Após um revés durante a passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Argentina, as ações do Banco do Brasil voltaram a abrir vantagem frente a rivais na Bolsa. No acumulado do ano até ontem, sobem 17,05%, sendo que o concorrente mais próximo, o Santander, tem alta de 2,63%. Os primeiros passos da gestão de Tarciana Medeiros na instituição trouxeram um misto de alívio e euforia ao mercado, após a presidente sinalizar que a rentabilidade vai continuar no centro da estratégia da gestão. Até aqui, ela trocou sete dos oito vice-presidentes, e escolheu nomes experientes do próprio banco para os postos.
Os papéis do BB caíram na segunda e na terça-feira após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que o banco financiará exportações à Argentina por meio de cartas de crédito. Ele depois esclareceu que o banco não ficará com o risco, mas a fala foi vista no mercado como uma divergência após duas semanas de sinalizações bem recebidas sobre o papel do BB no governo petista.
Nesta quarta-feira (25), porém, os papéis recuperaram praticamente todas as perdas após a divulgação da lista de credores da Americanas. Entre os grandes bancos listados, o BB é o menos exposto à companhia, com R$ 1,3 bilhão em empréstimos. Na avaliação da XP Investimentos, o impacto da recuperação judicial da varejista sobre o lucro do banco deve ser o menor entre as cinco instituições de maior porte listadas na B3, de menos de 10%.
Quase toda a cúpula do BB foi trocada
A presidente do BB fez trocas em praticamente toda a cúpula. Ainda não houve mudanças na área de Agronegócios, mas a expectativa é de que isso ocorra. Em todos os casos, Medeiros selecionou executivos de longa carreira no BB, sendo que alguns haviam deixado o banco.
A indicação mais recente, do novo vice-presidente de Governo e Sustentabilidade Empresarial, José Ricardo Sasseron, seguiu essa tendência: ele trabalhou no BB por 32 anos. Foi diretor de Seguridade da Previ entre 2006 e 2012 e conselheiro deliberativo da entidade, entre 2004 e 2006.
Em sua posse, na semana passada, Tarciana Medeiros disse que o banco vai conciliar rentabilidade e atuação social. “O BB continuará a ser um banco rentável e sólido, criando valor para a sociedade. Podemos, sim, conciliar nossa atuação comercial com uma atuação pública”, afirmou. No mercado financeiro, a recepção ao discurso foi positiva.
”Após um discurso moderado da nova presidente, Tarciana Medeiros, e uma série de nomeações de funcionários de carreira para cinco posições-chave, acreditamos que o anúncio do CFO é uma boa indicação de que o banco deve continuar sem grandes mudanças na estratégia, e deve ser bem recebida pelo mercado”, afirmou o analista Rafael Frade, do Citi, em relatório a clientes depois da posse.
Os nomes dos vices ainda precisam passar pelas instâncias internas de governança e serem votados pelo conselho. Até lá, os antecessores seguem nos cargos - indicados durante a gestão de Fausto Ribeiro, também são funcionários de carreira.
Banco recuperou rentabilidade nos últimos anos
A continuidade da estratégia era uma dúvida do mercado diante da troca de governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendia um papel maior dos bancos públicos na economia, em discurso oposto aos dos governos de Michel Temer (MDB) e de Jair Bolsonaro (PL). No último ciclo, o Banco do Brasil recuperou rentabilidade, ultrapassando os pares do setor privado pela primeira vez em uma década.
”Desde a eleição do presidente Lula, a confiança do investidor no potencial novo papel das estatais piorou significativamente, mas o BB teve desempenho melhor que o dos pares no período”, escreveu Eduardo Rosman, do BTG Pactual. “A nova presidente deixou uma primeira impressão muito boa, as nomeações de vices foram positivas, sendo todos funcionários com mais de 20 anos de BB, e o banco confirmou distribuição de 40% do resultado para 2023.”
O banco informou a manutenção do índice de distribuição na quinta-feira passada, e divulgou, simultaneamente, as datas dos pagamentos antecipados e complementares. Ao todo, remunerará os acionistas, inclusive a União, em oito datas deste ano.
Expectativa para resultados da instituição é positiva
Esse “alívio” soma-se à percepção de que o BB tende a ficar na ponta positiva de resultados do setor. Na segunda, o Credit Suisse deu ao fenômeno o nome de “A grande divergência”: BB e Itaú devem entregar rentabilidade próxima a 20%, enquanto Bradesco e Santander Brasil, mais sensíveis a um cenário de inflação e juros altos, devem ter desempenho mais fraco.
A perspectiva do mercado é que a carteira construída pelo BB nos últimos anos ajude a preservar resultados. Como o banco é menos exposto ao crédito a pessoas físicas que seus rivais e tem uma tesouraria que se beneficia da alta da Selic, analistas avaliam que seus resultados tendem a ser mais fortes.
As expectativas eram mais conservadoras desde o ano passado, mas a recuperação judicial da Americanas pode agravar o quadro. Segundo fontes, o BB tem uma exposição baixa à varejista, tanto em termos nominais quanto relativos. ”Os 20% de rentabilidade (do BB) não vêm de altos spreads (diferença entre custo de captação e juros) aos clientes”, comentou Pedro Leduc, do Itaú BBA. “A alavanca de lucro vem das margens com mercado, qualidade de crédito superior, captação e eficiência - todos difíceis de mudar em uma canetada.”
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 23/01/2023, às 14h46
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