A Lar Cooperativa, de Medianeira (PR), reforçou o caixa com R$ 1,4 bilhão em uma operação sindicalizada (empréstimo compartilhado com outros bancos), a maior neste formato, liderada pelo Santander. O banco desembolsou R$ 300 milhões do financiamento feito via Cédula de Produto Rural com prazo de quatro anos. O restante veio do Banco do Brasil, Itaú, Daycoval, Bradesco e Rabobank. “Este é um ano desafiador para o mercado de dívidas e emissões e para grãos e carnes”, diz Caroline Perestrelo, superintendente executiva de Corporate Agro do Santander. Irineo Rodrigues, diretor-presidente da Lar, explica que a operação deu mais liquidez à cooperativa, alongou a dívida e reduzirá a alavancagem de 3,9 para 3,6 vezes em 2024.
Lar prevê investir R$ 500 milhões
O aporte contribui ainda para liberar capital de giro da Lar para novos investimentos. A cooperativa investiu R$ 650 milhões em 2023 e R$ 800 milhões ao ano nos três anos anteriores. “Vamos abrir nova unidade de recepção de grãos e ampliar a indústria de ração”, diz Rodrigues.
Espaço para mais operações
O Santander vê janela para novos financiamentos compartilhados em 2024. “Sabemos que a estrutura funciona para outras cooperativas. Temos pelo menos duas a três operações que devem ficar para o 1.º bimestre de 2024″, diz Perestrelo. O cenário de restrição de crédito, juros altos e menor rentabilidade motiva as operações.
Freio
Os bioinsumos, cujo uso no Brasil virou febre, seguirão atraindo a demanda dos produtores, mas o ritmo de crescimento tende a diminuir, diz Ruy Cunha, CEO da Lavoro. Ele conta que as vendas cresceram 40% nos últimos anos, mas a tendência é de que nos próximos anos se mantenham pouco acima de 20%/ano.
Sustentabilidade
Para Cunha, a desaceleração é natural à medida que cresce a base de adoção, hoje em 28% do total, número que considera excelente. Quando se fala nas principais culturas extensivas do País, como soja, milho e trigo, esse número avança para 50%. “Acreditamos que, seja pela sua eficiência, custo-benefício, ou ainda pelos incentivos a uma agricultura de baixo carbono e regenerativa, a adoção continuará em expansão”, afirma. “O produtor brasileiro está cada vez mais atento e adepto a alternativas no campo. E os bioinsumos são um dos pilares para o futuro da agricultura moderna e sustentável”, diz.
Defesa
A preocupação dos sojicultores com a ferrugem asiática elevou em 218% as vendas de fungicidas multissítios, que protegem a planta por contato, da safra 2018/19 para 2022/23, aponta a consultoria Kynetec. No último ciclo, o mercado desses produtos movimentou R$ 3,8 bilhões, com adesão próxima a 80% na soja. A comercialização de defensivos para soja somou R$ 57 bilhões para 2022/23, sendo R$ 20 bilhões de herbicidas e R$ 18,9 bilhões de fungicidas.
Cartão de visitas
Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) escalou Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, como seu porta-voz em fóruns internacionais. A estreia está sendo na COP-28, que vai até o dia 12 em Dubai. O diplomata participará de painéis sobre sistemas e segurança alimentar e transição para economia de baixo carbono. “Levamos uma agenda que destaca as soluções climáticas já adotadas pela agropecuária brasileira, essenciais à economia de baixo carbono”, diz Caio Carvalho, presidente da Abag. Para ele, Azevêdo amplia a capacidade de interlocução da entidade e demonstra a crença no multilateralismo.
Agora vai
Carvalho está otimista quanto ao acordo Mercosul-UE. “Acho que sai ainda este ano.” Para ele, questões envolvendo o desmatamento, um entrave para os europeus, deverão ser superadas. Sobre Javier Milei, presidente eleito na Argentina, diz que o discurso do então candidato na campanha ficou para trás e não espera resistência do país ao acordo.
Mecanismo de proteção de florestas valerá para agro
A vegetação preservada em áreas produtivas será inclusa na proposta de mecanismo global de financiamento para proteção de florestas, apresentado pelo Brasil na COP-28, diz André Lima, um dos secretários do Ministério do Meio Ambiente. Produtores devem receber pela área que poderiam desmatar, mas que mantêm em pé.
Fávaro não vê mais entraves ao acordo Mercosul-UE
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, conta com a formalização do acordo Mercosul-UE no encontro dos blocos no Brasil esta semana. Ele avalia que a lei antidesmatamento europeia não trava mais a discussão. “Acho que isso foi compreendido pela UE e o acordo deve ser ratificado ainda neste ano”, diz./Isadora Duarte, Audryn Karolyne e Jane Miklasevicius
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