium no Vale do Jequitinhonha (MG): empresa quer dobrar produção e estuda opções de financiamento Foto: TABA BENEDICTO

A Sigma Lithium, mineradora e beneficiadora de lítio de Minas Gerais que chamou a atenção de investidores como Tesla e BYD, quer aproveitar os avanços obtidos na frente operacional para ampliar as fontes de financiamento e acelerar a expansão dos negócios. A empresa abriu uma frente de crédito com bancos comerciais, tem negociação avançadas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e avalia uma emissão de títulos verdes (green bonds) de até US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão).

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A torneira do crédito começou a se abrir conforme caminharam os embarques do minério feitos a partir do Vale do Jequitinhonha, em MG. A empresa fez a primeira exportação em julho do ano passado e está chegando ao nono envio. Os embarques recorrentes ajudam a afastar dúvidas do mercado sobre a capacidade da ex-banqueira Ana Cabral de tirar o plano de negócios do papel e do grupo gerar caixa.

“Atravessamos a arrebentação e hoje já recebemos o mesmo tratamento de produtores consolidados”, afirmou Cabral, CEO e co-presidente do Conselho de Administração da Sigma Lithium, em entrevista à Coluna. A mineradora prevê gerar cerca de R$ 600 milhões de caixa este ano.

Negociação para entrada de novos sócios ocorre há meses

O avanço da produção ocorre em paralelo a uma negociação para a entrada de novos sócios que se arrasta há meses. O processo bilionário movimenta as principais montadoras e mineradoras globais, já despertou atenção da Tesla e tem os chineses da BYD posicionados entre um dos principais interessados atualmente.

A Sigma tem pressa na frente operacional. A intenção é duplicar a capacidade anual de produção de lítio, para 510 mil toneladas. Em 2025, o plano é chegar a 768 mil toneladas. Para isso, a empresa avalia diversas opções de financiamento e olha o mercado de capitais como uma alternativa óbvia.

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“Estamos avaliando o ‘green bond’. Hoje não ganhamos nada por ser verde”, afirma Cabral. “Um ‘green bond’ barato ajuda a diminuir meu custo de financiamento.” A referência verde se dá tanto porque o lítio é um minério da transição energética quanto pelo método de produção a seco usado na operação de Minas Gerais.

A empresa já está em conversa com três bancos e tem como referência as operações de títulos verdes feitas recentemente pela Raízen e pela Ambipar.

Companhia tem linhas abertas com bancos

Na frente de crédito, uma carta de intenções foi assinada no início do ano com o BNDES para um financiamento de cerca de US$ 100 milhões (em torno de R$ 500 milhões). Mesmo que não se confirme, a empresa já tem US$ 90 milhões assegurados com bancos como Citi, BB e XP, e deve usar os recursos para iniciar a construção de uma segunda planta em Minas Gerais.

Um acordo comercial com a Glencore também dá fôlego para as operações. A gigante anglo-suíça antecipa os recursos para a Sigma assim que o minério chega ao armazém, no porto de Vitória (ES), e recebe por isso uma comissão. O percentual da antecipação foi recentemente elevado de 50% para 85%, o que está ajudando a financiar a brasileira.

O mercado global de lítio vive um período de baixa. A tonelada da commodity chegou a ser comercializada a valores abaixo de US$ 13 mil no início deste ano, o menor nível desde 2020, segundo a consultoria Benchmark Mineral Intelligence. Com o ciclo negativo, as ações da Sigma caem cerca de 60% este ano, para próximo de US$ 13. No “boom”, porém, haviam saltado de cerca de US$ 2 em 2020 para mais de US$ 40 em meados do ano passado.

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Cenário atual não muda planos

Para Ana Cabral, o cenário atual não muda os planos da mineradora. “Para nós, o grande ponto é a celeridade. Estamos com pressa, porque é neste ambiente desafiador de preços que poderemos mostrar a nossa vantagem competitiva, de que somos um produtor de baixo custo.”

É nesse ponto, da conjuntura, que a questão operacional começa a se conectar com as negociações da venda de uma participação para um potencial parceiro. Embora nos contratos operacionais a empresa seja vista como produtora estabelecida, a Sigma acredita que o mesmo não aconteceu com o preço em Bolsa.

A avaliação é de que a brasileira acabou arrastada para a desvalorização que afetou os produtores, mas de um patamar mais baixo, sem que antes tivesse sido de fato reconhecida como um negócio que já está em operação. Na prática, isso significaria um descasamento no valor de mercado em comparação aos pares. “Estamos sendo negociados a preço de pré-produtor na Austrália”, diz Cabral.

Valor de mercado está descasado dos pares

A concorrente australiana Pilbara Lithium, por exemplo, tem uma avaliação de mercado cinco vezes superior à da Sigma, enquanto a produção é cerca de duas vezes maior. A Pilbara, listada na Bolsa da Austrália, vale hoje quase US$ 8 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) e a Sigma, com ações na Bolsa de Toronto e na Nasdaq, em Nova York, é avaliada em US$ 1,4 bilhão (R$ 7 bilhões).

“A ironia é que quanto mais executamos, mais interessantes ficamos como parceiro estratégico. Muitos estão procurando parceiros e nós saímos de um negócio que tinha apenas uma planta de britagem e passamos a ser o quarto maior produtor mundial de lítio em um ano”, afirmou Cabral.

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Questionada, a executiva não comentou sobre o andamento das negociações acerca dos potenciais sócios. Disse apenas que é um processo sobre o qual não tem controle. Ela destaca, porém, o interesse por um sócio que “reme junto” e também afasta dúvidas de que poderia deixar a operação. “O que os sócios querem é a gente executando”, diz a executiva.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 19/03/24, às 16h59

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