Bolsa fecha em alta e dólar cai mesmo com discurso ambíguo de Bolsonaro

Presidente não contestou vitória Lula, mas também não a reconheceu explicitamente; com isso, Bolsa teve alta de 0,77%, enquanto dólar caiu para R$ 5,11

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Foto do author Luis Eduardo Leal
Atualização:

A primeira declaração de Jair Bolsonaro após sua derrota nas urnas e o anúncio de Aloizio Mercadante como coordenador da área econômica da transição de governo, segundo apurou o Estadão/Broadcast, acalmaram os ânimos dos investidores no fim da sessão da B3, a Bolsa paulista. Mesmo assim, o índice Ibovespa, principal referência para o País, encerrou o dia em alta de 0,77%, aos 116.928 pontos, e o dólar fechou o dia em queda de 0,92%, a R$ 5,11.

Mesmo com protestos ainda interrompendo ou prejudicando o tráfego nas estradas brasileiras nesta terça-feira, 1°, e os índices de ações em Nova York mostrando perdas na sessão, o Ibovespa manteve-se no positivo pelo segundo dia, começando a desanimar apenas depois do início do discurso de Bolsonaro, que foi considerado curto e pouco claro.

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Após as estatais terem sofrido muito na segunda, 31, os papéis do Banco do Brasil (ON +2,38%) e da Petrobras (ON +0,33%, PN +0,17%) tiveram alguma recuperação nesta terça-feira, em dia majoritariamente favorável às ações e aos setores de maior peso no Ibovespa.

Felipe Moura, sócio e gestor da Finacap Investimentos, analisa que a aversão a risco que parecia que atingiria a Bolsa após a eleição não se confirmou. “A percepção positiva surgiu ainda na noite de domingo, no exterior. À tarde, a atenção se voltou para o que Bolsonaro falaria, e se esperava algo mais direto do que veio.”

No campo oposto, aguarda-se a definição da equipe do novo governo, a começar pela economia, acrescenta Moura. “O mercado gostaria muito de ver alguém como Henrique Meirelles ou Pérsio Arida de volta ao governo, no comando da Fazenda, mas, mesmo que a opção não venha a ser por um técnico, mas por perfil político, não deve assustar tanto se o escolhido não diferir dos nomes já ventilados”, sugere.

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Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, acredita que a volatilidade tende a permanecer presente até que haja definições concretas sobre as políticas econômicas que serão adotadas pelo próximo governo, especialmente aquelas que impliquem maiores gastos, com foco no questionamento de como a conta será paga. “Investidores aguardam mais notícias sobre a composição ministerial do futuro governo e devem reagir a sinais sobre o nível de governabilidade de Lula após a posse”, observa.

Aloizio Mercadante será o líder da transição entre governos na área econômica Foto: Dida Sampaio / Estadão

Tendência de queda do dólar

Analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão aposta no dólar cotado a R$ 5 a depender de quem Lula indicar para o Ministério da Fazenda. “Os investidores estrangeiros gostaram da vitória de Lula e estamos vendo entrada de dólares desde ontem. O Brasil tem juros reais muito elevados e a taxa Selic só deve começar a cair no meio do ano que vem”, afirma.

Bloqueios de estradas pelo País

O risco de desabastecimento total em virtude da paralisação de caminhoneiros ainda é considerado baixo por grandes redes de varejo alimentar. O ponto mais sensível são os estoques de frutas, legumes e verduras, que, por serem muito perecíveis, não são estocados em quantidades robustas. Ainda assim, carregamentos recebidos no início da semana seriam suficientes no caso de as manifestações serem apaziguadas em breve, como é esperado.

Hoje, Carrefour Brasil (-2,88%) figurou entre as ações que cederam terreno na sessão, atrás de Cielo (-7,73%), Hypera (-3,74%) e Totvs (-3,17%).