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Conceito do ESG ainda é confundido por empresas com ideia só de sustentabilidade

Especialistas dizem que debate sobre o papel das companhias na sociedade é antigo, mas ganhou contornos específicos recentemente

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Por Eduardo Geraque

A relação entre mundo real e as lições do ensino superior ajudam a explicar a gênese da sigla ESG e de todo o debate que as três letras geram nos últimos anos. Um primeiro passo, conforme discutido na sessão sobre Ensino Superior do Summit Estadão ESG, de 14 de junho, é a importância de diferenciar a sustentabilidade do universo ESG propriamente dito.

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“São duas ideias que surgiram a partir de propostas completamente diferentes”, afirma Annelise Vendramini, professora do mestrado da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Na visão da pesquisadora, no primeiro caso, ou seja, o do uso do termo sustentabilidade, trata-se de um processo que vem se desenrolando há mais de um século. “A discussão ética sobre o papel das empresas na sociedade, de que não é apenas aquele de gerar recursos para os acionistas, vem desde 1900 aproximadamente”, diz a pesquisadora.

Um passo adiante culminou com os debates sobre responsabilidade social do setor privado e, mais recentemente, em um ponto de vista ainda mais abrangente. “Temos um outro elemento, agora, que é o seguinte: qualquer negócio gera impactos negativos e positivos. Portanto, faz parte do processo de gestão empresarial manejar os impactos para evitar os pontos negativos e melhorar os positivos, além da necessidade de se olhar para todas as partes envolvidas, uma vez que as empresas fazem parte da sociedade”, diz Annelise.

Segundo a professora da FGV, o tema ESG é algo que surgiu mais recentemente, na primeira década do século, dentro do contexto do mercado financeiro, meio que como um espelho do debate mais amplo sobre a sustentabilidade que ocorre na sociedade há mais tempo. “Neste caso, a ideia é como olhar para as questões ambientais, sociais e de governança durante as decisões de alocação de recursos financeiros, de gestão de portfólio e assim por diante.”

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Annelise Vendramini (à esq.), da FGV, José Eli da Veiga, professor da USP, Marcela Argollo, head do Programa de ESG na Revvo, e Priscila Borin Claro, professora do Insper.  Foto: Marcelo Chello/Estadão

Em relação à memória dos termos sustentabilidade e ESG, a reflexão apresentada por José Eli da Veiga, professor da USP, mostra como uma espécie de seleção natural pode ter operado nesse processo.

“A sustentabilidade é algo que surgiu nos anos 1970 como um sentimento, assim como a fraternidade, igualdade e felicidade já haviam surgido. Não é algo que você define. A ideia emerge dos debates entre empresários e pessoas mais interessadas na preservação ambiental”, afirma Veiga.

Gênese

A sigla ESG, ou pelo menos os alicerces desse conceito, podem ser atribuídos ao sociólogo britânico John Elkington, que em 1994 popularizou a ideia do Tripé da Sustentabilidade. Para ele, na época, havia os chamados 3Ps (pessoas, planeta e prosperidade) que deveriam nortear qualquer plano de negócio privado. “O ‘p’ da prosperidade, hoje, pode ser trocado pela questão da governança”, diz Veiga.

O próprio Elkington, em artigo mais recente, de 2018, afirmou que uma revisão da tese apresentada por ele no fim do século passado é necessária. E que talvez o agora universo ESG, sigla pinçada entre vários outros termos equivalentes na última década e que veio para ficar, precise ser realmente levado a sério, sob pena de o planeta sucumbir.

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“Existe a necessidade de uma espécie de recall”, brada o pensador britânico, referindo-se aos anos 1990, quando os debates socioambientais ganharam mais peso. “Espero que daqui a 25 anos possamos olhar para trás e apontar para hoje como o momento em que se começou a trabalhar em direção a uma tripla hélice que ajudou a criar valor, ou uma espécie de código genético para o capitalismo do amanhã, estimulando a regeneração de nossas economias, sociedades e biosfera”, escreveu Elkington no artigo “25 Years Ago, I Coined the Phrase: Triple Bottom Line. Here’s Why It’s Time to Rethink It” (Há 25 anos, eu criei o conceito: resultado triplo. Agora é hora de repensá-lo, em tradução livre).

Ideias Assentadas

Se dentro das salas de aulas existe uma busca efervescente para se saber mais sobre ESG, fora também há um consenso de que se trata de uma área em total construção, onde o que vale hoje talvez não fique mais em pé amanhã.

“Todos querem saber mais, até porque as pessoas estão meio perdidas. A sigla representa um sistema com vários conjuntos. Mas um dos pilares essenciais deles é a expansão da consciência humana”, afirma Marcela Argollo, head do programa de ESG na Revvo e na plataforma AAA, além de criadora do método Alinhar-se de liderança regenerativa.

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Qualquer que seja a forma de se abordar o universo ESG e, no Insper, segundo a professora Priscila Borin Claro, a busca por formação viveu uma explosão em uma década – a ponto de que hoje os alunos de graduação tem 21 disciplinas eletivas relacionadas ao tema disponíveis na grade – existem três linhas mestras que precisam ser consideradas.

“O pensamento de longo prazo. Visão voltada para os stakeholders e a própria questão do triple bottom line. Não é mais, mesmo, só olhar para os resultados”, afirma Priscila, atual coordenadora do Centro de Estudos de Sustentabilidade e Negócios do Insper. “As empresas estão mudando o nome de suas áreas de sustentabilidade para ESG em uma tentativa de dialogar melhor com o mercado investidor. Pode ser que no futuro tudo mude. Mas, hoje, sustentabilidade e ESG são coisas diferentes”, afirma a pesquisadora.