BC reduz taxa de juros em meio ponto pela 5ª vez, para 11,25% ao ano, e indica manter ritmo de corte

Manutenção do ritmo de corte já era amplamente esperada, conforme sinalização em dezembro; Copom mantém previsão de redução ‘de mesma magnitude’ nas próximas reuniões

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Foto do author Eduardo Rodrigues
Foto do author Célia Froufe
Atualização:

BRASÍLIA – Na primeira reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o plano de voo e reduziu pela quinta vez seguida a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, de 11,75% para 11,25% ao ano, em decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado.

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O colegiado, no primeiro encontro que reúne quatro membros da diretoria indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantém a projeção de um corte “de mesma magnitude” – ou seja, de 0,5 ponto – nas próximas reuniões e avaliam que “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Ao justificar a decisão de hoje, o BC disse entender que a decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta em 2024 e, em grau maior, em 2025. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o comunicado.

O Copom reafirmou no comunicado a importância de perseguir as “metas fiscais estabelecidas para a ancoragem (convergência para a meta) das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária”.

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Como mostrou o Estadão, a equipe econômica criou um “plano de guerra” de curto prazo para tentar reduzir o bloqueio no Orçamento em março e manter a meta de déficit zero nas contas públicas em 2024, desacreditada pelo mercado.

Ao repetir a mensagem de “cautela e moderação”, o Copom reafirmou que a conjuntura atual é caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com um cenário global desafiador.

“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, repetiu o BC.

Este foi o primeiro encontro do Copom com a participação dos novos diretores do BC indicados pelo presidente Lula: Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira, que tomaram posse no último dia 2. Já haviam sido indicados pelo presidente Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos.

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Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

Riscos na mira

Entre os riscos de alta para as expectativas de inflação, seguem uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada.

Já entre os riscos de baixa para as projeções inflacionárias, permanecem uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e a possibilidade de os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.“O Comitê avalia que a conjuntura, em particular devido ao cenário internacional, segue incerta e exige cautela na condução da política monetária”, repetiu o BC.

Conforme a sinalização dada no encontro anterior, em dezembro, a queda da Selic nesse ritmo já era amplamente esperada. Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, 63 das 64 instituições financeiras consultadas acreditavam que o Copom iria decidir por mais um corte de 0,50 ponto.

A expectativa de inflação do Boletim Focus deste ano variou para baixo entre os dois encontros do Comitê, mas as estimativas de prazos mais longos seguiram desancoradas. A mediana para a inflação de 2024 passou de 3,93% no último Copom, em meados de dezembro, para 3,81% na última divulgação, ontem. Já para 2025 e 2026, as estimativas ficaram estacionadas em 3,50%, também acima da meta contínua de 3%.

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Juro real

Mesmo com a nova baixa, o País segue em segundo lugar no ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 5,95% e continua apenas atrás do México (6,49%). Em terceiro, aparece a Colômbia (4,81%).

A média das 40 economias pesquisadas é de 0,69%. Até o Copom de dezembro, o juro neutro brasileiro, que não estimula nem contrai a economia – e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira –era estimado pelo BC em 4,5%, embora o mercado já considerasse uma taxa maior, de 5,0%.

Inflação

As projeções oficiais do BC para a inflação foram mantidas, conforme o comunicado. No cenário de referência, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC manteve a projeção do IPCA de 2024 em 3,5% e, para 2025, em 3,2%.

No cenário de referência, a autarquia atualizou no Copom as projeções para os preços administrados. Em 2024, a estimativa passou de 4,5% para 4,2%. Já em 2025, variou de 3,6% para 3,8%.

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Nesse cenário, o BC considera ainda que o preço do petróleo deve seguir aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passar a aumentar 2% ao ano na sequência. Também adota a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e 2025.

Cenário externo

O Copom avaliou que o ambiente externo se manteve volátil desde a última reunião, o que impõe cautela por parte de países emergentes.

“O ambiente externo segue volátil, marcado pelo debate sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e por sinais de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países”, diz o texto.

De acordo com o Copom, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados a promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho.

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Mais cedo, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, disse que março ainda é cedo demais para promover corte de juros na maior economia do globo, o que levou cautela às bolsas em Nova York.

Avaliação do mercado

O comunicado da reunião trouxe poucas novidades, em linha com o esperado, afirma o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual. Após o documento, que manteve as sinalizações do Banco Central de comunicações anteriores e não trouxe mudanças significativas no cenário, o economista reiterou a projeção de Selic em 9,5% no fim do atual ciclo de cortes.

Na avaliação do economista-chefe da XP, Caio Megale, há espaço para quedas graduais de juros e, portanto, de manutenção do tom do BC. “Não vemos nenhuma razão para BC mudar seu guidance de corte devagar”, afirmou. “O BC pode, de forma gradual e tranquila, ter mais segurança de que o juro vai de fato cair ao longo do tempo.”

Megale ressaltou ainda que a autoridade monetária tem de ficar de olho nos preços de serviços e em eventuais impactos na inflação de custo da pressão sobre valores de fretes devido à tensão no Oriente Médio./Colaboraram Marianna Gualter e Mateus Fagunes

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