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Haddad diz que juros já poderiam estar em queda, mas mercado vê cortes só a partir do 3º trimestre

Após reunião do Copom desta semana, analistas passaram a acreditar que queda da Selic pode demorar um pouco mais

Atualização:

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 5, que o Banco Central já poderia ter iniciado o processo de queda dos juros. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano, o que desagradou o governo.

“Acho que já poderíamos iniciar a recalibragem da taxa de juros”, disse o ministro, em entrevista à rádio CBN, ressaltando que respeita a institucionalidade do Banco Central. Segundo ele, a expectativa de inflação para 2024 já está muito moderada, após os esforços da autoridade monetária, o que seria um indicativo de que a queda já poderia ter começado.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em debate no Senado Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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Mas, após a reunião do Copom na última quarta-feira, o mercado financeiro está prevendo exatamente o contrário. Os analistas estão jogando mais para a frente - terceiro ou quarto trimestres do ano - o início do ciclo de queda.

Antes do Copom, 14% das instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast esperavam uma queda da Selic já na reunião de junho. Agora, apenas 6% (3 de 53 casas ouvidas) mantêm essa projeção. Por outro lado, antes da reunião de quarta-feira, apenas 6% esperavam que o ciclo de queda tivesse início em novembro, e esse número agora subiu para 19%.

Além disso, 21% acreditam que o BC só vai baixar os juros a partir do próximo ano. A maioria (54%) projeta o início da queda em agosto e setembro.

A mediana segue indicando juros em 12,5% no fim de 2023, repetindo o resultado da pesquisa realizada antes da reunião de maio. As estimativas intermediárias para o fim de 2024 e para o fim de 2025 se mantiveram em 10% e 9%, respectivamente.

Mudança de posição

O Bank of America (BofA) foi um dos que mudaram de posição após a reunião do Copom desta quarta-feira. O banco - que esperava cortes dos juros já nesta reunião - postergou a previsão de início do ciclo de afrouxamento monetário para agosto. Também aumentou a projeção de Selic no fim de 2023, de 11% para 11,75%.

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“Dada nossa percepção sobre o estado da economia, efeitos defasados cumulativos do aperto monetário e deterioração do mercado de crédito, postergamos nossa projeção para o início de um ciclo de afrouxamento”, disse o BofA, em relatório.

No comunicado de quarta-feira, o BC fez uma menção positiva à apresentação do novo arcabouço, no sentido de que o risco fiscal diminuiu

Ariana Zerbinatti, sócia e economista-sênior da Buysidebrazil

Na consultoria Buysidebrazil, o comunicado do Copom também levou à postergação da projeção de começo de cortes na Selic de junho para agosto. De acordo com a sócia e economista-sênior da casa, Ariana Zerbinatti, o comunicado trouxe um tom mais duro do que o esperado, motivando a postergação, principalmente pela repetição do trecho de que o BC “não hesitará” em retomar o ciclo de altas da Selic para convergir a inflação à meta.

“Claro que apenas a exclusão desse trecho em um próximo comunicado, por si só, não significa que vai haver corte depois, mas a nossa expectativa é que, no comunicado da reunião de junho, essa menção não seja repetida”, disse a economista.

Para que o cenário de cortes ocorra a partir de agosto, a Buysidebrazil projeta que, até junho, o novo arcabouço fiscal esteja aprovado no Congresso, o que deve significar estabilização das expectativas de inflação, segundo Zerbinatti. “Já no comunicado de quarta-feira, o BC fez uma menção positiva à apresentação do novo arcabouço, no sentido de que o risco fiscal diminuiu”, afirma a economista.

Pressões políticas

Apesar de ter visto também o comunicado como mais “hawkish” (com tendência de alta dos juros) que o esperado, o economista do Modal Rafael Rondinelli não alterou a projeção de manutenção da taxa Selic em 13,75% até o fim do ano, com o começo do ciclo de cortes em janeiro do próximo ano.

“Esperávamos que o Copom não mencionasse mais a possibilidade de alta dos juros e ele não tirou essa menção, apenas fez uma leve mudança marginal, com a inclusão de ‘cenário menos provável’”, disse.

O economista avalia que o BC preservou nesta reunião, e deve manter à frente, o seu discurso “duro” de condução da política monetária para “reancorar” as expectativas de inflação, mesmo frente às pressões políticas. “Dada a conjuntura e a leitura atual, o BC não parece ter espaço para redução ainda este ano”, disse o economista, que espera a Selic terminando em 10,75% apenas no fim de 2024.

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Rondinelli não descarta, porém, que o começo do afrouxamento monetário aconteça já no final de 2023, nas reuniões de novembro ou dezembro, em um cenário alternativo do Modal, em que o BC faria dois cortes de 0,25 ponto porcentual em novembro e dezembro, com a Selic terminando o ano em 13,25%.