Apesar da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 13,75% ao ano nesta quarta-feira, 3, a maioria dos analistas consultados pelo Estadão indica que um primeiro corte de 0,25 na taxa básica de juros do Brasil deve acontecer em agosto, como consequência de uma possível mudança na meta de inflação para 2023 em junho deste ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Com a redução da taxa dos juros em vista, segundo os analistas, a renda fixa perde atratividade, e os ativos de risco tendem a ser opções que voltam para o radar do investidor, considerando que ações de peso do Ibovespa estão com preços descontados.
Além disso, os especialistas defendem ainda que o clichê é sempre válido: antes de investir em um ativo, é preciso reconhecer o seu perfil de investidor e diversificar o portfólio. “O investidor deve acompanhar os ‘ventos do mercado’ e fazer ajustes quando necessário”, diz Lucas Eduardo Tereska, assessor e líder de SDR da Manchester Investimentos.
Os analistas lembram que, além da Selic, os investidores devem estar atentos à inflação. Outro ponto de atenção são as decisões do Federal Reserve (Fed), banco central americano, que podem contagiar o Brasil, já que, no mundo todo, a taxa básica de juros dos Estados Unidos é usada como balizadora para as dos outros países.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, a tramitação do arcabouço fiscal é um fator-chave para a queda dos juros. ”Caso o projeto aprovado não vá de acordo com as projeções do mercado, a expectativa é que os cortes sejam mais lentos”, afirma, destacando que é possível até mesmo que haja um adiamento do corte previsto para agosto.
Para os analistas consultados pelo Estadão, é provável que a taxa termine o ano entre 12% e 12,75%.
Renda fixa
Com a manutenção da Selic em 13,75%, os ativos de renda fixa continuam sendo uma boa aposta, apontam os especialistas. Um exemplo são os títulos públicos do Tesouro Direto, afirma o portfolio manager de alocação da Principal Claritas, Rodrigo Cabraitz. Para ele, o mais recomendável no momento são aqueles com vencimento de até cinco anos. “Temos títulos pagando IPCA+6% que achamos um prêmio relevante para carregar até o vencimento”, diz.
Segundo Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, os pós-fixados são interessantes mesmo em um eventual cenário de queda, mas a compra de prefixados está em um momento favorável. No entanto, é necessário ter mais cautela do que nos pós-fixados, devido às instabilidades do cenário político.
“Se o investidor for comprar um novo título só na queda, ele não vai estar na mesma taxa e pode ter prejuízo. Mesmo que sejam seguros, ainda há muito risco em relação ao arcabouço fiscal, e ao uso do BNDES. É um bom momento, mas com cautela”, diz Rachel.
Com a perspectiva de queda da Selic nos próximos semestres, ativos atrelados ao CDI vão passar a pagar menos. “Considerando essa curva de juros, IPCA+ ou prefixados de longo prazo tendem a se valorizar”, afirma Tereska, da Manchester Investimentos.
Além disso, há oportunidades interessantes em ativos de crédito privado, indica Lucas Serra, analista da Toro Investimentos. “Com a crise de crédito desencadeada pelos eventos com as Americanas e, posteriormente, com a Light, observamos que ativos com ratings bons passaram a ser negociados com prêmios interessantes.” São títulos que, em geral, apresentam fluxos recorrentes de pagamento de juros e amortização, e o investidor pessoa física pode se beneficiar da isenção de imposto de renda, complementa Serra.
Outra boa opção para o momento são os fundos de investimento em renda fixa internacional, afirma Rachel, da Rico. A estratégia é uma forma de se expor a uma moeda forte, como o dólar e o euro, sem precisar recorrer a uma corretora estrangeira e lidar com toda a burocracia.
Entre os principais produtos da renda fixa, o CDB 110% é o investimento que mais se destaca com rentabilidade real positiva, isto é, tem o maior retorno descontada a inflação, segundo cálculos do professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas Fabio Gallo. Em segundo lugar, estão as LCAs e LCIs 85%. O professor considerou a projeção da inflação de 6,05%, como consta do último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central.
Renda variável
Já a renda variável é um tema que divide a opinião dos analistas. Alguns apontam que, em meio a tantas incertezas em relação à política fiscal do governo, é difícil vislumbrar a renda variável como uma opção. Outros, no entanto, destacam que os investidores moderados e arrojados devem pensar em incluir investimentos de risco em seus portfólios visando a diversificação, independente do momento.
Os especialistas são unânimes em afirmar que uma possível retomada da atratividade da Bolsa de Valores tem relação direta com a parte fiscal e o controle de despesas do governo federal. Para eles, a partir do momento que o Executivo demonstrar comprometimento com estes assuntos, o mercado irá se recuperar.
“Precisamos ver se as medidas serão cumpridas caso o governo não entregue o resultado primário desejado”, diz Cabraitz, da Principal Claritas.
Rachel de Sá, da Rico, é de uma opinião similar, destacando que, em uma carteira diversificada, a Bolsa sempre terá um papel importante. Com isso em mente, a Bolsa de Valores do Brasil, a B3, é uma oportunidade para os investimentos.
Leia mais sobre Selic
“Uma reflexão é que a Bolsa brasileira está barata. Ações de boas empresas estão bem descontadas, uma boa opção para os investidores com perfil moderado e arrojado”, explica Rachel, que ainda defende que empresas de crescimento, as chamadas “small caps”, são boas opções.
Além disso, ela ainda indica que empresas que não estão ligadas a ciclos econômicos, que tenham suas receitas atreladas ao dólar e a commodities também são boas alternativas para o momento.
A economista ainda recomenda as famosas “blue chips”, que são empresas estáveis, que historicamente pagam bons dividendos. Para ela, uma alternativa para os investidores conservadores se exporem ao risco de forma controlada e ainda assim diversificarem os seus portfólios são com os fundos de investimento de renda variável ou os Exchange-traded fund (ETF), que têm como objetivo seguir um determinado índice, como o Ibovespa, por exemplo.
O analista da Toro Investimentos, Lucas Serra, é da mesma opinião. Ele destaca que a renda variável é uma oportunidade por estar com descontos significativos, mas é preciso ter prudência. “Estamos no momento de buscar investimentos em empresas mais consolidadas, líderes nos seus setores de atuação”, afirma, ressaltando que estes investimentos devem ter foco no longo prazo, pois no curto prazo podem haver “eventuais choques”.
Serra destaca ainda a importância de expor uma parcela da carteira de investimentos ao mercado internacional como uma proteção ao chamado “risco Brasil”. “A exposição a uma moeda forte, em geral, auxilia na redução da volatilidade da carteira como um todo. Além disso, pode ser um contrapeso a eventuais choques de curto prazo que venham a acontecer”, explica, afirmando que a compra de dólar pode ser uma estratégia interessante.
Outra opção atrativa são os Fundos Imobiliários, os famosos FIIs, que também se tornam mais atrativos em uma eventual queda. Neste cenário, os fundos de tijolo são opções para o investidor. “Dentro da classe renda variável, os Fundos Imobiliários de tijolo devem se beneficiar de um cenário de queda, uma vez que o mercado de imobiliário é bastante sensível aos juros”, diz André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP.
“Os fundos de tijolos podem ter o seu desempenho melhorado com a Selic em baixa, já que a taxa de juros menor pode estimular a compra de imóveis, aquecendo o mercado e potencializando os ganhos desses FIIs. Sobretudo, é importante avaliar fundo por fundo, pois cada um é diferente do outro e tem suas próprias características”, afirma Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.