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Maioria do mercado aposta no fim dos cortes da Selic e quer decisão unânime para conter ruídos no BC

Comitê de Política Monetária do Banco Central deve manter a Selic em 10,5% nesta quarta-feira

Foto do author Alvaro Gribel

BRASÍLIA – Depois de sete quedas consecutivas, o Banco Central deve manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano na reunião do Copom que começa nesta terça-feira e termina na quarta-feira à noite. Essa é a aposta majoritária do mercado financeiro, embora algumas poucas casas ainda apostem em uma redução adicional, de 0,25 ponto, para só então a Selic parar de cair. A decisão ocorrerá após a escalada das críticas do presidente Luiz Inácio da Silva ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, em entrevista à rádio CBN na manhã desta terça-feira.

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Do ponto de vista do mercado financeiro, mais importante do que a parada ou esse corte adicional, explicam os economistas, é que a decisão seja unânime – depois da forte divisão da reunião de maio. Na ocasião, cinco diretores herdados do governo Jair Bolsonaro votaram pela redução da Selic em 0,25 ponto, enquanto os quatro indicados por Lula votaram pela queda maior, de 0,5 ponto.

O placar levantou suspeitas de que poderia haver uma divisão política dentro do Copom, o que contribuiu para a piora das expectativas. Desde a última reunião, no dia 8 de maio, o dólar saiu de R$ 5,08 para a casa dos R$ 5,40, acumulando uma alta de 6,2%. Além disso, a projeção para o IPCA do ano que vem, de acordo com o Boletim Focus, saiu de 3,64% para 3,80%, e para 2026 começou a subir, de 3,5% para 3,6%, após ficar estável por 46 semanas seguidas.

Brasília, 31/01/2024 - Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil. Foto: Raphael Ribeiro/BCB Foto: Raphael Ribeiro/BC

Segundo levantamento do Estadão/Broadcast feito no dia 7 de junho, 43 de 50 instituições financeiras consultadas apostavam na manutenção da taxa em 10,50% ao ano. Pelo Focus, a mediana das expectativas já aponta que a Selic chegará a dezembro em 10,50% – ou seja, sem novos cortes este ano.

Para o economista Sérgio Goldenstein, da Warren Investimentos, o Banco Central tem cinco motivos para interromper os cortes. Além da piora do dólar, do aumento das expectativas de inflação e da necessidade de recuperar a credibilidade, após o racha da última reunião, ele entende que houve um agravamento dos riscos fiscais e foram divulgados indicadores mais fortes de atividade e do mercado de trabalho – o que tende a pressionar a inflação de serviços.

“Acreditamos que o Copom sinalizará a necessidade de política monetária mais restritiva do que a projetada anteriormente. Uma decisão consensual pela manutenção da Selic no atual patamar é essencial para que o Copom reconquiste sua credibilidade, evidenciando o caráter técnico de suas decisões. Isso abriria espaço para uma posterior reancoragem, ainda que parcial, das expectativas de inflação”, afirmou.

Mesmo com a reunião entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta segunda-feira, para começar a tratar de uma agenda de cortes de despesas, o dólar voltou a subir 0,74%, para a casa de R$ 5,42.

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Eduardo Velho, estrategista-chefe da JF Trust, diz que o mercado e o Banco Central ainda vão esperar para ver o governo implementar a política de cortes de gastos.

“Afirmar que vai ‘observar espaço de remanejamento de gasto’ é uma coisa; cortá-los efetivamente e reverter a tendência de piora do déficit fiscal de 2024 e 2025 é outra – e avaliamos que tem pouca probabilidade de sucesso”, afirmou o economista.

Entre as casas que ainda acreditam em uma nova redução de 0,25 ponto está o Bank of America. Ainda assim, o corte adicional seria o último do ano, de acordo com o economista David Beker.

“A política monetária se mantém contracionista mesmo com a Selic caindo para 10,25%. Os juros reais em 12 meses permaneceriam próximos de 7,3%, muito acima da taxa neutra de 4,5% calculada pelo Banco Central. Enfatizamos a importância de uma decisão unânime, o que ajudaria o Banco Central a recuperar a credibilidade”, disse Baker em relatório.

Dilema de Galípolo

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A reunião do Copom representará um dilema para o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo. Ele é o principal cotado para assumir a presidência do Banco, no início do ano que vem, ao término do mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto.

O economista Luis Otávio Leal, da G5 Partners, explica que o mercado financeiro ainda desconfia que ele possa ser leniente com a inflação caso venha a assumir o Banco. Se votar como Campos Neto na decisão desta quarta-feira, passará confiança, o que ajudará a reduzir as expectativas de inflação. Por outro lado, pode desagradar o presidente Lula e também integrantes do PT – o que colocaria as indicações para a presidência sob risco.

“Para continuar cotado, Galípolo teria de votar contra a manutenção dos juros; porém, se fizer isso, reforça seu estereótipo de leniente com a inflação e, se Lula o escolher, corrobora a previsão de que o escolhido seria apenas um títere do presidente”, disse o economista.

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Esse dilema ficou ainda maior após os fortes ataques de Lula a Campos Neto. Lula afirmou que o atual presidente do BC tem lado político, e que os juros altos estariam prejudicando o seu governo. O gatilho para a escalda nas críticas foi a presença de Campos Neto em um jantar promovido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo.

Fed adia corte de juros

O cenário externo também tem forte influência sobre a decisão do Banco Central brasileiro. Se no final do ano passado as apostas eram por vários cortes de juros por parte do Fed, o BC americano, agora, o cenário mais provável passou a ser uma única redução, em dezembro.

Dados mais fortes de atividade por lá, assim como indicadores de inflação ainda longe da meta de 2%, adiaram o início da redução dos juros, que se encontram no patamar entre 5,25% e 5,50%. Os juros altos nos EUA por mais tempo atraem investimentos em renda fixa nos EUA e fortalecem o dólar globalmente. Isso contribuiu para a valorização da moeda americana em relação o real este ano.

Pelas contas do economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, as incertezas internas impulsionaram essa piora e foram responsáveis por mais da metade da alta do dólar sobre o real este ano, como mostrou o Estadão.

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