Rodrigo Gomes começou a Watts com uma ideia e um problema. Acreditava que haveria demanda crescente por motos elétricas, por conta da sustentabilidade, mas... só tinha uma moto trazida da China para começar o negócio. Venceu com a criatividade do empreendedor brasileiro: “Eu tinha um quiosque no shopping de Londrina e trocava a cor da moto à noite, numa parceria com um funileiro, para parecer que eu tinha mais opções no mostruário”, diz ele. O primeiro lote foi vendido antecipadamente e assim ele começou a startup, comprada pelo Grupo Multi (ex-Multilaser) em 2022, por R$ 10,5 milhões.
Hoje, Gomes é diretor comercial da área de mobilidade elétrica do Multi, que abriga também karts, hoverboards, patinetes e bicicletas elétricas, entre os 7,5 mil itens que o grupo oferece, em 40 mil pontos de venda. Dois anos após a aquisição, a estrutura começa a avançar nos planos de consolidação e a mostrar os primeiros resultados.
No primeiro semestre, as vendas da área aumentaram 30% e, em motos e scooters, mais do que dobraram. Apesar de os porcentuais não dizerem muito, já que a base de comparação é baixa, Gomes diz que mostram uma tendência trazida pelo fato de a Watts estar agora sob uma estrutura maior.
Investimento de R$ 10 milhões
A fábrica em Manaus, projetada para 5 mil unidades por ano na fase em que a Watts ainda caminhava solo, passou a ter capacidade para 100 mil motos, com investimentos de R$ 10 milhões e, hoje, 38 funcionários. A marca soma hoje 40 concessionárias, com especial força no Nordeste e Centro-Oeste.
Só que o mercado de motos elétricas ainda é embrionário. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), do mais de um milhão de motos vendidas no País até agosto, apenas 4,7 mil eram elétricas.
Dentro desse universo restrito, a Watts ocupa o 6º lugar no acumulado do ano, com 4,4% de participação e apenas 207 motos novas emplacadas. A empresa diz que, somadas outras marcas chinesas antes de a fábrica começar a funcionar, sua participação de mercado vai a quase 20%, com 845 motos emplacadas. A marca não tem motos para entregadores que rodam muito ou para grandes viagens, por conta da autonomia.
Para tentar mudar este cenário, a empresa traçou uma estratégia. “Nossos principais concorrentes não são as motos elétricas, mas as motos à combustão”, diz ele. “Em junho, começamos o processo de colocar os produtos em revendas multimarcas, para que o consumidor possa testar e comparar as duas alternativas.”
Um diferencial, afirma, são as taxas subsidiadas, pelo fato de serem veículos sustentáveis. Os preços entre os modelos a combustão e elétricos são equivalentes. A scooter da Watts sai por cerca de R$ 16 mil e a moto de trilha está em torno de R$ 31 mil.
Baterias portáteis
Gomes espera também vencer a resistência do consumidor a veículos elétricos com tropicalizações feitas ao produto. No caso da bateria, por exemplo, elas são portáteis, prontas para serem recarregadas numa tomada comum, de apartamento. Duram cinco anos e equivalem a 35% do valor da moto. “Não é preciso ir a uma oficina para trocar a bateria”, diz ele. “Como a moto praticamente não tem peças e a energia elétrica é mais barata que outros combustíveis, a economia é de 70%, em cinco anos.” Outra iniciativa está ligada ao treinamento nas concessionárias tanto para as equipes de venda quanto para as de assistência técnica.
Além das concessionárias próprias e multimarcas, outra frente de negócios são frotistas. Como grandes empresas têm metas de redução de emissões de poluentes, a moto elétrica surge como uma alternativa para a mobilidade das equipes. A Heineken em Teresina (PI), diz ele, trocou 28 motos à combustão por elétricas - e ainda montou um pátio com geração de energia solar, para abastecê-las. Hoje, a área de frotas já significa 20% da receita, que ele não revela. A tendência, mais uma vez, é de crescimento, segundo Gomes.
O Grupo Multi teve receita líquida de R$ 3,5 bilhões no ano passado, com queda de 20% em relação ao ano anterior. O prejuízo foi de R$ 836 milhões. A prioridade da empresa, no ano passado, foi geração de caixa e, para 2024, a volta à rentabilidade.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 12/09/2024, às 16h16.
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