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Bastidores do mundo dos negócios

Sem referência de preço, grandes fusões e aquisições hibernam

Para bancos de investimento, transações devem sair quando preços na Bolsa melhorarem

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Fusão entre Arezzo e Grupo Soma foi adiante porque as duas empresas são listadas, o que cria uma referência de preço. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Enquanto compradores e vendedores não se acertam em discussões de preço, bancos de investimento assistem a um novo ano de poucas operações de fusões e aquisições, especialmente entre grandes empresas. O que se ouve na Faria Lima, o principal centro financeiro do Brasil, é que as grandes transações estão hibernando, à espera de um momento melhor da bolsa.

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“A diferença de preço entre o que comprador e o vendedor querem negociar aumentou e isso tem feito com que as transações acabem sendo empurradas para frente”, diz o responsável no Brasil pelo banco de investimento cansense Scotiabank, Victor Rosa. Segundo ele, há muitos vendedores que ainda veem suas empresas em níveis de preços de 2021, quando o juro estava em 2%, ou seja, bem diferente de agora com as taxas acima de 10%. E as partes não conseguem chegar a um meio termo de valor.

Rosa diz que várias transações estão sendo arrastadas desde 2022, especialmente por empresas que não têm necessidade de liquidez, possuem alternativa de crédito e buscam o processo de fusão e aquisição (M&A) com um viés estratégico e a um preço que faça sentido. “São empresas que não têm pressa, querem fazer um bom negócio e não somente um negócio”, diz Rosa.

Entre alguns negócios que não avançaram nos últimos meses está a tentativa da Suzano de comprar a International Paper, a busca da Eneva de se fundir com a Vibra Energia, a compra do Hortifruti da Americanas, além de empresas de varejo de material de construção que não conseguiram se vender. De sucesso, a fusão de Soma e Arezzo foi uma das últimas a serem fechadas, mas tem uma particularidade importante. Ambas são listadas em bolsa, portanto, existe uma referência de preço nos dois lados, e envolveram basicamente uma troca de ações. Outra fusão facilitada pela presença das companhias em bolsa foi da Enauta e 3R, uma transação que vinha sendo trabalhada há bastante tempo e que envolveu um prêmio pequeno, na avaliação de um banqueiro.

Para o executivo de outro grande banco estrangeiro, que preferiu conversar em condição de anonimato, o volume de transações que estão sendo deixadas para um segundo momento é o maior em pelo menos seis anos, lembrando o ambiente na época da crise política do impeachment de Dilma Rousseff. Ele diz que os bancos têm investido muito tempo em transações que não se concretizam. “Este é um ano que está meio perdido, mesmo com as condições para tomada de crédito estejam excelentes”, diz.

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Vendedores continuam pedindo preços altos nas operações

Com a bolsa em níveis historicamente baixos, com algumas poucas exceções, os múltiplos das companhias estão pouco atrativos. As empresas privadas veem esses números e não acreditam que estejam valendo tão pouco, comenta um advogado que trabalha com fusões e aquisições e já viu alguns negócios importantes este ano ficarem pelo caminho - de dez negócios que vem trabalhando, só dois já saíram. “O vendedor quer vender sua empresa com um múltiplo de dez vezes e o comparável dela na bolsa está com cinco vezes, o negócio emperra”, resume ele.

Já entre pequenas e médias empresas, as transações mantém um ritmo melhor, muito por conta da necessidade de liquidez. Mesmo assim, a diferença de percepção de preço entre o vendedor e o comprador tem modificado as estratégias de venda.

O sócio-diretor da Seneca Evercore e ex-presidente do Goldman Sachs no Brasil, Daniel Wainstein, conta que algumas empresas que pretendiam vender 100% do negócio, estão se desfazendo de uma participação minoritária, para minimizar um gargalo de liquidez de curto prazo ou aproveitar oportunidade de investimento em outras companhias. Nesse caso, a estratégia é em outro momento melhor mais para a frente tentar vender o restante. “Ainda que a venda da fatia minoritária tenha acontecido a um preço mais baixo, essa pode ser uma saída para adquirir outra empresa que esteja com um valor de venda bastante depreciado”, afirma.

Wainstein concorda que o primeiro semestre não foi o melhor em termos de fechamento de negócios, mas defende que para os próximos meses a tendência é de aumento nos anúncios de transações. Para a consultoria inglesa TS Lombard, o Brasil já pode ter atingido o piso de pior momento da bolsa, após Lula sinalizar um pouco mais de compromisso fiscal.

O executivo da Seneca nota ainda que muitas das operações não aparecem nas estatísticas por se tratarem de negociações entre companhias com dificuldades financeiras. Segundo Wainstein, entre 20% a 25% das transações que a Seneca Evercore trabalha hoje são empresas que buscam liquidez, enquanto o restante está dividido entre aquelas que estão vendendo fatia minoritária e venda de controle.

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Com preços depreciados, o problema principal agora para se bater o martelo em um negócio grande não é mais conseguir financiamento, como foi em anos recentes. E um dos indícios é que o mercado de emissões domésticas está batendo recorde, ou seja, há recursos disponíveis. Só em debêntures foram captados um volume recorde de R$ 206 bilhões no primeiro semestre, crescimento de 164% na comparação com o mesmo período de 2023, segundo a Anbima.

Ao mesmo tempo, as estatísticas de M&A mostram queda nos volumes em relação a 2023, ano que já foi fraco. A TTR Data mapeou 747 transações no primeiro semestre no Brasil, queda de 26%. Esses negócios somaram R$ 102 bilhões, redução de 2,6%.

Este texto foi publicado no Broadcast no dia 26/07/24, às 16h52.

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