Opinião | COP do Brasil perde sem o agro

O setor tem envergadura para se posicionar como líder em soluções sustentáveis e só precisa mostrar a verdade do que faz

PUBLICIDADE

Por Cesario Ramalho

O chefe da 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), embaixador André Corrêa do Lago, diz que a economia é amiga da natureza. Do mais elevado gabarito, técnico, egresso de família de diplomatas, Corrêa do Lago dá a segurança de que a sustentabilidade será tratada na Conferência do Clima considerando o tripé econômico, social e ambiental – e não só o último.

PUBLICIDADE

A agenda Trump antidescarbonização é um revés, já que se trata da maior economia do mundo, mas pode abrir oportunidades. Diante desta nova ordem internacional, o Brasil como um protagonista global de energia limpa e renovável – boa parte dela proveniente de bases agrícolas – pode passar a atrair novos investimentos para a transição energética, que antes da guinada dos EUA talvez não viessem para cá.

O agro brasileiro não pode ser coadjuvante do debate. Ao contrário, o setor tem envergadura para se posicionar como líder em soluções sustentáveis. Só precisa mostrar a verdade do que faz.

Sempre vale lembrar que nosso Código Florestal é uma das leis ambientais mais rígidas do planeta, prevendo, por exemplo, dispositivos de proteção como áreas de preservação permanente e Reserva Legal. O Brasil desenvolveu um eficiente e ambientalmente amigável modelo próprio de agricultura tropical ancorado em boas práticas, que não encontra similaridade. Aqui, implantamos uma virtuosa combinação entre agricultura alimentar e energética, sem qualquer disputa por área.

Publicidade

O Brasil desenvolveu um eficiente e ambientalmente amigável modelo próprio de agricultura tropical ancorado em boas práticas, que não encontra similaridade Foto: Fabio Vinicius Pletka/Estadão

Sistema de plantio direto; integração lavoura-pecuária-floresta; fixação biológica de nitrogênio; duas, três, quatro safras num mesmo hectare; tecnologias de sequestro de carbono; uso cada vez mais intensivo de bioinsumos, como, por exemplo, ferramentas de controle biológico de pragas e doenças e fertilizantes verdes são ativos ambientais reais do agro brasileiro.

O desmatamento ilegal não é o modus operandi do setor, e a minoria que infelizmente ainda o pratica já sofre o repúdio do mercado e precisa acertar as contas com a lei.

Ao produzir commodities e produtos de alto valor agregado, o agro ascendeu ao posto de segmento mais competitivo da economia nacional, assegurando o abastecimento interno e gerando excedentes exportáveis, exatamente porque conquistou competitividade global, mesmo enfrentando ofensivas internacionais e desconstruções internas injustificáveis.

É a partir das entregas do agro que poderemos almejar um novo ciclo de reindustrialização. Grandes potências têm, ao mesmo tempo, indústria e campo fortes. É a engrenagem de desinformação acerca do agro que precisa ser interrompida.

Publicidade

Opinião por Cesario Ramalho

Produtor rural, coordenador do Conselho do Agro da ACSP, foi presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB)

Comentários

Os comentários são exclusivos para cadastrados.