Vários analistas têm afirmado que bancos centrais da América Latina relaxarão a política monetária à frente, conforme a inflação perde fôlego. Na segunda-feira, 19, o Banco Central do Chile manteve a taxa básica em 11,25% ao ano, mas sinalizou que a reduzirá “no curto prazo” caso as atuais tendências sejam mantidas. Ontem, 21, o Banco Central do Brasil também deixou a porta aberta para iniciar o processo de afrouxamento da política monetária, mas não sinalizou data para cortar a taxa, hoje em 13,75% ao ano.
O Barclays diz, em relatório a clientes, que o BC do Chile deve iniciar o ciclo de redução das taxas na região, com corte de juros em julho, “seguido por Brasil e Colômbia em setembro”. O Peru deve ser o próximo da fila, com redução na taxa em outubro.
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O banco britânico disse ter revisto a expectativa para o caso peruano, pois antes esperava cortes já em julho, mas um choque na oferta e efeitos potenciais do fenômeno climático El Niño devem fazer a inflação perdurar mais que o esperado.
Já no caso do BC do México (Banxico), o Barclays diz esperar corte nos juros apenas em fevereiro de 2024, “diante da persistência do núcleo da inflação, de uma potencial reaceleração transitória da inflação mais para o fim deste ano e de um ciclo estendido de altas pelo Fed (o Federal Reserve, o banco central americano)”.
O Société Générale avalia que a perspectiva para a inflação e o enfraquecimento na demanda, bem como sinalizações recentes de dirigentes de bancos centrais, “parecem consistentes com cortes de juros no Chile e no Brasil muito em breve”.
Mas o banco francês também vê o Banxico ainda enfrentando quadro incerto na perspectiva inflacionária no médio prazo e também com a postura do Fed, com isso espera que no caso mexicano ocorra uma “extensão da pausa, sem mudança na postura neutra” da autoridade monetária. “Não esperamos que o Banxico corte juros em breve”, resume o Société Générale.
O BC mexicano decide os rumos dos juros hoje. A consultoria Pantheon concorda que deve haver manutenção da taxa básica, em 11,25% ao ano. Para ela, um corte poderia vir no fim do terceiro trimestre, com dirigentes mais convencidos de que continuará a trajetória de baixa da inflação.
A consultoria vê a economia do México mais resistente a uma eventual recessão nos EUA que em casos anteriores, mas acrescenta que ela deve sentir algum impacto pela perda de fôlego do vizinho, o que pressionará o Banxico a cortar os juros “mais cedo que o esperado”.
A Oxford Economics, por sua vez, acredita que o Banxico “estenderá sua pausa hawkish”, reafirmando postura dura para conter a inflação. Ela espera redução de 25 pontos-base nos juros em setembro, com mais cortes cumulativos até dezembro, levando a taxa básica a 10% no fim deste ano.
Já o Banco da República, o BC da Colômbia, tem sua próxima decisão no dia 30. No fim de abril, os dirigentes elevaram a taxa básica em 25 pontos-base, a 13,25% ao ano, mas houve divisão: quatro votos pela alta, dois pela manutenção e um por uma elevação maior, de 50 pontos-base.
Como no Brasil, o presidente Gustavo Petro se queixava em meados de maio, dizendo que o país cresce “apesar da política do Banco da República de elevar as taxas de juros”.
O caso da Argentina
Na Argentina, a inflação mostra muito mais fôlego, tendo superado a marca de 100% ao ano e ainda acelerando em leituras recentes. Em 15 de junho, o Banco Central da República Argentina (BCRA) decidiu manter a taxa básica, em 97% ao ano.
O governo do presidente Alberto Fernández tenta renegociar acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), enquanto enfrenta um quadro de fraqueza na atividade, dificuldades cambiais e uma eleição geral que se desenha difícil para a situação em outubro.
A consultoria Ecolatina lembra que o país fechou alguns dias atrás acordo para ampliar o swap cambial com a China, parte de uma série de medidas “que buscam fazer frente a um cenário de extrema fragilidade cambial, com as reservas líquidas do BCRA negativas em cerca de US$ 1,6 bilhão, o que limita cada vez mais a capacidade do governo de evitar uma desvalorização desordenada nos próximos meses”.
Para a Pantheon, a inflação ao consumidor na Argentina deve encerrar o ano em 140%, com queda de cerca de 4% do PIB real do país. A rápida expansão monetária e o enfraquecimento do balanço do BCRA “continuarão a fazer que a política monetária - taxas de juros aumentadas - seja inútil no futuro previsível”, diz a consultoria, acrescentando que “a turbulência da Argentina, portanto, continuará”.
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