As mudanças climáticas exigem adaptações em diversos campos da economia, e na construção civil não é diferente. No Brasil, os desafios ambientais vêm estimulando a adoção do Light Steel Frame (chapas de aço leves), um método que já está presente no País há mais de duas décadas, mas que sempre enfrentou a barreira do preço. Agora, com as demandas globais por sustentabilidade, começa a ter mais visibilidade.
O Light Steel Frame permite agilizar as obras e desperdiça menos material, em um canteiro mais limpo, ao utilizar chapas de aço leves e pré-fabricadas. Mas exige mão-de-obra especializada e tem um custo inicial que pode assustar, embora especialistas digam que esse peso no caixa pode ser diluído pela velocidade na obra (leia mais abaixo). O método é utilizado há décadas nos Estados Unidos e em outros países e chegou ao Brasil nos anos 1990. No entanto, apenas em 2022 foi alvo de regulamentações mais precisas por parte da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
É um método de construção a seco, em que um projeto é feito com antecedência por um profissional e encomendado a uma fábrica, que produz os materiais nas quantidades necessárias. Após a colocação das fundações e do piso, as placas de aço são “encaixadas” por uma equipe especializada, já levando em conta a parte elétrica e a hidráulica. Isolamento térmico e acústico funcionam normalmente.
Como as quantidades são definidas e fabricadas com antecedência, o desperdício de material é reduzido em relação às construções tradicionais de alvenaria, de cerca de 40% para em torno de 5%, segundo os especialistas. Além disso, o Steel Frame não precisa de água na maior parte do processo e requer menos energia.
“É necessário transportar para a obra apenas o que efetivamente vai ser usado, então tem economia de energia nesse sentido”, diz Manuel Martins, coordenador executivo do processo para a certificação da construção sustentável da Fundação Vanzolini. A velocidade da obra também é maior, o que significa construções finalizadas mais rápido.
O Steel Frame tem algumas limitações, como o tamanho das construções, que não podem passar de cinco andares - caso se deseje um prédio maior, é necessário combiná-lo com outro método. Todo o aço utilizado é galvanizado, ou seja, revestido com zinco, e em cidades litorâneas uma camada de revestimento maior é necessária, e isso precisa estar definido no projeto.
Em relação aos custos, o Steel Frame tem um custo maior, por conta da necessidade de contratação de uma equipe especializada para criar e aplicar o projeto. Dessa forma, o principal mercado para o Steel Frame é para casas de alto padrão, o que indica que os valores iniciais podem ser proibitivos para quem tem menos recursos.
Martins avalia que algumas razões para que o Steel Frame ainda não tenha “pegado” por aqui são a cultura e as necessidades do mercado. “Tem um pouco da tradição da engenharia no Brasil, que usa mais o concreto armado. Também não pegou muito pela altura maior dos edifícios, que acabam precisando de outros métodos para serem concluídos”, diz. Os custos e a falta de mão-de-obra especializada também são razões.
A vida útil da construção é parecida com a de uma de alvenaria convencional. Caso se decida pela demolição, é mais fácil reaproveitar o material que for gerado. Como informado pelo Centro Brasileiro de Construção em Aço (CBCA) ao Estadão, as chapas podem retornar aos fornos sob forma de sucata para se tornarem aço novamente.
Números
A produção de perfis de aço para o Light Steel Frame chegou a 34,1 mil toneladas em 2023, de acordo com pesquisa recém-divulgada pelo CBCA. O número representa um crescimento de 27,7% em relação às 26,7 mil toneladas produzidas em 2022, e é mais do que o dobro da quantidade de 2019 (14,6 mil toneladas). A capacidade produtiva foi de 86,8 mil toneladas.
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Apesar do crescimento, o Light Steel Frame fica atrás de outro método parecido, o drywall, que usa chapas de gesso - em 2023, a produção do drywall foi de 73,5 mil toneladas, com capacidade para 186,7 mil toneladas. O Light Steel Frame foi mais utilizado em construções residenciais (46,7%), comerciais (33,7%) e industriais (13,1%). Do total das construções residenciais, 87,3% foram para as que têm mais de um andar, e 12,7% para casas unifamiliares.
Mercado
No Brasil, o crescimento da utilização do Steel Frame é muito voltado para residências de médio e alto padrão. “Entendemos que é onde está o mercado que consegue trabalhar bem as vantagens do Light Steel Frame e colocar valor e custo benefício. No mundo do médio e alto padrão, tem uma descentralização maior de construtoras”, explica Rubens Campos, CEO da Espaço Smart, empresa que trabalha com o método e que considera atuar no mercado como uma “loja de casas”.
A EspaçoSmart também fornece cursos para formar profissionais que consigam trabalhar o método, que já tem até fila de espera. Alguns são online; outros em parceria com o Senac e pagos. Outras empresas que trabalham com o método também oferecem formações como maneira de ampliar a quantidade de pessoas qualificadas.
Obras comerciais também estão no rol de possibilidades. “Já fizemos ampliação de shopping com Steel Frame, já fizemos showroom, até aeroporto”, cita Celso Zaffarani, arquiteto e CEO da construtora Zaffarani. Ele cita a redução de tempo como a principal vantagem do método. “O investidor quer ver o retorno do investimento dele o mais rápido possível. Uma família que construa uma casa para sair do aluguel, consegue mais rápido”, menciona.
Esse ponto é citado por Martins, da Fundação Vanzolini, como positivo para programas governamentais de habitação. “Valeria muito a experiência de governo em conjuntos habitacionais, fazer tudo certinho e comparar com as construções tradicionais. Seria muito mais veloz para construir moradia popular com Steel Frame. Cabe ao Estado dar essa desbravada nessa área e falar ‘funciona, é viável’, ou demonstrar que não”, avalia. Campos, da EspaçoSmart, cita o Rio Grande do Sul como uma possibilidade, devido à necessidade de recuperação rápida após as enchentes.
A aposta entre empresas, associações setoriais e especialistas ouvidos pelo Estadão é no crescimento da utilização do método. “É um mercado nichado, de alto padrão, onde vem sendo mais conhecido. Hoje, 37% das vendas de casas que fazemos vem a partir de indicação de conhecidos. É como se fosse uma bola de neve”, projeta Campos.
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