Depois de entrar em um Tesla Model S na semana passada, o presidente Trump prometeu comprar um. No dia seguinte, o apresentador da Fox News, Sean Hannity, disse que havia comprado um Model S Plaid para apoiar a empresa em dificuldades, afirmando que um Tesla “tem mais peças americanas do que qualquer outro carro fabricado em nosso país”.
Diante da oposição às táticas do Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk, conservadores proeminentes estão demonstrando apoio à empresa de carros elétricos liderada pelo bilionário. Eles esperam atrair um número suficiente de consumidores com a mesma opinião para compensar um boicote à montadora elétrica por parte de liberais e democratas ou de qualquer pessoa ofendida pelas ações de Musk.
Mas quão efetiva pode ser uma missão de resgate como essa? Os analistas dizem que ela pode ajudar, mas apenas até certo ponto.
Especialistas do setor automotivo afirmam que a fuga de compradores democratas da Tesla é tão significativa que, mesmo com o melhor discurso de vendas de Trump, seria difícil atrair clientes suficientes para preencher essa lacuna. Os analistas do JPMorgan preveem que a Tesla entregará o menor número de carros no primeiro trimestre em três anos.
“Quando você torna seu produto pouco atraente para metade do mercado, você não consegue aumentar suas vendas”, disse Alexander Edwards, presidente da Strategic Vision, uma empresa de consultoria e pesquisa automotiva.
Edwards vem pesquisando compradores de automóveis há décadas. Desde 2016, as pesquisas descobriram que os proprietários de carros elétricos tinham até quatro vezes mais probabilidade de se identificar como democratas ou liberais do que como republicanos ou conservadores. Entre os proprietários de Tesla, a diferença era consistentemente de dois para um.
A diferença diminuiu drasticamente até 2024. Este ano, com a queda nas vendas, um pouco mais de compradores da Tesla se identificam como republicanos do que como democratas, 30% contra 29%.
“Os democratas estão fugindo da marca e dizendo que não a considerarão no futuro, portanto, há naturalmente uma proporção maior de compradores republicanos e independentes”, disse Edwards.
Ele disse que os democratas começaram a perder o interesse na Tesla quando Musk comprou o Twitter, agora X, em 2022. Então, em julho passado, quando Musk apoiou publicamente Trump, a parcela de democratas que disseram que “definitivamente considerariam” um Tesla caiu pela metade.
De modo geral, cerca de 8% dos proprietários de automóveis agora considerariam definitivamente um Tesla, de acordo com as pesquisas de Edwards. Isso se compara aos 22% de cinco anos atrás, quando a Tesla frequentemente liderava as classificações de marcas de luxo que os compradores considerariam.
A queda nas vendas da Tesla, disse ele, “é atribuída principalmente, se não completamente, às declarações e ao comportamento de Elon Musk”.
A montadora não respondeu a um pedido de comentário.
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A Tesla continua sendo, de longe, a marca de veículos elétricos mais vendida nos Estados Unidos, com cerca de 44% do mercado, apesar de uma queda de 5,6% nas vendas nos EUA, para cerca de 634 mil carros em 2024, de acordo com a Kelley Blue Book. Muitos motoristas estão determinados a continuar com o pioneiro dos veículos elétricos, cujos carros podem percorrer centenas de quilômetros com uma carga e podem ser facilmente reabastecidos na ampla rede de carregamento da empresa.
Josh Anders, 44 anos, trocou um veículo utilitário esportivo movido a gasolina por um Tesla Model 3 em 2019. Morador de Fort Wayne, Indiana, ele ficou impressionado com a eficiência energética, a tecnologia e as necessidades limitadas de manutenção do carro. Ele logo trocou por outro e está prestes a receber o mais recente SUV Modelo Y.
“Ter um Tesla foi uma das melhores decisões que já tomei e continuo acreditando”, disse Anders. “Eu adoraria ter um Rivian R1S, mas não tenho dinheiro para isso. Sou um cara da tecnologia e adoro todos os recursos e inovações.”
Anders, pai de quatro filhos e diretor de criação de uma organização cristã sem fins lucrativos de música e artes, disse que é conservador e não se sente à vontade com boicotes.
“Elon não é perfeito, e a Tesla não é perfeita, mas é uma comunidade de sonhadores e realizadores. Aprecio uma marca que está constantemente ultrapassando os limites”, disse ele. “Não preciso que todas as empresas compartilhem minhas crenças. Só preciso que elas compartilhem o compromisso com o progresso.”
Ainda assim, os carros têm um longo histórico de se tornarem parte da briga política.
O Chevrolet Volt, um híbrido plug-in lançado em 2011 depois que a General Motors recebeu ajuda do governo federal, foi ridicularizado por alguns conservadores como o “Obamacar”. O Toyota Prius, que consome muito combustível, e o Hummer da GM, que consome muita gasolina, eram frequentemente elogiados e atacados por pessoas de extremos opostos do espectro político.
Isaac Seliger, proprietário de uma empresa e redator de subsídios em Scottsdale, Arizona, disse que tinha pouco interesse em veículos elétricos, embora seu filho, falecido recentemente, fosse um fã devotado da Tesla.
Seliger, que se descreveu como politicamente independente, disse que agora está determinado a comprar um Tesla, porque quer desafiar o pensamento de grupo e a polarização. Uma amiga lhe disse que deixaria de falar com ele se o fizesse.
“Como um ex-esquerdista e antiguerra, tudo isso me faz querer comprar um Tesla ainda mais”, disse Seliger, 73 anos. “Com certeza estarei fazendo uma declaração política. Mas se eu comprasse um Porsche Macan, isso também seria uma declaração, pois as pessoas o classificariam como um motorista de Porsche mais velho e detestável.”
Seliger acrescentou que achava as críticas a Musk exageradas.
“Então Elon era um herói da esquerda e agora é um nazista? Isso é uma loucura”, disse ele. “Ele me parece ser um cara inteligente que faz coisas excelentes.”
Para muitas pessoas que têm fé na Tesla e em Musk, as vendas da empresa e o preço das ações, que caíram cerca de 48% em relação à alta de dezembro, acabarão se recuperando. As ações subiram 12% nos últimos quatro dias de negociação.
Mas alguns especialistas automotivos dizem que a Tesla pode ter dificuldades porque a empresa não atualiza regularmente seus carros nem introduz novos modelos. Além disso, os carregadores da empresa, que antes só podiam ser usados pelos Teslas, estão abrindo acesso a quase todos os principais concorrentes, disse Loren McDonald, analista-chefe da Paren, uma empresa de dados de carregamento de veículos elétricos. E outros fabricantes de automóveis estão oferecendo novos modelos elétricos, muitas vezes com pagamentos mensais notavelmente acessíveis.
“Ele está perdendo rapidamente as vantagens em termos de alcance, tecnologia, valor e conveniência que levaram as pessoas à Tesla”, disse McDonald. “Para muitas pessoas, é hora de seguir em frente e tentar algo novo.”
É claro que a maioria dos compradores não escolhe carros com base na política. Mas a imagem de uma marca é importante. As vendas da Tesla caíram mesmo quando as vendas gerais de veículos elétricos nos EUA cresceram 7,3% em 2024, para 1,3 milhão. Edwards disse que Musk estava tornando muito fácil para as pessoas comprarem em outro lugar.
“As pessoas podem amar seu Hyundai, GM, Rivian ou BMW da mesma forma”, disse ele.
Mudança de comportamento se reflete nos números da Tesla
Os republicanos certamente compram carros elétricos, mas um número menor deles já se aventurou em modelos totalmente elétricos. Os Estados rurais, onde os republicanos superam os democratas, têm menos carregadores do que os Estados mais urbanos. Os dados da Strategic Vision mostram que os republicanos têm maior probabilidade de trabalhar fora de casa e estão menos dispostos a suportar inconvenientes como longas paradas para carregamento. E uma pesquisa do Pew Research Center de 2024 descobriu que mais republicanos do que democratas dizem que os veículos elétricos custam muito caro e são menos confiáveis do que os carros a gasolina.
Na área metropolitana de Nova York, o maior mercado de automóveis do país, os novos registros da Tesla caíram 13%, para 47 mil carros, em 2024, de acordo com a S&P Global Mobility. No mesmo ano, mais de 101 mil pessoas registraram um Tesla em Los Angeles, o segundo maior mercado, uma queda de 8%. Ainda assim, quase um em cada oito carros novos em Los Angeles era um Tesla. Na área da Baía de São Francisco, onde a Tesla foi fundada, quase um em cada cinco carros novos era um Tesla. Mas as vendas caíram 17%, para 54 mil carros.
Os consumidores da área de Houston compraram 12 mil Teslas. Mas os residentes da Bay Area compraram 4,5 vezes mais Teslas, em um mercado menor para carros novos em geral. Algumas áreas registraram grandes aumentos, incluindo Miami-Fort Lauderdale, onde as vendas saltaram 32%, para quase 23 mil carros, em 2024.
As vendas da Tesla também aumentaram acentuadamente em Salt Lake City, Las Vegas e St. Louis. Mas os ganhos da empresa nesses locais não conseguiram compensar as quedas mais acentuadas em áreas metropolitanas maiores e mais liberais.
Os especialistas dizem que os conservadores ricos, como Hannity e Trump, têm a renda disponível para fazer uma declaração automotiva pessoal ao optar por um Tesla. Mas talvez eles não consigam persuadir os americanos de posses mais modestas.
McDonald também observou que Trump e outros conservadores passaram anos difamando os carros elétricos, zombando das mudanças climáticas e criticando as políticas climáticas e automotivas do ex-presidente Joseph R. Biden Jr.
“A mensagem é inconsistente”, disse McDonald. “O cara do Arkansas que dirige uma picape Ram vai comprar um Tesla agora? Até que ponto você pode ir contra suas próprias crenças para apoiar Elon Musk?”
c.2025 The New York Times Company
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