São Paulo, 15/02/2023 - O economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, avaliou hoje que o grande debate econômico no Brasil neste momento não deveria ser a revisão das metas de inflação.
Ele apontou que hoje não há clareza sobre a trajetória da dívida, que precisa de um superávit primário de R$ 200 bilhões para parar de subir, ao mesmo tempo em que as propostas de aumento de gastos, como salário mínimo e salários de servidores, geram incertezas sobre como será o ajuste fiscal.
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“Há poucos meses atrás, estávamos discutindo quando o Banco Central iria cortar juros”, afirmou Mansueto. Ele acrescentou que não foi por culpa do BC, mas, sim, da falta de sinalização de como a dívida publica será controlada, a desancoragem das expectativas de inflação até 2026. “Não vamos colocar a culpa no Banco Central, que não decide aumento de gasto público.”
Mansueto diz que um ajuste pelo lado das receitas demandaria um aumento da já alta carga tributária em 3% do Produto Interno Bruto (PIB), ou o equivalente a R$ 300 bilhões. “Quem vai pagar essa conta? Por isso, fala-se tanto na necessidade de ajuste de despesa”, comentou o ex-secretário do Tesouro durante participação em evento online do BTG.
Ele avaliou que o mercado aceita a tendência de o País terminar este ano com déficit de 1,2% do PIB. O problema, continuou, são as incertezas sobre o que vem pela frente. “Qual é o déficit projetado para 2024 e 2025? Hoje, a gente não sabe”, assinalou Mansueto, ao falar da importância de o governo apresentar logo a nova âncora fiscal.
Segundo Mansueto, o BC, hoje alvo de ataques do governo, não foi um problema, mas sim um alívio, durante a transição. Ele observou ainda que o País não consegue dar isenção de imposto de renda para salários até R$ 5 mil, dado que isso representaria uma perda de arrecadação da ordem de R$ 100 bilhões.
“Se não tiver sinalização de controle fiscal, pode alterar meta e trocar presidente do BC 50 vezes”, declarou Mansueto.
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