BRASÍLIA - O governo Jair Bolsonaro trocou o diretor de Governança dos Correios, mantendo a influência dos militares na administração da estatal. Na segunda-feira, 9, tomou posse o general de brigada José Eduardo Leal de Oliveira. Ele substitui o general de divisão Celso José Tiago, que chegou a exercer a presidência dos Correios interinamente.
A mudança ocorre no momento em que avança no Congresso o projeto que permite a privatização dos Correios. A Câmara aprovou o texto na última quinta-feira, 5. Agora, o texto será analisado pelo Senado.
A empresa é presidida pelo general Floriano Peixoto Vieira Neto e tem, ainda, o general Danilo Cezar Aguiar de Souza como diretor de administração. Ambos são egressos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).

Antes da ascensão de Floriano, a presidência dos Correios foi exercida pelo também general Juarez Aparecido de Paula Cunha. O militar foi demitido após ser acusado por Bolsonaro de ter atuado como "sindicalista".
O novo diretor de Governança passou à reserva do Exército em março. Leal de Oliveira foi subchefe de Operações do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.
No convite para a posse do novo general, a cúpula dos Correios apenas destacou que agradece o trabalho desenvolvido por Celso Tiago e desejou as boas-vindas a Leal de Oliveira. O Estadão questionou o motivo da troca, mas a estatal não se manifestou. Nesta quarta-feira, 11, disse apenas que o mandato de Celso José Tiago na Diretoria de Governança expirou em 6 de agosto deste ano.
A presença de militares em cargos civis mais do que dobrou no governo de Jair Bolsonaro. Segundo o mais recente levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), os fardados da ativa e da reserva passaram de 2.765, em 2018, para 6.157, em 2020. No mesmo período, o número de militares que ocupam cargos comissionados cresceu de 1.934 para 2.643.
Militares no governo
Os fardados também se destacam no primeiro escalão. Bolsonaro entregou alguns dos principais ministérios a egressos das Forças Armadas. A Casa Civil era do general Braga Netto, hoje ministro da Defesa. O general da ativa Eduardo Pazuello foi o ministro da Saúde mais longevo da pandemia, com cerca de 10 meses de atuação.
O general Luiz Eduardo Ramos é um dos principais auxiliares do capitão Bolsonaro. Recentemente, foi deslocado da Casa Civil para a Secretaria-Geral da Presidência.
Os militares têm, também, o tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes como ministro da Ciência e Tecnologia; o capitão do Exército Tarcísio Freitas, da Infraestrutura; o general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional; almirante da Marinha Bento Albuquerque, da pasta de Minas e Energia; e o capitão Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União.
A presença de membros das Forças Armadas no primeiro escalão do governo, sobretudo os da ativa, é motivo de frequente discórdia entre alas do militarismo. É que a atuação desses militares em cargos de natureza política acaba envolvendo a imagem das próprias instituições militares e as associando a erros dos ministros.
Eduardo Pazuello, ainda na ativa, é um dos principais alvos da CPI da Covid, assim como Braga Netto. O atual chefe da Defesa coordenou, na Casa Civil, o comitê de crise para enfrentamento à covid-19 e deve ser convocado para testemunhar aos senadores. A eficiência da atuação de ambos é atacada pelo TCU.