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Conselho da Vale deve decidir futuro de CEO até a próxima terça

Uma reunião do conselho de administração da mineradora deve ser convocada para avaliar a permanência de Bartolomeu e o desempenho da empresa sob sua administração

Foto do author Cristiane Barbieri
Atualização:

RIO - A permanência de Eduardo Bartolomeo na presidência da Vale deve ser decidida até terça-feira, 30, com a convocação de uma reunião extraordinária do conselho de administração da mineradora (CA), segundo fonte familiarizada com o processo ouvidas pelo Estadão/Broadcast. Nesse encontro será analisado, a partir de um amplo estudo, o desempenho do executivo frente à mineradora. Nos últimos dias, o governo intensificou a pressão para colocar Guido Mantega na função, com o ministro Alexandre Silveira ligando diretamente para acionistas para defender o indicado de Lula.

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Antes da convocação da reunião extraordinária do conselho, porém, haverá mais um passo no desenlace da saga na sucessão da Vale, com a análise, pelo Comitê de Pessoas e Remuneração, desse estudo sobre a gestão Bartolomeo, elaborado pela firma de headhunter Vila Nova Partners, de São Paulo. O documento será entregue nesta quinta, 25, e deverá ser debatido num encontro do comitê, que é um dos colegiados de assessoramento do conselho, composto por 4 dos 13 integrantes do CA.

Segundo apurado pelo Estadão/Broadcast, a consultoria realizou várias rodadas de conversas com executivos e os próprios conselheiros sobre a efetividade na execução, por parte de Bartolomeo, das estratégias determinadas para a companhia. Também se debruçou sobre outros indicadores de desempenho da Vale. Procurada pelo Estadão/Broadcast, a firma não quis se manifestar.

O sócio fundador da Vila Nova Partners, Fernando Carneiro, tem 23 anos de experiência como headhunter e sua principal área é a sucessão de CEOs. O Estadão/Broadcast apurou que Carneiro já fez outros trabalhos para a Vale nos últimos 20 anos e tem conhecimento profundo dos processos e entranhas da companhia. Conhece há vários anos Eduardo Bartolomeo, que, antes de se tornar CEO, foi diretor executivo da Vale entre 2004 e 2012 e entre 2018 e 2019.

O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeu, participa de evento em Londres, Reino Unido  Foto: Matt Writtle/Vale

Digestão e oposição

Com o estudo da Vila Nova Partners digerido, o Comitê de Pessoas deve levar uma recomendação ao conselho de administração, que tem até o fim do mês para anunciar sua decisão soberana. Como na quarta-feira já há uma reunião ordinária marcada, que não tem esse tema na pauta, seria chamado um encontro extra até terça-feira.

O Comitê de Pessoas é formado por dois conselheiros vinculados a acionistas e dois independentes. Os indicados são o executivo Shunji Komai, do conglomerado japonês Mitsui, segundo maior acionista, com 6,3% do capital, e João Fukunaga, presidente da Previ, principal acionista individual da Vale (10% em participação direta e indireta). De acordo com informações de bastidores, a Previ é crítica à gestão de Bartolomeo. A entidade, porém, não comenta o assunto. O Mitsui tampouco se manifestou.

Os conselheiros independentes no comitê são Manuel Lino Silva de Souza Oliveira, Ollie, e Luiz Henrique Guimarães, ex-CEO da Cosan, cotado para o posto de CEO no lugar de Bartolomeo, conforme interlocutores. Ollie é “lead independent director” (LID), que representa os conselheiros independentes.

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Guimarães foi indicado por Rubens Ometto, dono da Cosan e de 4,9% do capital da Vale. É considerado “independente” porque a participação do empresário na mineradora não chega a 5%, nível a partir do qual os acionistas são nomeados “de referência”. Seu nome surgiu, há meses, como possível sucessor de Bartolomeo. O fato de ter deixado o cargo de CEO da Cosan alimentou ainda mais os rumores.

Fachada da Sede da Vale no centro do Rio de Janeiro, mineradora multinacional brasileira e uma das maiores operadoras de logística do país Foto: Fabio Motta/Estadão

Decisão soberana

Os 13 membros do conselho, inclusive os quatro que pertencem ao Comitê de Pessoas, são livres para votar pela aprovação ou não da gestão de Bartolomeo, seja em linha com a recomendação ou de maneira contrária. “Uma decisão dessa magnitude (troca de comando da empresa) passará por todo o conselho, por mais que o Comitê de Pessoas tome um posicionamento”, diz uma fonte.

A percepção de fontes é que a avaliação de Bartolomeo tem melhorado tanto para o público interno quanto para o externo. Além de ele aparecer mais e ter mostrado com maior ênfase a importância da empresa para o País, houve maior articulação política em torno de sua gestão, de acordo com pessoa familiar à empresa.

Porém, afirma outra fonte ouvida pelo Estadão/Broadcast, o posicionamento de cada conselheiro - e a pressão que o governo tem feito sobre os acionistas que representam - só será conhecida na reunião extraordinária.

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“A governança da empresa é muito diferente da época do Roger (Agnelli, ex-presidente da Vale, destituído por pressão da gestão Dilma, em 2011), mas toda mineradora depende de sua relação com o governo, seja por meio de concessões logísticas ou dos licenciamentos ambientais. Outros acionistas também dependem dessa interlocução”, diz a fonte. “Seria necessário desmontar todas as normas de governança que estão em vigor, o que numa corporation teria uma repercussão internacional muito grande.”

Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, no início de dezembro, Eduardo Bartolomeo reforçou que deseja continuar no posto de comandante da mineradora.

Mas, caso o conselho decida que a temporada do executivo na Vale deva se encerrar, uma outra firma de headhunter - essa obrigatoriamente internacional - será contratada a fim de preparar uma lista tríplice com recomendações de executivos para preencher a vaga de CEO.

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No conselho

No maremoto de hipóteses que a sucessão da Vale proporcionou na semana passada, foi aventado que, se Guimarães entrasse nessa lista tríplice e se tornasse CEO ou fosse para um alto cargo executivo, abriria uma vaga no conselho de administração. Isso serviria para acomodar Mantega. Em meio aos rumores, o ministro Alexandre Silveira, de Minas e Energia, elogiou o ex-ministro - o que derrubou as ações da mineradora.

Porém, Mantega teria de ser aprovado pelos outros conselheiros - sendo que oito são independentes. Ele também poderia ocupar uma das duas vagas da Previ, que é ligada ao governo, no conselho. Além de Fukunaga, Daniel Stieler, ex-presidente da entidade, foi indicado e é presidente do colegiado. Um dos dois teria de renunciar ao mandato, que vai até abril de 2025, e a ideia não agrada a liderança da Previ, de acordo com fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast.

Governo Lula trabalha para colocar Mantega no conselho de administração da Vale Foto: Celso Junior/AE

Além disso, para indicar o ex-ministro a um assento no colegiado da Vale, seria preciso contornar as regras da própria Previ, que preveem um processo seletivo para a escolha de conselheiros das empresas nas quais investe. Segundo as fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, a primeira etapa, de inscrição dos interessados em fazer parte dos colegiados, foi encerrada na sexta-feira, 19, sem o nome de Mantega.

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