O consumo, que surpreendeu no ano passado ao puxar o crescimento do País e era considerado o motor da retomada em 2018, perdeu fôlego. O desemprego, ainda elevado, já vinha segurando os gastos das famílias, mas a greve dos caminhoneiros piorou o cenário, minando a confiança de empresários e consumidores. Eles reduziram a intenção de ir às compras e de fazer financiamentos. Nas lojas, o número de mercadorias encalhadas aumentou.
Nas últimas semanas, economistas cortaram suas projeções para o crescimento do consumo em 2018. No relatório de junho, o Banco Central reduziu de 3% para 2,1% a projeção de alta para os gastos das famílias no ano. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também reviu a previsão: de 3,4% para 2,3%. A consultoria MB Associados reduziu de 3,5% para 2,6% a expectativa de crescimento do consumo. A mesma redução foi feita pela GO Associados.
Sozinho, o consumo das famílias representa mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) e seu enfraquecimento pode comprometer a retomada econômica. “O mercado doméstico tem o maior peso na recuperação e de fato há uma expectativa pior sobre ele agora”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. O consumidor, diz, tende a ficar mais ressabiado, especialmente com o risco eleitoral no segundo semestre.
Segundo Nicola Tingas, assessor econômico da Acrefi, que reúne as financeiras, a greve dos caminhoneiros “acendeu uma luzinha amarela e o conjunto do ambiente econômico reforçou o sentimento de cautela”. Ele diz que a procura de crédito para financiar produtos de maior valor parou, o que levou as empresas do setor a cortarem a expectativa de alta na demanda de crédito de 7% para 5% neste ano. Em 2017, a alta foi de 5,2%.
Para o diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira, o que está travando o crescimento do varejo e do consumo é o elevado custo do crédito para empresas e consumidores. “O que impede o maior dinamismo do comércio neste ano é a redução modesta dos juros ao consumidor.”
Dados do BC mostram que, entre dezembro de 2016 e maio deste ano, os juros básicos caíram mais de 50% e a taxa ao consumidor teve um corte bem menor, de 25%. “A redução dos juros para as pessoas físicas é marginal em relação à redução da taxa básica de juros”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Apesar de o cenário jogar contra uma alta mais acelerada do consumo das famílias, economistas apontam alguns fatores que podem trazer alívio no orçamento. Entre eles, estão a devolução do PIS/Pasep e a indenização dos bancos a poupadores que tiveram perdas com planos econômicos. Em conjunto, devem injetar R$ 50 bilhões na economia.
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