A Avon Products Inc. (API) recebe em outubro as propostas para a venda de seus ativos fora dos Estados Unidos e A Natura &Co já sinalizou que pode ficar com esses negócios, que incluem todas as atividades na Ásia, Europa e África. A Cigna, seguradora que fornece planos médicos e dentais para os funcionários da API nos Estados Unidos, entrou com uma ação contra a operação na Corte de Falências de Delaware, alegando que precisa ser notificada com antecedência sobre o fechamento do negócio, de acordo com documentos judiciais.
Com o processo de recuperação judicial nos EUA (Chapter 11) aceito, a Natura vai deixar de incorporar os ativos da API em seu balanço e só voltaria a fazê-lo no caso de recompra. Caso o processo de venda acabe com outro comprador, como principal credora da API, a Natura recebe parte do dinheiro levantado na operação. Caso o processo de venda seja impedido pela Justiça, por falta das notificações devidas ou outros motivos, esse planejamento ficaria prejudicado. Segundo apurou a Coluna, porém, o fato da Natura ter preferência como credora no processo tranquiliza a gestão da empresa brasileira.
O pedido da Cigna foi feito em documento enviado ao juiz no dia 30 de agosto, ressaltando uma série de razões técnicas. Entre elas, a seguradora argumenta que os contratos de execução dos devedores ficarão indefinidos até o fechamento do processo de venda, por isso precisa ser notificada ao menos cinco dias antes do fechamento da transação para saber sobre a troca das apólices. Não houve ainda uma resposta formal do juiz Craig Goldblatt ao pedido.
Operação é essencial para a empresa
Já a Avon, em um documento de 188 páginas, argumenta que a venda destes ativos é essencial para resolver a situação financeira crítica da companhia, afetada pela covid e por mais de 400 processos judiciais que acusam o talco fabricado pela companhia de causar câncer.
A Avon pediu em 12 de agosto recuperação judicial pelas regras do chamado Chapter 11. A Natura se comprometeu na ocasião a comprar os ativos operacionais da Avon fora dos Estados Unidos por US$ 125 milhões.
A oferta da empresa brasileira vale se não houver, no processo de venda que foi aberto ao mercado, outro interessado que faça uma proposta melhor. Assim, nos documentos judiciais, a Natura aceitou ser um “Stalking Horse Bidder”, termo comum em processos de falência nos EUA, onde a brasileira fez a primeira oferta de compra de determinados ativos da empresa com problemas, estabelecendo na prática um preço mínimo para a aquisição.
Negociação começou em julho
As negociações para a Natura entrar em acordo para comprar estes ativos começaram em julho, conduzidas pela Rothschild, além da participação de executivos da Avon e de um comitê especial criado para acompanhar a situação financeira da companhia. O acordo foi fechado em 12 de agosto.
Ao invés de comprar ativos específicos da Avon fora dos EUA, a Natura se mostrou interessada em adquirir todos em um único lance, o que facilita a transação, pois caso contrário seria preciso fazer várias vendas esperadas de operações em cada mercado. E é este pacote que está sendo oferecido ao mercado.
A Rothschild criou um “data room” virtual com informações confidenciais da Avon nos diversos países para mostrar a potenciais interessados, que devem assinar acordos de confidencialidade. Para a venda seguir em frente, o juiz em Delaware precisa autorizar.
Prazo vai até 18 de outubro
Os interessados em fazer uma proposta terão até às 17 horas (horário de Brasília) do dia 18 de outubro para enviar os documentos. No dia 21, a Avon informa se houve propostas qualificadas.
Se houver propostas aceitas e superarem a oferta da Natura, haverá um leilão em Nova York no dia 22 do mês que vem para definir quem leva as operações. No dia 28, o juiz dará seu veredicto sobre a transação em audiência.
Procurada, a Natura &Co não comentou.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 03/09/2024, às 18h01.
O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.
Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.