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Desafios climáticos estimulam uso de método de construção que reduz desperdícios

Light Steel Frame, que usa chapas de aço pré-fabricadas e está presente no Brasil há mais de 20 anos, enfrenta a barreira do preço, mas ganha visibilidade com a busca de práticas sustentáveis

Foto do author Luis Filipe Santos

As mudanças climáticas exigem adaptações em diversos campos da economia, e na construção civil não é diferente. No Brasil, os desafios ambientais vêm estimulando a adoção do Light Steel Frame (chapas de aço leves), um método que já está presente no País há mais de duas décadas, mas que sempre enfrentou a barreira do preço. Agora, com as demandas globais por sustentabilidade, começa a ter mais visibilidade.

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O Light Steel Frame permite agilizar as obras e desperdiça menos material, em um canteiro mais limpo, ao utilizar chapas de aço leves e pré-fabricadas. Mas exige mão-de-obra especializada e tem um custo inicial que pode assustar, embora especialistas digam que esse peso no caixa pode ser diluído pela velocidade na obra (leia mais abaixo). O método é utilizado há décadas nos Estados Unidos e em outros países e chegou ao Brasil nos anos 1990. No entanto, apenas em 2022 foi alvo de regulamentações mais precisas por parte da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

É um método de construção a seco, em que um projeto é feito com antecedência por um profissional e encomendado a uma fábrica, que produz os materiais nas quantidades necessárias. Após a colocação das fundações e do piso, as placas de aço são “encaixadas” por uma equipe especializada, já levando em conta a parte elétrica e a hidráulica. Isolamento térmico e acústico funcionam normalmente.

Como as quantidades são definidas e fabricadas com antecedência, o desperdício de material é reduzido em relação às construções tradicionais de alvenaria, de cerca de 40% para em torno de 5%, segundo os especialistas. Além disso, o Steel Frame não precisa de água na maior parte do processo e requer menos energia.

“É necessário transportar para a obra apenas o que efetivamente vai ser usado, então tem economia de energia nesse sentido”, diz Manuel Martins, coordenador executivo do processo para a certificação da construção sustentável da Fundação Vanzolini. A velocidade da obra também é maior, o que significa construções finalizadas mais rápido.

Construção feita com Light Steel Frame: método permite maior velocidade de conclusão e limpeza no canteiro Foto: Divulgação / Espaço Smart

O Steel Frame tem algumas limitações, como o tamanho das construções, que não podem passar de cinco andares - caso se deseje um prédio maior, é necessário combiná-lo com outro método. Todo o aço utilizado é galvanizado, ou seja, revestido com zinco, e em cidades litorâneas uma camada de revestimento maior é necessária, e isso precisa estar definido no projeto.

Em relação aos custos, o Steel Frame tem um custo maior, por conta da necessidade de contratação de uma equipe especializada para criar e aplicar o projeto. Dessa forma, o principal mercado para o Steel Frame é para casas de alto padrão, o que indica que os valores iniciais podem ser proibitivos para quem tem menos recursos.

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Martins avalia que algumas razões para que o Steel Frame ainda não tenha “pegado” por aqui são a cultura e as necessidades do mercado. “Tem um pouco da tradição da engenharia no Brasil, que usa mais o concreto armado. Também não pegou muito pela altura maior dos edifícios, que acabam precisando de outros métodos para serem concluídos”, diz. Os custos e a falta de mão-de-obra especializada também são razões.

A vida útil da construção é parecida com a de uma de alvenaria convencional. Caso se decida pela demolição, é mais fácil reaproveitar o material que for gerado. Como informado pelo Instituto Aço Brasil ao Estadão, as chapas podem retornar aos fornos sob forma de sucata para se tornarem aço novamente.

Números

A produção de perfis de aço para o Light Steel Frame chegou a 34,1 mil toneladas em 2023, de acordo com pesquisa recém-divulgada pelo Instituto Aço Brasil. O número representa um crescimento de 27,7% em relação às 26,7 mil toneladas produzidas em 2022, e é mais do que o dobro da quantidade de 2019 (14,6 mil toneladas). A capacidade produtiva foi de 86,8 mil toneladas.

Apesar do crescimento, o Light Steel Frame fica atrás de outro método parecido, o drywall, que usa chapas de gesso - em 2023, a produção do drywall foi de 73,5 mil toneladas, com capacidade para 186,7 mil toneladas. O Light Steel Frame foi mais utilizado em construções residenciais (46,7%), comerciais (33,7%) e industriais (13,1%). Do total das construções residenciais, 87,3% foram para as que têm mais de um andar, e 12,7% para casas unifamiliares.

Mercado

No Brasil, o crescimento da utilização do Steel Frame é muito voltado para residências de médio e alto padrão. “Entendemos que é onde está o mercado que consegue trabalhar bem as vantagens do Light Steel Frame e colocar valor e custo benefício. No mundo do médio e alto padrão, tem uma descentralização maior de construtoras”, explica Rubens Campos, CEO da EspaçoSmart, empresa que trabalha com o método e quer ser uma “loja de casas”.

A EspaçoSmart também fornece cursos para formar profissionais que consigam trabalhar o método, que já tem até fila de espera. Alguns são online; outros em parceria com o Senac e pagos. Outras empresas que trabalham com o método também oferecem formações como maneira de ampliar a quantidade de pessoas qualificadas.

Alunos durante um curso para formação em Light Steel Frame Foto: Divulgação / Espaço Smart

Obras comerciais também estão no rol de possibilidades. “Já fizemos ampliação de shopping com Steel Frame, já fizemos showroom, até aeroporto”, cita Celso Zaffarani, arquiteto e CEO da construtora Zaffarani. Ele cita a redução de tempo como a principal vantagem do método. “O investidor quer ver o retorno do investimento dele o mais rápido possível. Uma família que construa uma casa para sair do aluguel, consegue mais rápido”, menciona.

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Esse ponto é citado por Martins, da Fundação Vanzolini, como positivo para programas governamentais de habitação. “Valeria muito a experiência de governo em conjuntos habitacionais, fazer tudo certinho e comparar com as construções tradicionais. Seria muito mais veloz para construir moradia popular com Steel Frame. Cabe ao Estado dar essa desbravada nessa área e falar ‘funciona, é viável’, ou demonstrar que não”, avalia. Campos, da EspaçoSmart, cita o Rio Grande do Sul como uma possibilidade, devido à necessidade de recuperação rápida após as enchentes.

A aposta entre empresas, associações setoriais e especialistas ouvidos pelo Estadão é no crescimento da utilização do método. “É um mercado nichado, de alto padrão, onde vem sendo mais conhecido. Hoje, 37% das vendas de casas que fazemos vem a partir de indicação de conhecidos. É como se fosse uma bola de neve”, projeta Campos.

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