BRASÍLIA – O recado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central no comunicado desta quarta-feira, 6, foi de que a incerteza fiscal está pressionando preços de ativos e expectativas – e que, sem um pacote com medidas estruturais para resolver o Orçamento, esse prêmio de risco não vai se dissipar. Em outras palavras: os próximos passos da política monetária estão, agora, dependentes do pacote de corte de gastos que será anunciado pelo governo.
No quinto parágrafo, o BC voltou a dizer que monitora “com atenção” os impactos da política fiscal sobre preços de ativos e política monetária. O colegiado foi além e disse que uma política fiscal “crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal” vai contribuir para ancorar expectativas e reduzir prêmios de risco, impactando a política monetária.
O trecho que fala da “apresentação e execução de medidas estruturais”, além de ser uma novidade, conversa com o discurso que os membros do BC vinham adotando nas falas públicas pré-Copom.
Tanto o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, como outros diretores defenderam diversas vezes a necessidade de um “choque fiscal positivo” para atingir juros mais baixos. Campos Neto, inclusive, mencionou explicitamente o pacote de corte de gastos encampado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e em estudo pelo Executivo.
Pelo rito do BC, quem é o responsável pelo comunicado pós-Copom é o diretor de Política Monetária, ou seja, Gabriel Galípolo, que será o presidente da instituição a partir de janeiro e que é muito próximo do ministro Haddad. O próximo comandante do BC também ganhou a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Leia mais
O texto, portanto, não deve ser lido como uma afronta à equipe econômica, mas, sim, como um apoio do BC a Haddad nas reuniões que têm ocorrido no Palácio do Planalto sobre cortes de despesas e que vêm desgastando ministros – principalmente das áreas sociais – com o governo.
Resta saber agora se Haddad usará a mensagem do BC – que agora vem mais escancarada – para reforçar seu ponto de vista com o restante da Esplanada.
Praticamente todo o resto do documento foi uma cópia do comunicado da reunião de setembro, passando pelo desafio do cenário externo com incertezas nos Estados Unidos, inflação cheia e dados subjacentes rodando em alta e pressão da atividade e do mercado de trabalho.
O Copom mencionou que o ritmo dos próximos ajustes e o orçamento total de alta vai depender de vários fatores, que incluem o compromisso com a convergência da inflação à meta e o comportamento das expectativas.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.