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Bastidores do mundo dos negócios

Sem capital de giro, Marisa usou seu próprio banco para pagar fornecedores

Varejista adiou balanço duas vezes e tem encontrado portas fechadas no mercado de capitais

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No ano passado, a conta era de que seriam necessários R$ 400 milhões para manter a Marisa funcionando Foto: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

Com dificuldade para divulgar o balanço do quarto trimestre de 2023, adiado duas vezes, a Marisa Lojas enfrenta a falta de capital de giro para rodar a operação normalmente e continua encontrando portas fechadas no mercado de capitais. O desafio é tamanho que a empresa precisou usar empréstimo do seu próprio Mbank para que os fornecedores da rede varejista conseguissem fazer a antecipação de seus recebíveis, segundo afirmaram fontes à Coluna.

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No ano passado, a conta era de que seriam necessários R$ 400 milhões para manter a operação funcionando, de forma a quitar pendências com fornecedores e cobrir a última capitalização de R$ 90 milhões que a família fundadora, os Goldfarb, fez no banco da companhia. Com a resistência da família em fazer novos aportes, a gestão teve de encontrar outra solução.

A companhia passou a bancar seu funcionamento negociando seus desembolsos com fornecedores. No entanto, com dificuldade de descontar as duplicatas no mercado, esses parceiros passaram a pedir dinheiro adiantado para a varejista. Como não havia caixa para isso, a Marisa Lojas lançou mão de uma nova estratégia. Os fornecedores deveriam buscar no próprio MBank a antecipação de recebíveis do que vendiam. Assim, o negócio de varejo da Marisa pagaria, posteriormente, diretamente ao MBank o que havia sido adiantado aos fornecedores.

Necessidade de recursos não cessou

Apesar dessa solução momentânea, a necessidade de dinheiro da Marisa não cessou. Já em 2024, a companhia fez três emissões de notas promissórias, que somam R$ 240 milhões. Desses, R$ 90 milhões foram subscritos pela própria família Goldfarb, como forma de socorrer o negócio.

Para conseguir recursos de forma mais organizada, a empresa anunciou no mês passado que estuda uma emissão privada ou um follow-on (oferta subsequente de ações), no qual a família se comprometeria a colocar R$ 195 milhões. No entanto, a Coluna apurou que, até o momento, a companhia não conseguiu nem sócios para a emissão privada, nem bancos dispostos a ancorar a operação no mercado de ações. Ou seja, claramente persiste a desconfiança dos banqueiros sobre a capacidade de a Marisa honrar seus débitos, como ficou público no ano passado.

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Segundo fontes, a companhia tem falado com investidores no mercado nas últimas semanas e tem tido dificuldade de encontrar um parceiro para participar da capitalização, nos moldes que o Magazine Luiza fez recentemente, de R$ 1,25 bilhão, onde a família Trajano entrou com R$ 1 bilhão e o BTG com o restante.

Momento é difícil para o varejo

No caso de um follow-on em montante que realmente resolvesse a situação financeira da empresa, a avaliação é que neste momento complicado do varejo brasileiro é difícil emplacar uma oferta. Além disso, diante do fato de o preço da ação da Marisa seguir muito baixo, poderia haver diluição importante dos atuais acionistas. Só este ano, a ação acumula queda de 52%.

Fontes lembram que a Casas Bahia em 2023 captou R$ 620 milhões em seu follow-on, bem abaixo do R$ 1 bilhão que se esperava, mesmo com a entrada dos acionistas de referência. No mês passado, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) não conseguiu colocar todo o lote extra em sua oferta de R$ 700 milhões, que teve participação importante de seu ex-CEO, Ronaldo Iabrudi, que comprou R$ 100 milhões.

No caso das empresas de vestuário, sobretudo o feminino, fontes comentam que a Shein tem tomado mercado das companhias, o que torna o ambiente para as varejistas desafiador e desestimula os investidores a dar passos maiores. Com esse pano de fundo, a Marisa já fez duas trocas de presidentes nos últimos meses, somando três nomes na presidência da companhia apenas este ano.


Este texto foi publicado no Broadcast no dia 05/04/24, às 12h06

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