O ministro Fernando Haddad anunciou na noite de ontem, em pronunciamento em cadeia nacional, o pacote de corte de gastos do governo. Os anúncios, que incluem entre outras coisas, mudanças na regra de valorização do salário mínimo e no acesso ao abono salarial. Mas também foram anunciadas novas regras para o imposto de renda, com isenção para quem ganha até R$ 5 mil e taxação extra para rendas superiores a R$ 50 mil.
O pacote foi anunciado de forma genérica, e deixou muitas dúvidas. Na manhã desta quinta-feira, haverá uma entrevista coletiva da equipe econômica para detalhar as medidas (acompanhe ao vivo abaixo). De acordo com Haddad, a ideia é que o pacote traga uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos, mas analistas do mercado expressaram dúvidas quanto à eficácia do que foi anunciado.
“O corte de despesas mostra a dificuldade política do governo em enfrentar a necessidade de revisão mais ampla dos gastos, incluindo programas sociais que tiveram crescimento acelerado e pro-cíclicos nos últimos dois anos”, disse a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória.
Ela calcula que as medidas anunciadas são insuficientes para zerar o déficit primário, estimado por ela em R$ 110 bilhões em 2025. Mais que isso, apontam também para um desafio político do governo. Há, contudo, medidas que vão em direção correta, ainda que insuficientes. Na visão de Vitória, entre elas estão a revisão do abono, a limitação do reajuste do salário mínimo e uso de emendas para cumprir o piso de gastos da saúde.
“Por outro lado, o anúncio da isenção de Imposto de Renda (IR) traz mais incerteza para a trajetória fiscal em 2026, e indica que o governo deve ter nova expansão fiscal no próximo ano eleitoral”, disse a economista.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, avalia que o aumento da tributação para quem tem renda superior a R$ 50 mil deve ser insuficiente para compensar a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. “Acho bem complicado, não me parece muito provável”, diz.
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