Com um pé dentro e outro fora

Seria viável a adoção de uma moeda paralela no interior da zona do euro?

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Por Redação
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Segundo estimativas feitas em 2012 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), qualquer moeda que a Grécia adotasse para substituir o euro perderia, em muito pouco tempo, 50% de seu valor. Os gregos veriam seu Produto Interno Bruto (PIB) encolher 8% e, com a disparada do custo das importações, a inflação chegaria a 35%. A confiança ficaria abalada e estaria instaurada a confusão — que seria ainda mais exacerbada pelos meses necessários a que uma nova moeda fosse posta em circulação. Isso tudo provavelmente se aplica ao momento atual, como se aplicava à situação de dois anos atrás.

Para o restante da zona do euro, as consequências sem dúvida seriam menos graves, mas não seriam desprezíveis. Os empréstimos oficiais concedidos à Grécia pelos demais países da eurozona, que somam quase € 185 bilhões (US$ 204 bilhões), teriam de ser contabilizados como prejuízo. Segundo o banco Barclays, o Banco da Grécia deve ao Banco Central Europeu (BCE) mais de € 125 bilhões, tomados para financiar saídas de capital (dívida com o “TARGET 2”, sistema de pagamentos interbancários utilizado pelos países da União Europeia ) e emitir dinheiro extra. Por fim, há os € 27 bilhões de títulos soberanos gregos nas mãos do BCE. O total chega perto de € 340 bilhões, ou seja, mais de 3% do PIB da zona do euro.

ParaAlexis Tsipras, primeiro-ministro grego, acordo sobre a dívida é possível Foto: ALKIS KONSTANTINIDIS

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Uma saída integral e definitiva parece tão ruim — tanto para a Grécia, quanto para os países da eurozona — que algumas alternativas vêm sendo examinadas. Em entrevista recente, Wolfgang Schäuble, ministro de Finanças da Alemanha, sugeriu que uma saída “temporária” da zona do euro talvez fosse a melhor opção para a Grécia. (A ideia chegou de fato a ser incluída pelos alemães, embora não tenha sido aprovada por todos os ministros de Finanças do Eurogrupo, no documento submetido à reunião de cúpula de que participaram os 18 chefes de Estado da zona do euro, além das lideranças do FMI, BCE e UE, realizada no domingo à noite.) Talvez não seja esta a alternativa que Schäuble tem em mente, mas a coisa poderia ser feita redenominando os ativos e dívidas internos da Grécia, incluindo os de seus bancos, em “dracmas novos”, e, ao mesmo tempo, mantendo suas obrigações externas em euros. Se o dracma novo fosse temporário, ou se fosse negociado como tal, esse arranjo talvez desse conta de manter a Grécia na área do euro.

Mantendo-se no Eurosistema (por meio do qual o BCE e os bancos centrais nacionais administram a zona do euro), o Banco da Grécia conservaria uma credibilidade que de outra forma se evaporaria. Isso daria mais poder de fogo à autoridade monetária grega para lutar contra a inflação galopante que certamente sobreviria à redenominação. A economia talvez não enfrentasse uma recessão tão violenta como do contrário fatalmente enfrentaria, e o dracma talvez conseguisse resistir com mais vigor à desvalorização. A perspectiva de um eventual retorno à zona do euro — é possível que os gregos venham a sentir falta daquilo que rejeitaram — seria um incentivo adicional para que o governo controlasse suas contas e introduzisse reformas a fim de viabilizar um crescimento mais acelerado da economia.

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Dessa maneira, também não haveria por que se preocupar com a eventualidade de que a Grécia tivesse de abandonar a UE, perdendo acesso ao mercado comum e a fundos de desenvolvimento regional. Não há mecanismos jurídicos que prevejam a saída de um país da zona do euro, mas não da UE, e alguns juristas consideram inviável esse sair-mas-continuar-dentro. Na prática talvez existam maneiras de contornar essa postura inflexível — e algumas delas vêm sendo examinadas em Bruxelas. Mas, se a Grécia deixasse apenas temporariamente a zona do euro, elas seriam desnecessárias; e haveria um problema a menos com que se preocupar.

Haveria vantagens também para os países credores. Pelo menos no curto prazo, eles seriam poupados das recriminações de que certamente serão alvo caso a Grécia seja forçada a sair da união monetária. Além do mais, uma saída temporária, ou apenas teoricamente temporária, significaria que um remendo provisório poderia ser aplicado às potenciais perdas. A dívida grega continuaria sendo impagável. Mas, de qualquer forma, o principal só teria de começar a ser pago no início da década de 2020. Além disso, se banco central grego continuasse fazendo parte do Eurosistema, suas dívidas com o BCE não precisariam ser contabilizadas como prejuízo.

A UE sabe que a saída da Grécia da zona do euro exigiria o envio de ajuda humanitária para cobrir custos com artigos essenciais, incluindo medicamentos vitais. Cálculos preliminares indicam que os gregos precisariam de € 1,5 bilhão para arcar com suas necessidades de curtíssimo prazo. Se uma solução intermediária tornar a Grécia mais estável, o valor da conta pode ser menor — ou uma mesma quantia pode significar ajuda maior. Além desse auxílio, a área do euro provavelmente terá de oferecer recursos para que a Grécia equilibre seu balanço de pagamentos. Mais uma vez, o montante necessário talvez seja relativamente limitado; a Grécia teve superávit em conta corrente em 2013 e 2014, o que representou enorme melhoria em relação ao déficit de 10% do PIB registrado em 2010, quando o país recebeu seu primeiro pacote de ajuda. 

A complexidade e a falta de credibilidade inerentes a essa tentativa de aliviar o impacto da saída da Grécia da zona do euro podem fazê-la parecer irrealizável. Talvez dê a impressão de ser — e nada garante que não venha de fato a ser — uma maneira de adiar, e não de evitar, o pior. Mas na história da crise da dívida grega o que não faltam são tentativas de empurrar o pior com a barriga. E essa postergação adicional tampouco seria algo de tão vergonhoso assim.

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