BRASÍLIA - O quadro desafiador para a inflação exige restrição monetária maior e por mais tempo que em outros momentos, segundo a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, 25. “O cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”, diz o documento.
O colegiado ressaltou que as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se novamente em todos os prazos, indicando desancoragem adicional e tornando assim o cenário de inflação mais adverso.
“A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do comitê e deve ser combatida”, enfatizaram seus membros no documento, acrescentando que, na reunião da semana passada, foi ressaltado que ambientes com expectativas desancoradas aumentam o custo de desinflação em termos de atividade.
O Copom repetiu, na ata, que antevê um novo aumento “de menor magnitude” na taxa Selic no seu próximo encontro, de maio. A sinalização já constava no comunicado divulgado na última quarta-feira, 19. Na decisão, o Banco Central aumentou os juros em 1 ponto porcentual, de 13,25% para 14,25% ao ano.

O colegiado também reforçou que, a partir de maio, o tamanho total do ciclo será ditado pelo seu “firme compromisso de convergência da inflação à meta” e dependerá da evolução do cenário.
A elevação sinalizada pelo Copom em maio colocaria a taxa em ao menos 14,50%, o maior nível desde os 14,75% atingidos em julho de 2006, ainda no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mercado espera altas de 0,5 ponto porcentual em maio e de 0,25 ponto em junho, que levariam os juros a 15,0% no fim do ciclo de aperto, segundo o último relatório Focus.
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O Copom também repetiu as projeções de inflação que já haviam sido divulgadas no comunicado da última quarta-feira. O comitê espera que o IPCA atinja 3,9% no acumulado de 12 meses até o fim do terceiro trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária. A estimativa está acima do centro da meta, de 3%, e considera elevação de 3,8% para os preços livres e de 4,2% para os administrados.
O BC espera que o IPCA encerre 2025 em 5,1%, acima do teto da meta, de 4,5%. As estimativas consideram altas de 5,4% nos preços livres e de 4,3% nos administrados este ano.
Todas as projeções do BC partem do cenário de referência, com trajetória de juros extraída do relatório Focus e bandeira verde de energia elétrica em dezembro de 2025. A taxa de câmbio começa em R$ 5,80 e evolui conforme a paridade do poder de compra (PPC). Os preços do petróleo seguem aproximadamente a curva futura por seis meses e, depois, sobem 2% ao ano.
Ciclo não está encerrado
O Copom disse ainda que pretende diminuir o ritmo das altas da Selic a partir da próxima reunião, mas que o ciclo de aperto monetário ainda continuará. “O comitê, em sua comunicação, optou por conjugar três sinalizações sobre a condução de política monetária, caso se confirme o cenário esperado. Primeiramente, julgou que, em função do cenário adverso para a dinâmica da inflação, era apropriado indicar que o ciclo não está encerrado”, pontuou.
Ainda no trecho que tratou da discussão da condução da política monetária, o colegiado apresentou sua segunda sinalização: em função das defasagens inerentes ao ciclo monetário em curso, o comitê também julgou apropriado comunicar que o próximo movimento seria de menor magnitude. Além disso, completou que, diante da elevada incerteza, optou-se por indicar apenas a direção do próximo movimento.
“Na análise do comitê, o cenário se desenrolou de tal maneira que a indicação anterior de elevação de 1 ponto porcentual na taxa Selic se mostrava a decisão apropriada. Julgou-se que o aperto monetário era requerido para a convergência da inflação à meta em um cenário marcado por expectativas desancoradas, projeções elevadas de inflação e resiliência na atividade”, justificou sobre a alta de 13,25% para 14,25% do juro básico determinada na semana passada.
Parcimônia
Na ata, o Copom diz que o arrefecimento da economia é um ponto fundamental para que o Banco Central entregue sua tarefa de levar à inflação à meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). “O comitê segue avaliando que o cenário-base prospectivo envolve uma desaceleração da atividade econômica, a qual é parte do processo de transmissão de política monetária e elemento necessário para a convergência da inflação à meta”, enfatizou.
Os dados referentes aos últimos meses, conforme a ata, seguem oferecendo sinais sugerindo uma incipiente moderação do crescimento, em linha com o cenário-base do colegiado. “O comitê reforçou que alguns indicadores mais recentes, como de serviços, indústria ou população ocupada têm indicado moderação de crescimento após extraordinária resiliência no mercado de trabalho e na atividade econômica”, salientou.
O documento ressaltou que o Produto Interno Bruto (PIB), ajustado sazonalmente, cresceu 0,2% no último trimestre de 2024 na comparação com o trimestre anterior, após crescimento de 1,3% e 0,7% nos segundo e terceiro trimestres do ano, respectivamente. Na mesma base de comparação, conforme a ata, do lado da demanda agregada, houve redução do consumo das famílias, após uma sequência de 13 aumentos consecutivos.
Segundo o colegiado, dados de percepção, como indicadores de confiança e pesquisas de sentimento de crédito, têm sugerido uma desaceleração maior do que aquela observada nos dados objetivos. “Mais ainda, os dados objetivos coincidentes têm apresentado resultados mistos a depender do setor ou da pesquisa”, ponderou.
Sobre o mercado de trabalho, a cúpula do BC comentou que, além da volatilidade inerente aos dados, observa-se redução na margem da população ocupada, mas em ambiente de desemprego baixo e rendimentos elevados. “Ainda que dados recentes sugiram alguma moderação, o mercado de trabalho permanece aquecido”, concluiu.
O comitê se comprometeu a seguir acompanhando a atividade econômica e reforçou que o arrefecimento da demanda agregada é um elemento essencial do processo de reequilíbrio entre oferta e demanda da economia e convergência da inflação à meta. Já no parágrafo cinco, o documento pontuou que o cenário prospectivo de inflação segue “desafiador” em diversas dimensões.