A empresa retoma os voos internacionais no Brasil a partir do dia 15, com a rota São Paulo (Guarulhos) para Madri. Na capital paulista, dos sete voos semanais, a Air Europa terá por enquanto três. Salvador, Fortaleza e Recife devem voltar até novembro, com duas frequências semanais cada (antes a empresa tinha três).
Entretanto, a operação no Brasil hoje tem desafios adicionais. O País é o segundo com maior número de casos confirmados da pandemia no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. "A situação está difícil no Brasil. Ninguém pode negar isso, mas esperamos que seja controlada", disse o executivo.
Como forma de atrair clientes nesse momento, a empresa iniciou uma promoção global de passagens que, além de descontos, concede duas remarcações sem custos (caso feitas com 30 dias de antecedência). A ação da empresa não é individual. A Agência Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) apontou que as tarifas aéreas para voos no mercado doméstico em maio estão 23% menores na comparação anual, tudo para incentivar o passageiro.
Em meados do ano passado, a Air Europa apresentou pedido junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para operar voos domésticos no Brasil. A Anac foi procurada para detalhar como está o trâmite, mas destacou que a Air Europa ainda não iniciou o processo de certificação operacional e que não tem outras informações sobre a empresa. Como se trata de um assunto da matriz, Romero disse que não poderia comentar. Outra espanhola que também iniciou a certificação foi a Air Nostrum que, devido aos impactos da pandemia da covid-19, suspendeu o processo, mas disse à Anac manter interesse em operar no País. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Broadcast: O que a empresa tem feito para conseguir atravessar a crise? Gonzalo Romero: A Air Europa tem trabalhado para criar e adaptar os protocolos de segurança para os passageiros. Nosso primeiro foco e desafio, além e tentar enxergar qual seria o momento melhor para a retomada, também é entender qual seria o melhor caminho para dar segurança e tranquilidade ao nosso passageiro. Estamos aplicando novas modalidades de embarque, para evitar aglomerações, além de toda a tecnologia que os aviões têm para filtrar o ar.
Broadcast: Quais os desafios no desenvolvimento desses protocolos? Romero: Somos uma companhia espanhola. O principal hub é o aeroporto de Madri. Como companhia europeia, todos os protocolos estão alinhados com a comunidade europeia, além da Iata. Também temos de nos alinhar aos protocolos sanitários dos países em que operamos, como nos adequar à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no caso do Brasil. Hoje os passageiros estão procurando se sentir seguros. Estamos nos esforçando muito para elevar ainda mais os protocolos de limpeza dentro das aeronaves e estamos 100% alinhados às exigências.
Broadcast: A empresa anunciou no início desse mês a retomada dos voos de São Paulo (Guarulhos) para Madri já no próximo dia 15. O que deu segurança para esse passo? Romero: Estudamos qual seria a melhor data para o início das nossas operações. Começamos a enxergar, já em maio, uma luz no fim do túnel quando os principais países da comunidade europeia já falavam em abertura de fronteira. Na Espanha, eles já estão sinalizando a saída da quarentena. A ultima etapa deles está prevista para 22 de junho, quando também voltamos nossos voos domésticos (na Espanha).
Broadcast: A empresa está com um cronograma bem definido de retomada. Mas como medir as incertezas para a demanda? Há otimismo? Romero: É muito difícil entender a demanda e oferta real. Nada será como antes. Tudo mudou. O fluxo de passageiros mudou. O grande desafio será entender qual demanda vamos ter pela frente. No primeiro momento, vemos agosto, setembro e outubro com fluxo de passageiros que precisam viajar por questões familiares, isso porque a Europa está saindo da quarentena. Depois, de outubro até dezembro, seria o segmento corporativo. E em janeiro e fevereiro vamos ter passageiros para turismo. No Brasil, achamos que temos uma demanda reprimida, que é o passageiro que aguarda uma certeza maior sobre o fim da pandemia para poder marcar a viagem. Pelo lado da Air Europa, pensamos que nada vai ser como antes. Com certeza tudo vai ser mais difícil.
Broadcast: Então, na visão da empresa, o pior na crise já passou? Romero: O pior período foi abril e maio. Mas tudo está atrelado ao que vai acontecer com o mundo, se os países vão reabrir fronteiras e se não teremos uma segunda onda da covid-19. Achamos que o pior já passou, mas temos essas incertezas.
Broadcast: Quais mecanismos vocês usaram para proteger a saúde financeira da empresa no Brasil? Romero: A indústria da aviação como um todo foi muito prejudicada e a América Latina mais ainda (a demanda doméstica global recuou 86,9% em abril na comparação anual contra queda de 93% no Brasil, segundo a Iata). O principal desafio foi tentar entender como mexer no fluxo de caixa no curto prazo. As aéreas têm custos fixos grandes. Fizemos um trabalho interno financeiro bem robusto. O nosso principal desafio foi negociar contratos com diferentes fornecedores e os lessores (arrendadores de aeronaves). Foi duro, mas conseguimos fazer essa negociação.
Broadcast: Enquanto a Europa sinaliza a saída da quarentena, o Brasil tem passado por uma grave crise de saúde. Hoje somos o segundo país em número de casos. Há receio de que essa dificuldade do governo brasileiro possa comprometer os negócios?Romero: A situação está difícil no Brasil, Ninguém pode negar isso. Mas esperamos que seja controlada. Realmente acreditamos que tudo tem de começar a melhorar. O dólar já começou a melhorar muito e isso é uma ajuda para o passageiro que quer viajar. Mas, sim, temos uma incerteza. Mas acreditamos que saímos da parte mais crítica. É um recomeço.
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