'Com onda de consolidação global, Bolsa terá de rever estratégia de crescimento'

Diretor-presidente da Bolsa também minimizou os efeitos da entrada de um concorrente para a BM&FBovespa no País e disse que o grande concorrente hoje é o BNDES

PUBLICIDADE

Publicidade
Por Vinícius Pinheiro e Guilherme Soares Dias

Edemir Pinto, diretor-presidente da BM&FBovespaA onda recente de fusões entre bolsas internacionais, especialmente a das Bolsas de Nova York e da Alemanha, deve fazer com que a BM&FBovespa reveja sua estratégia de crescimento. "Todas as estratégias mirando parcerias e crescimento terão de ser revistas", disse o diretor-presidente da bolsa brasileira, Edemir Pinto.O tema ganhou ainda mais relevância depois que o Wall Street Journal publicou nesta semana que a Nasdaq poderia fazer uma oferta pela Bolsa de Nova York, concentrando ainda mais as operações das grandes bolsas globais. Edemir também minimizou os efeitos da entrada de um concorrente para a BM&FBovespa no País e disse que o grande concorrente da bolsa hoje é o BNDES. Ele alertou para o que chamou de "risco regulatório", mas reiterou a confiança nas ações do governo para o mercado de capitais brasileiro. A seguir, os principais trechos da entrevista:Como a BM&FBovespa avalia essa tendência internacional de consolidação de bolsas?De fato, estamos experimentando na indústria de bolsas um grande movimento. Mas de todos os que ocorreram, a operação da Deutsche (Boerse, da Alemanha) com a NYSE (Bolsa de Nova York) de fato mexe com o setor. Eu tenho dito que todas as estratégias olhando parcerias e crescimento terão de ser revistas pelas bolsas. A operação quebra vários paradigmas, dá uma outra dimensão, então é o que estamos fazendo neste momento: analisando todas essas oportunidades e também revendo nossa estratégia de parcerias de forma global.O que está sendo reavaliado?Os mercados de capitais e derivativos agora não têm mais muro, cerca, nada. Os players são completamente globais, arbitram todas as bolsas ao mesmo tempo. Você tem de apostar cada vez mais em centros de liquidez e buscar suas parcerias focadas em montar esses centros de liquidez. No nosso caso, nós não temos de olhar para mercados amadurecidos e consolidados, e sim para mercados em desenvolvimento e que possam permitir à nossa bolsa e aos nossos participantes expansão no negócio. Os projetos de fazer parcerias com as bolsas na América Latina, principalmente aqui do Cone Sul, não mudam. O modelo vertical integrado, uma bolsa multiativos, passou a ser sonho agora de todas as bolsas. Quem não tem, vai atrás, o que não é o nosso caso. Nesse sentido, como andam as negociações para a dupla listagem com a bolsa de Hong Kong e a parceria com a bolsa de Xangai?Com Hong Kong estamos trabalhando, isso leva algum tempo, porque depende muito dos órgãos reguladores. Com Xangai, o acordo é mais genérico e tem evoluído. Já acertamos um segundo fórum em Xangai após o encontro realizado no Brasil no mês passado. Pode anotar aí: será na última semana de setembro deste ano, em Xangai.Aqui no Brasil existe a possibilidade de criação de uma bolsa concorrente. Como a BM&FBovespa pretende responder a essa possível concorrência?A concorrência aqui no Brasil já está prevista desde 2007, quando a CVM(Comissão de Valores Mobiliários) publicou a instrução que permitiu às bolsas brasileiras abrirem capital e já previa que qualquer instituição local ou estrangeira pudesse se estabelecer aqui como bolsa. Para nós, essa concorrência não assusta, é inclusive muito bem-vinda, porque se eventualmente alguém de fora vem para cá é porque também avalia, como nós avaliamos, o potencial desse mercado.A BM&FBovespa busca a popularização e tem o objetivo de atingir 5 milhões de investidores. Como andam esses projetos?De fato, nós temos essa meta para alcançar até o final de 2014. O projeto está baseado em pelo menos dois grandes pilares: o primeiro é o da educação financeira, levar o conhecimento a nossa população, principalmente o pequeno investidor. Apesar de o mercado de capitais brasileiro ter esse volume, tamanho e visibilidade, ainda está muito distante do cidadão. O segundo é ter no País a continuidade da estabilidade macroeconômica. Essas premissas também precisam acontecer, porque a renda per capita do brasileiro melhora.E com relação à quantidade de empresas listadas?Nós temos uma meta de aumentar em 200 o número de companhias listadas até 2014. Eu acho muito tímida essa meta, pelo potencial do País. E por que isso não acontece rapidamente? Você tem hoje um grande concorrente da bolsa, que é o BNDES. O banco é importante e fez o papel dele durante a crise financeira global, mas chega uma hora em que vai acabar chegando no limite. Por isso, nós esperamos que o governo tenha sensibilidade com o mercado de capitais, porque o risco regulatório pode levar esse mercado embora.O que exatamente preocupa a bolsa quando se fala em risco regulatório? É só o aumento do IOF (imposto sobre operações financeiras)?Quando o governo fala em conter a apreciação do real, o mercado fica preocupado com tudo. Ele pode fazer isso com medidas estruturais, de médio e longo prazo, e medidas de curtíssimo prazo. Essas nós tememos e trazem o risco regulatório para a mesa. E o que o governo vem com habitualidade fazendo é aplicando IOF. Fala-se também em limites de posição, até em margens diferenciadas na bolsa. Mas eu não acredito em nada disso.Por quê?Pelo que tenho conversado com o governo, o entendimento é de que o mercado de capitais é mola mestra nesse desenvolvimento do País, mas é preciso dizer isso. O mercado precisa ver essas políticas estruturais mais definidas pelo governo para tirar esse receio. Eu, ao contrário, estou na expectativa de que retire o IOF, principalmente no mercado de ações. E já fiz pedido nesse sentido ao ministro Guido Mantega, pelo menos para as aberturas de capital.Qual a expectativa para o volume de ofertas de ações este ano?Temos expectativa de que pelo menos entre R$ 50 bilhões e R$ 55 bilhões sejam conseguidos em aberturas de capital e follow ons (uma nova emissão de ações de uma empresa já listada) em 2011.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.